Capítulo I

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Agosto. Califórnia - EUA. 

MEGHAN

Esse é um dos menores apartamentos nos quais já morei. Sério. Ele não é tão pequeno assim na verdade, mas, se eu comparar com os últimos, ele fica. Ok, ok. Prometi que, ao iniciar essa "nova vida", eu reclamaria menos. Mas que o apartamento é pequeno, ele é. 

    - O tamanho é suficiente para nós duas. - Minha irmã, Amber, diz ao voltar do quarto que seria dela daqui para frente. Vou logo avisando que ela é tão otimista e agradável, que chega a ser irritante. 

- Acho pequeno - digo. - Eles inventaram esse estilo open concept apenas para economizar espaço. 

- Quando os móveis chegarem, isso aqui vai ficar perfeito! - Amber sorri, sentando em um banquinho que pegamos emprestado do senhor bigodudo do apartamento do térreo. 

Ainda não tínhamos todos os móveis necessários. Para falar a verdade, só tínhamos os móveis da cozinha, pois ela já estava mobiliada quando alugamos o imóvel há uma semana atrás. Além disso, temos um colchão, dois banquinhos emprestados (do bigodudo, lembra) e um vaso de flores vazio que Amber carrega para todos os apartamentos para os quais já nos mudamos. Caixas com nossas coisas estão espalhadas pelo apartamento inteiro. Já os móveis comprados chegarão amanhã, mas não tenho paciência para esperar. Não consigo mais olhar para esses cômodos vazios. 

- Vamos sair? - pergunto. 

- Vamos! Que tal o Getty?

- Isso é um shopping? 

Amber revira os olhos. 

- Não. Um museu. 

- Qual é! Estamos em Los Angeles! Vamos para a praia e parar um pouco de pensar nesse apartamento idiota. 

- Esse apartamento não é idiota. É nosso novo lar! - Amber diz, um tanto magoada. 

- Tudo bem, tudo bem. Ele não é idiota. Mas, então... Vamos? 

- Tá bom, vamos para a praia!  

Alegre, Amber dá dois pulinhos rápidos e corre para uma pilha de caixas de papelão, provavelmente procurando aquela em que se encontram os biquínis. 

Quando minha irmã está feliz, eu fico feliz. Mesmo não fazendo ideia do que vai acontecer daqui para frente, agora que voltei do Japão desempregada. Assim é a vida de modelos, eu sei, imprevisível. Mas, sinto um frio na barriga com a falta de segurança de não saber onde estarei daqui seis meses. 

Logo que comecei a trabalhar com moda, eu não me importava com o dinheiro, gostava só da atenção. Mas, aí, pimba! Nossa mãe morreu de tanto beber e nosso pai abusivo espancou a Amber até ela vomitar as tripas. Eu sei que você acha que estou exagerando, eu sou mesmo exagerada, mas a Amber realmente ficou mal, tanto que o Juizado Familiar tirou a gente do nosso pai e deu nossa guarda a uma assistente social bem pirada. Para nossa alegria, aos dezoito anos, consegui me emancipar e levar a Amber, que tinha quinze anos na época, comigo para o Japão. 

Você deve estar se perguntando: Japão? Desempregada? Quê? 

Pois é. A agência de modelos para a qual eu trabalhava me levou para o Japão, onde eu tinha bastante trabalho e ganhava um dinheiro legal. Porém, ainda nas terras xing ling, percebi que aos vinte anos ainda não sou uma modelo famosa que ganha milhões e que talvez não seja isso que quero fazer para sempre (ou até ficar velha e o mundo da moda me expulsar). Além disso, tenho uma irmã mais nova que quer fazer faculdade e adivinhe quem vai ter que pagar mensalidade, livros e todas essas porcarias que alguém que estuda precisa? Eu mesma! Eu não fazia ideia de que faculdades podiam ser tão caras nos Estados Unidos. Também teremos que comer, vestir e beber e tudo isso custa dinheiro. Aí eu pensei: se acontece qualquer coisa comigo e eu não posso mais trabalhar, quem vai pagar tudo isso? Somos apenas Amber e eu, mais ninguém. 

Estão entendendo onde quero chegar? Que bom! Foi com esse pensamento que eu decidi guardar uma grana e voltar para a terra do tio Sam (Estados Unidos, para quem não entende as referências). Claro que enviei mil currículos para todas as agências existentes aqui antes de voar as tranças e acabei conseguindo um contrato de quatro meses com uma marca - um tanto famosa - de jeans. O que farei após isso? Serei atriz, claro! Depois de pensar muito em profissões em que eu posso ser boa e que me pagarão dinheiro suficiente para eu pagar as contas e juntar para a faculdade da Amber, decidi que ser atriz é a resposta óbvia. É isso que vou fazer!

- Achei! - Amber grita, me tirando dos meus pensamentos. 


Menos de uma hora depois, estamos torrando sob o sol quente da praia de Santa Monica. Como moramos em Mid-Wilshire, viemos de carro. E mesmo ele tendo sido um dos mais baratos da concessionária, funcionou direitinho pela Santa Monica Free Way.

- Podemos viver aqui para sempre. - Diz Amber, colocando seus óculos de sol. 

- É, podemos. - Concordo, pegando minha garrafa de suco de laranja e me entendendo ainda mais na cadeira espreguiçadeira. 

Não sei se é o ar de Los Angeles ou se o otimismo de Amber me contagiou, mas sinto que tudo dará certo. 




Doce FascinaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora