Capítulo único

41 10 13
                                    

- Caritativo. - ela disse, finalmente, mas com uma pontada de incerteza - Você é bem... caritativo.

Eu ri diante de quão obstinada Kate estava em achar uma palavra que me descrevesse. Eu a observava procurar e sua concentração era tanta que parecia ser quase palpável.

- O que isso quer dizer? - apoiei o cotovelo na cama e olhei para minha namorada, que estava sentada, encostada na parede enquanto revirava um dicionário gasto.

- Caridoso e bondoso. - ela parou para pensar. Balançou a cabeça, frustrada - Hm... não.

- Como assim? Claro que eu sou bondoso! - me sentei ao seu lado, seus olhos escuros me encarando por trás dos óculos de leitura.

- Mas essa palavra não é perfeita. Não é A palavra.

Coloquei o dedo indicador no queixo e pensei.

- Hm... então, que tal... atencioso? - beijei sua bochecha - Amoroso... - mais um beijo - Beijoqueiro... - dei uma risadinha e a trilha de beijos acabou em sua têmpora, fazendo a garota fechar os olhos e sorrir.

- Convencido se encaixa perfeitamente bem.

- O quê? - fingi estar indignado - Só estou falando verdades aqui! Não sou convencido.

- Aham, e eu sou a Britney Spears.

- Então que tal acharmos uma palavra para você também, Britney?

Kate suspirou, ainda com um vestígio de sorriso em seu rosto. Eu me afastei um pouco e a encarei, interpretando um olhar analítico como daqueles observadores de arte moderna.

A verdade era que eu não fazia ideia de como descrevê-la. Kate era uma mistura de controvérsias e aleatoriedades que às vezes me deixava confuso. Em certos dias a fruta favorita dela era morango. Em outros, era kiwi. Ela podia adorar caminhar no parque o quanto fosse, mas também podia ser a criatura mais preguiçosa que eu já vi. E não me pergunte como ela adora laranja, sendo que sempre diz que não usaria essa cor nem morta.

Kate me olhou, curiosa como um gato.

- Isso vai ser interessante. - ela disse.

Passei algum tempo pensando.

- Kate - comecei - você é a garota mais confusa que eu já conheci. - ela fez uma careta engraçada e eu sorri. Enquanto falava, encarava seus olhos, como se buscasse alguma inspiração. - Você é séria, mas também divertida, introvertida e muito teimosa. - comecei a brincar com um de seus cachos castanhos enquanto me aproximava mais. - É carinhosa. Bipolar de vez em quando - dou uma risadinha. - Linda... você é fascinante. Mas não existe uma palavra certa para te descrever. Você é só... Kate. A minha Kate. Minha única e favorita Kate.

Roubei-lhe um beijo rápido e ela apenas sorriu. Ela me abraçou e eu fechei os olhos, sentindo o cheiro adocicado de seu cabelo. Ficamos assim por alguns minutos, aproveitando a companhia um do outro.

Até que começamos a pegar no sono. Antes de dormir, aconcheguei-a para mais perto de mim, desejando que o tempo congelasse e nós ficássemos ali para sempre.

- Tony?

- Hm? - resmunguei, sonolento.

- Acho que encontrei uma boa palavra para você.

- Qual?

Minha namorada ficou alguns segundos em silêncio. Se aproximou e colocou a mão na minha bochecha, inspecionando meu rosto com os olhos. Ela estava tão perto que meu coração palpitava forte enquanto eu encarava seus lábios em forma de coração. Por fim, ela respondeu:

- Amor. A palavra é amor.

Então acabei com a distância entre nós e a beijei. Foi um beijo calmo, mas definitivo. Eu amava aquela garota. E nunca me senti tão feliz como naquele momento.

Apenas Uma PalavraOnde histórias criam vida. Descubra agora