Carregava uma zínia amarela e olhava para trás a cada minuto. Estava com medo mas, acima de tudo, com muitas saudades. Julia estava atrasada e, embora soubesse que ele não se importaria com a demora especificamente, estaria igualmente receoso sobre esse encontro.
— Me desculpa, estou atrasada. Estava procurando isso. — Esticou a flor fazendo-a tocá-lo a testa.
Theo recebeu o presente com ternura e abraçou a mulher.
— Vai ficar cada vez mais difícil encontrá-las se me trouxer uma a cada vez que vier me ver. — Julia sorriu revirando os olhos ligeiramente magoada, Theo queria poder evitar.
— Não é como se nos víssemos muito, não é? — Rebateu se separando do abraço, tentando desviar os olhos pra qualquer outro ponto do bosque. Pareciam bandidos, ou um casal em romance proibido. Aquilo estava errado. Estava muito errado.
— Eu não tenho culpa, Julia.
— Eu sei. Eu sinto muito.— O abraçou outra vez. Rodeou seu pescoço e precisou subir nas pontas dos pés para fazê-lo direito. Theo apertou sua cintura com força e, Julia pôde sentir a angústia de seu irmão. Pôde sentir seu coração tão descompassado quanto no dia que fugiu, tremia e ofegava. Se viam doze vezes ao ano, se comunicavam poucas vezes mais, o que para ambos era deveras insuficiente. Sentiam saudade, não era possível que se inteirassem da vida um do outro em algumas horas. — É que isso é tão cruel.
— Alguma novidade? — Ele sempre mudava de assunto quando ela começava a divagar. Se aquilo era cruel? Sim. Se tinham tempo para discutir isso? Não mesmo. Julia se deixava levar, os encontros eram sempre mais produtivos do jeito dele.
— Sim! Dessas que vão te deixar muito orgulhoso, tenho certeza.
— Você sempre me orgulha, Ju. — Acariciou-lhe o rosto com o polegar, a voz vacilando. — Todos os dias.
— Theo, você está muito estranho, não me assusta. — Julia segurou as mãos do irmão notando o quão geladas estavam. O viu girar a cabeça e repetiu o movimento, não havia ninguém. — Está tudo bem, nós estamos seguros.
— Vem.— A guiou mais adentro, quase no centro do bosque, onde não haviam trilhas e era íngreme. Os corajosos encarariam o trecho sem muitos problemas e, por isso, Theo sempre escolhia dias úteis, velhinhas e babás tendiam a ser mais cuidadosas. Mas sabia que completamente seguros, nunca. Velhinhas atléticas e babás irresponsáveis aumentavam por aí quase tanto quanto a ineficiência da polícia. — Eu só estou paranoico, não ligue. — Sentou no musgo a puxando pela mão, se encostou em um dos poucos exemplares de eucalipto e deitou Julia em seu colo. Como costumava fazer todos os dias e passou a se limitar a todos os meses.
Se limitaria ainda mais.
— Anda, e a novidade? — Afagava os cabelos longos e levemente enrolados da irmã, que conferiam a ela um ar bem mais jovial. — Desistiu de contar?
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Íris
General FictionO amor mata. Assim, na cara dura. Tem carinha de inofensivo, mas é muito do oportunista. E eis aqui um relato, onde o amor não é bem-vindo, é necessário e, mais que tudo, confuso. Onde a carência torna o amor de irmãos doente; O abandono, o amor de...