Capítulo 1 - Tic Tac, Sr. Rodriguez

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São Paulo, Brasil, 24 de Junho de 2016

- Então, a cada andada de D. Pedro I pelas vielas do Rio de Janeiro ele encontrava uma diversão para à noite em sua cama. Até que sua primeira paixão veio Noémi Thierry. Uma bailari... - O sinal indicando o início da aula me impediu de continuar pela milésima vez a história da paixão proibida de D. Pedro I, que sempre me fascinou.

Claro, nenhum aluno ficou esperando a história terminar. Enquanto todos corriam para suas salas, um senhor muito bem vestido em seu terno cinza claro caminhava pelo corredor do Colégio Objetivo de São Paulo.

- O Sr. tem um minuto professor? - Perguntou o homem com um sotaque gringo inconfundível. - Preciso conversar com o senhor sobre seu novo trabalho.

- Claro, aparentemente minhas histórias não agradam mais os alunos como antigamente - disse com um sorriso, mas em troca só recebi um olhar sério de alguém muito profissional.

Fomos em direção a saída do colégio enquanto eu sanava minhas dúvidas à respeito daquela visita inesperada.

- Desculpe o senhor não me falou seu nome - comecei.

- Sou Christopher Morgan, venho em nome da Universidade de Cambridge - respondeu ainda mantendo a seriedade.

- Um prazer conhecê-lo Sr. Morgan, sou Bern...

- Sei quem é senhor, Bernardo Rodriguez, professor de História da USP - me interrompeu, deixando claro que aqueles olhos azuis e pele branca com muitas rugas não seriam quebrados em um sorriso, pelo menos não naquele momento.

- Claro, claro. E em que eu posso ajudá-lo, Sr. Morgan? - me postei de maneira mais formal.

- O senhor está sendo convocado pela University of Cambridge para um dia de palestras sobre as independências na América do Sul. - ele retirou de sua pasta de couro marrom um envelope com meu nome escrito - O senhor é um especialista na vida de D. Pedro I pelo que eu ouvi falar.

- Ele me intriga muito - foi a única coisa que saiu da minha boca enquanto eu olhava surpreso para a carta - Me diga Sr. Morgan, quando preciso dar-lhe minha resposta?

- Agora seria perfeito. - disse com um sorriso no rosto, mas senti um certo deboche neste sorriso - Entendo que o senhor é muito ocupado professor, mas espero que perceba a importância de uma palestra em nosso Campus para seu currículo.

- Bom, o senhor não me deixa muitas escolhas não é mesmo. - estava segurando minha animação - Será um prazer comparecer ao evento.

Chegamos ao portão do Colégio, ofereci ao Sr. Morgan uma companhia para o jantar que ele, educadamente, recusou. Então me despedi dele ali mesmo e me encaminhei ao estacionamento.

Cheguei em meu apartamento e Marie estava terminando de cozinhar.

- Quem é a mulher que tem o marido mais gostoso desse mundo, hein? - disse eu, enquanto chegava escondido por trás dela, cheirando seu pescoço - Como foi seu dia meu amor?

- Nada demais - respondeu Marie com um sorriso no rosto e as bochechas coradas do calor do fogão - A professora do Lucas mandou um recado no caderno dele, disse que ele fala demais durante as aulas.

- Ótimo! vai ser professor igual ao pai - disse sorrindo para contrastar com o tom preocupado em sua voz - Marie, não se preocupe, eu era desta maneira. Mas converso com ele quando chegar.

- Ok, e o seu dia? - perguntou saindo da cozinha e sentando no meu colo, enquanto estava sentado na minha cadeira.

- Nada demais - disse fingindo tédio - Acho que vamos para a Europa em novembro, mas fora isso...

- EUROPA?! - ela saltou do meu colo tão rápido que bateu a cabeça no lustre da sala - Como assim Bernardo?

Contei a ela tudo o que havia acontecido naquele fim de tarde, sem esconder minha empolgação em nenhum momento. Depois disso jantamos e assistimos TV até o Lucas pegar no sono. Enquanto Marie se preparava para dormir não parava de falar em como seria incrível conhecer a Inglaterra.

Dormi com um sorriso no rosto.

******************

Cambridge, Inglaterra, 2 de Novembro de 2016

- Vem logo Marie! Não posso me atrasar - eu estava a dez minutos esperando no lobby do The Varsity Hotel enquanto Marie estava no celular com o Lucas no FaceTime. - Achei que quando você o deixou com meu irmão, você confiava nele.

- Já desliguei, vamos - disse ela um pouco irritada, mas não o suficiente para esconder o orgulho que estava sentindo de ver seu marido palestrante em Cambridge.

O táxi deixou-nos a porta da universidade. Eu vestia meu melhor terno, preto, com uma camisa branca e detalhes azuis na gola, e uma fina gravata rosa que Marie havia comprado há meses para que eu usasse na palestra.

Quem me recebeu foi o Sr. Morgan, dessa vez com um belo sorriso no rosto e acompanhado do que acreditava ser sua filha, uma moça ruiva em um magnífico vestido preto com detalhes em dourado.

- Ah, Sr. Morgan, é um prazer vê-lo - disse ao vê-lo caminhar em nossa direção. Cumprimentei-o e me virei para a moça - Esta deve ser a Srta. Morgan, sua filha?

- Na verdade, esta é a Sra. Morgan, minha esposa - O sorriso havia sumido e senti um cutucão de Marie nas minhas costelas.

- Claro, me perdoe - cumprimentei a Sra. Morgan com um sorriso desconcertado - Encantado senhora.

Marie cumprimentou os dois com um sorriso e em inglês, o que me impressionou.

Adentramos o grande teatro onde seria dada a palestra. Marie se sentou e eu fui a uma sala destinada aos palestrantes, ainda muito honrado que aquilo estivesse acontecendo comigo.

Quando subi ao palco uma luz ofuscante não me permitiu ver ninguém na platéia, o que pensei ser algo bom, pois estava nervoso. Comecei um pouco tímido, mas ao fim as minhas piadas e conteúdo agradaram a todos os ouvintes. Desci às pressas para encontrar Marie, que deveria estar à minha espera na porta de entrada.

Quando cheguei à entrada principal do teatro um porteiro veio em minha direção.

- Mr. Rodriguez? - perguntou o porteiro.

- Yes - respondi surpreso por saber meu nome.

- Your wife asked me to give this note for you.

Peguei aquele pedaço de papel que dizia:

"Be,

Fui ao hotel pois não estava passando bem.

Espero que tenha dado tudo certo.

Te amo.

Marie"

Peguei o primeiro táxi que vi e cheguei ao hotel em 15 minutos. Subi as escadas correndo e encontrei, para minha perplexidade, o quarto vazio e uma carta com a marca do batom de Marie.

Guardei a carta e desci correndo até o lobby. Perguntei ao atendente onde estava Marie, se ele a tinha visto, ele respondeu que ela havia saído à 10 minutos chorando muito e entrou em um carro preto na frente do hotel.

Meu coração estava disparado, abri o envelope:

"Sr. Rodriguez,

Sua esposa só irá viver enquanto o senhor trabalhar em meu favor. A muito tempo já tenho observado os ultrajes do senhor com nosso povo.

Temos uma resolução final ao problema das Colônias, e o senhor irá escrever a história e não só contá-la.

'Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.'

Tic tac, Sr. Rodriguez"

Não sou um assassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora