julye

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Tenho quarentena e oito anos, meu marido aos cinquenta anos continua um gato, estamos casados à trinta anos e nos amamos como no primeiro dia, temos dois filhos, eles são gêmeos, a Melissa e o Michel, ele é cinco minutos mais velho, quase não temos contato com ele, atualmente ele está vivendo na Alemanha, a mais de um ano não o vemos, já a Melissa está sempre presente, é muito apegada ao pai, nos liga sempre que não pode nos visitar, ela começou a morar sozinha durante a faculdade e acabou se acostumando, trabalha em uma revista, ela é formada em jornalismo, ela ficou três meses em Dakota do sul fazendo um curso de aperfeiçoamento, semana que vem será seu jantar de noivado, o Rodrigo parece muito apaixonado, mais não consigo gostar dele, pode ser implicância minha, mas, quando os vejo juntos tenho a impressão que ele tá sempre atuando, fingindo mesmo, ele quase nunca a beija, pode ser apenas impressão minha.
   Estava no jardim, cuidando das minhas tulipas, que são as flores preferidas da melissa, eram quase duas horas, senti uma dor no coração, difícil de explicar, tirei as luvas de jardinagem, entrei em casa, deitei no sofá, respirei fundo, peguei meu celular e liguei pro Michel, ele atendeu no segundo toque, conversamos por um tempo, falei sobre minha aflição, ele me garantiu que estava bem, mas também estava angustiado e tinha tentado ligar pra irmã, mas a ligação caia direito na caixa postal, disse que assim que desligase eu ligaria pra ela.
  Quando ia discar o número dela, o William entra na sala, ele estava pálido e com um leve tremor, ele apenas me disse que meu marido o mandou me buscar, pedi que aguardasse um instante.
  Tinha um péssimo presentimento, subi correndo as escadas, tomei uma ducha, pus um vestido cinza na altura dos joelhos, prendi o cabelo nunca coque frouxo, fiz uma maquiagem leve, um sapato confortável, peguei minha bolsa e desci o mais rápido que pude, William já me aguardava no carro, assim que ele parou em frente ao hospital, comecei a chorar copiosamente, entrei as cegas, na sala de espera vi Jhon abraçado a um homem que não conheço, os dois chorando como bebês, tentei reconforta los, e entre soluços e lágrimas me falaram da minha menina, abracei os dois, já era noite quando o médico veio nos dar notícias, William trouxe café pra gente, agradeci pelo café e dispensei seus serviços.
  Enchuguei meus olhos, assoei o nariz, respirei fundo três vezes e liguei pro Michel, no segundo toque ele atendeu. Oi filho,pausa, não, não ta nada bem, soluço, a Mel tá no hospital, soluço, sofreu um acidente, pausa e choro, nada bem, mais choro, no hospital do centro, esse mesmo, vô avisar, estaremos te aguardando, beijos querido, mais choro.
  Falei pro Jhon, que tinha ligado para o nosso filho, e ele estava a caminho, provavelmente chegará de madrugada, me ajoelhei e comecei a orar pra Deus poupar meu bebê precioso, era tudo o que podia fazer no momento.

Enquanto eu dormiaOnde histórias criam vida. Descubra agora