Um- Pretensão

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Ambrosia

Era uma vez uma linda princesa, gentil e criativa...

Não. Não. Não!

Arranquei a folha do meu bloco de anotações rosa e a amassei, jogando-a no chão do meu enorme quarto.

Que tipo de princesa eu era se nem conseguia escrever 3 linhas sobre eu mesma na terceira pessoa?

Bem, talvez eu não fosse egocêntrica e narcisista à esse ponto. Isso era bom?

Acho que não, já que Lynda tinha conseguido escrever 20 páginas e agora metade de seu reino a amava abertamente e a outra metade em segredo.

E sim, Lynda era o nome da filha da Bela e da Fera. Sacou? Bela e Lynda. Quanta criatividade!

E sim, a ideia era escrever sobre eu mesma como se fosse outra pessoa e publicar no meu perfil, assim eu não seria mais a mal amada e tímida filha da Branca de Neve.

Mas como chamar atenção de um Príncipe quando se tem nome de um tipo de maçã?

Ambrosia. Am.bro.sia. AMBROSIA!

Que tipo de nome era Ambrosia?

Ouvi passos no corredor e me ajeitei na poltrona.

Arrumei o cabelo e a postura, pigarreei e sorri.

Uma princesa!

-Filha?- Minha mãe entrou no meu quarto, com a mesma cara que ela fez quando anunciou que ela e meu pai tinham se separado.

Ela usava um vestido azul, amarelo e vermelho, só que bem mais curto que o de anos antes. Seu cabelo preto e liso já batia na metade das costas e sua pele estava carregada de pó compacto para disfarçar que ela tinha ido à praia, não perdendo assim o título de A mais branca das terras encantadas- uma vez ela quase perdeu para a Aurora, que perdeu muita cor enquanto dormia. Ela chorou por quatro dias seguidos e fez tanto jejum que recuperou o título de lavada.

Olhando para minha mãe eu só conseguia pensar em uma coisa:

Por que eu não era bonita como ela?

Meu cabelo era castanho escuro, assim como meus olhos. Minha pele era pálida, mas não por ser filha da Branca de Neve, e sim porque eu não costumava sair muito de casa.

Na verdade eu só tinha uma amiga, uma camponesa chamada Anely, que era mais aclamada pelo público masculino do que eu. E eu era uma princesa!

Era um ultraje!

-Mãe?- Percebi que eu estava parada olhando para ela com cara de retardada, e ela nada dizia, o que era estranho porque minha mãe costumava falar mais que tudo.

Ela engoliu em seco e se sentou ao meu lado.

Notei olheiras negras embaixo de seus olhos e comecei a me preocupar de verdade.

-Filha...- Ela perdeu a coragem no meio da frase.

Da última vez ela tinha se separado do meu pai. O que seria agora? Ela tinha perdido um rim? Ou o castelo?

Ah! Será que ela tinha perdido o castelo?

Será que algum daqueles anões idiotas tinha feito mais uma besteira sem tamanho?

-Mãe, fala logo- Me virei para ela, com certa dificuldade graças ao meu enorme vestido amarelo.

E sim. Meu guarda roupa era todo composto por amarelo, azul e vermelho. Minha mãe só abrira exceção no meu aniversário de 15 anos, quando pude comprar meu vestido rosa- minha cor favorita.

Cadê Tu, Fada?Onde histórias criam vida. Descubra agora