Prefácio

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Prision de La Santé, Janeiro de 2017.

- Está chegando a hora! A animação no rosto que eu mirava era encantadora. O rosto era o meu, já desfigurado após uma semana naquele lugar horrendo.

A Prisão da Saúde, em Paris, refletia a magia de Paris de uma maneira intensamente antagônica. Me dá arrepios até hoje. Seus corredores, apesar de poucos tê-los visto, pareciam os caminhos que levam ao Inferno. Mas obviamente não era o Inferno o destino deles, sei disso porque já estive lá. Os corredores me levaram apenas a saída para a bela e turbulenta Paris.

Quando olhei no espelho naquele dia me referia ao momento da minha soltura. Mais cedo, dois guardas haviam passado no corredor, aparentemente um treinamento para um novo funcionário, e falavam entre si sobre como meu tempo naquela cela havia terminado.

Não demorou muito até que o rangido da porta verde de metal anunciasse a luz ofuscante do corredor.

- M. Rodriguez, vous accompagner à la sortie du bâtiment. Si s'il vous plaît dépêcher! - Disse o guarda em seu uniforme azul-marinho. Não entendi muita coisa, mas meu limitado francês me permitiu alegrar-se com a palavra "Sortie du Bâtiment", pois sabia que significava "Saída do Edifício".

Não demorei em me levantar e caminhar ao seu lado pelo corredor, que agora me pareciam mais animadores. Dobramos a primeira esquina a direita e outra a esquerda passando por uma grade, onde o guarda colocou seu crachá na leitora para abrir o portão. Após mais dois corredores chegamos a uma sala pequena onde vi Marie e sua expressão preocupada encarando a atendente da mesa em que estava sentada. Quando me viu correu em minha direção e me abraçou com tanta força que o guarda colocou as mãos nas minhas costas para que eu não caísse.

- Senti tanto sua falta, seu idiota - disse ela encharcando meus ombros com suas lágrimas.

- Não mais do que eu senti à sua - respondi.

Uma senhora entrou na sala pela porta oposta à que estava eu e Marie. Caminhou até nós e me entregou um pacote onde estavam a camisa branca com a mancha no bolso e minha calça jeans do McDonald's. Me arrepiei quando olhei para a mancha e Marie virou o rosto para não olhar.

Me deram dois minutos no banheiro e eu me troquei, apesar da repulsa que aquelas roupas me passavam. Acompanharam Marie e eu até a saída na Rua Santé e fecharam o portão atrás de nós.

Caminhamos em direção a avenida Boulevard Arago e subimos até um café.

- Deux jus d'orange avec le sucre, et deux croissants, s'il vous plaît - disse Marie sentando na mesa do café - Você deve estar faminto, depois de uma semana injusta naquele lugar.

- É verdade, estou sim - respondi, ainda encantado com os cabelos negros dela à balançar junto aos ventos de uma fria Paris - Espero que tenha pedido com açúcar.

- Claro, eu não me esqueci de você, apesar dessa barba toda - disse com uma risada doce.

Confesso que cada minuto com Marie me fazia esquecer de tudo o que passei. Seus olhos negros me envolviam, seu cheiro me enfeitiçava e sua pele branca me convidava à tocá-la. Eu me perdia perto dela, de repente eu não era mais Bernardo Rodriguez, eu era mais um garoto apaixonado por Marie Marvel.

Comemos rapidamente e pegamos um táxi em frente ao café.

Marie colocou a mão na minha coxa no táxi e foi subindo. Em meio aos suspiros de prazer que dava eu coloquei a mão por baixo da blusa dela, senti sua pele gelada e percebi que estava sem sutiã. Congelei o pensamento e parei de imaginar as consequências, eu sabia que precisava fazer aquilo. Minha mão continuou subindo até seu pescoço. Foi quando, com um movimento e com a faca que peguei escondida do café eu degolei Marie.

A mancha negra não era mais única na minha camisa, agora Alvi-Rubro do sangue da única mulher que eu amei. Saltei do táxi em movimento com o taxista perplexo aos berros. Estávamos na Ponte De Sully, pulei no gelado Rio Sena e vi desaparecer um aglomerado de pessoas em volta do táxi. E na minha cabeça estava o alívio:

Eu matei Marie Marvel, finalmente.

Não sou um assassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora