Capítulo 3 - Realidade

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- Ok... até já. – As palavras de João embateram no som da chamada a desligar do outro lado, na sua cara, antes que se conseguisse fazer ouvir. Quase desejou ir antes a uma praia fluvial, igual aquela onde tinha acabado de ver Eduarda. Rapidamente, enfiou os mesmos calções de banho que usara no dia anterior, uma t-shirt lavada, e as havaianas velhas que usava todos os anos durante todo o verão. Recolheu a toalha de banho do estendal e enfiou-a na mochila, juntamente com as chaves de casa, o telemóvel e a carteira. Já ia sair quando se lembrou de voltar atrás e deixar na mesa da cozinha um bilhete telegráfico para os seus pais: "Não venho almoçar."

Assim que sai pela porta da frente, vê o Duster branco aproximar-se, com Antunes a conduzir e Diogo no banco do pendura.

- Hoje vais tu atrás! – Declarou Diogo, ainda mal tinham encostado o carro.

- Bom dia para ti também... - Respondeu João, sentando-se no banco traseiro.

- Não lhe ligues. Está chateado porque é camelo... Mandou vir o telemóvel da China porque era mais barato, e agora com gasóleo, mais o imposto na alfândega, vai ficar no mesmo preço. – Constatou Antunes.

- Ou mais caro... - Acrescentou João.

- Cala-te! Camelo és tu! – Respondeu Diogo, irritado. – Anda lá com o carro, a ver se nos despachamos.

- E a que praia vamos? – Perguntou João.

- Sei lá... à Costa? Já é na margem sul, demoramos menos depois para voltar para casa. – Sugeriu Antunes.

- Qualquer coisa. Mas primeiro, vamos buscar o meu telemóvel! – Diogo recordou os presentes do propósito daquela viagem.

Já na estrada, tornou-se impossível conversar. Antunes gostava de música, em especial de metal, e fez questão de ouvir o último álbum de Dream Theater em altos berros durante a viagem, grupo que Diogo também apreciava. João é que não achou piada nenhuma, pois contava dormir mais um pouco durante o caminho, visto que a noite tinha sido agitada. Agarrou-se ao telemóvel, com a ideia ver o mapa do caminho, pois não conhecia bem o sítio para onde iam. Iniciou a aplicação do GPS e encontrou a alfândega, encontrou a praia da Costa da Caparica, e lembrou-se de dar mais uma olhada junto à costa, do lado norte do rio Tejo. Tateando pelo mapa, vasculhando perto da região de Cascais, um nome saltou-lhe à vista, um nome que disse em voz alta mas que os outros, com o barulho da música, nem ouviram.

- Malveira da Serra? Concelho de Cascais? – Na primeira projeção que fez, recordava-se de ter visto o nome Silveira da Serra. Não era bem igual, mas era parecido. Diogo tinha-lhe dito que nas projeções havia detalhes que podiam escapar, e este podia ser um deles. Quando procurou pelo nome nos mapas, em sua casa, fê-lo focando-se em locais como a Serra da Estrela, era o que o nome lhe fazia lembrar. – Idiota! Havia praia! – Disse de novo em alto, praguejando, chateado consigo mesmo por nem ter pensado que tinha que procurar aquele nome no litoral, não no interior. Algo que tencionava fazer agora. Deslizou o dedo pelo ecrã, chegando o mapa para a direita, e deteve-se em seguida.

- Serra da Silveir... - Nem acabou a palavra: Serra da Silveira, em Belas, concelho de Sintra. Novamente, o nome não era bem igual, mas demasiado parecido para ser só coincidência. Tinha a certeza absoluta de nunca ter visto aqueles nomes antes. Na primeira progressão que fez, nunca poderia ter inventado o nome da localidade, pensou. Sentiu o coração a bater forte, a pele a arrepiar-se, a testa a suar: era verdade! Tinha mesmo visto algo que transcende a sua compreensão! Eduarda existe, e está algures entre Sintra e Cascais! E hoje, logo hoje, ia estar lá por perto.

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