Louis point of view
Eu observava o lado de fora da janela a horas, parecia nunca me cansar de imaginar em como seria se eu fosse outra pessoa. Eu não gostava do que eu era, então por que continuar? Ouço sussurros em minha cabeça, meus medicamentos só aumentam e os efeitos colaterais também. Parece até que tem espíritos tentando me dizer alguma coisa. Eu só queria olhar as estrelas e não ter que segurar as lágrimas que se formam automaticamente em meus olhos, eu queria não ter ido embora daquela escola, e ter conhecido melhor aquele menininho, que agora, deve ter a minha idade, e uma vida bem melhor que a minha.
Quando percebo, meu rosto estava banhado em lágrimas outra vez, eu não sabia mais o que fazer, minha vida era uma merda, eu só conseguia pensar como seria melhor para todo mundo se eu me matasse. Olho de relance pra faca que tinha dentro da bandeja, com o almoço que eu não tinha me importado nem ao menos em tocar. Sigo observando os talheres, em especial, a faca. Eu estava exausto, minhas olheiras denunciavam isso. Toquei no metal gelado, encarando cada centímetro. Tinha uma maneira de acabar com todo esse sofrimento. Virei a ponta da faca para minha barriga, deixando soluços altos escaparem.
- Filho! Pelo amor de Deus, não faça isso comigo! Eu te amo! - Ouço minha mãe começar a chorar desesperada e correr até mim, tirando a faca das minhas mãos. Passo as mãos pelos cabelos, olhando para a mulher à minha frente.
- Eu sinto muito...Eu não queria... - Eu mal conseguia falar, eu me sentia um lixo. Eu era um lixo.
- Nunca mais pense em fazer o que estava prestes a fazer. Eu não consigo viver sem você, meu amor. - Ela me apertava em um abraço sem fim.
Ela nunca tinha visto, mas eu já tinha me machucado várias vezes. Todo o sofrimento dela é por minha causa, eu sei que sem mim ela viveria bem melhor. Eu sou todo o problema. Que droga!
- Nós precisamos conversar, Lou. - Ela segura meu rosto, ainda chorando muito.
- Pode falar. - encaro seus olhos, não fazendo ideia do que ela estava prestes a dizer.
- Lembra da clínica que fomos visitar um dia? Cheia de pessoas que... Bom, precisam de cuidados especiais como você? - não estava acreditando no que estava ouvindo.
- Mãe? Você não entende. Estou assim porque você não acreditou em mim. Harry existe. Ele não sai da minha cabeça! Eu não sou louco! Ele fez eu me sentir especial de verdade e me tratou como seu melhor amigo! Por favor! Entenda! Ele tinha estrelas em suas orelhas! - Eu gritava, minhas lágrimas estavam incontroláveis, meu coração se resumia em um aperto horrível, parecia nunca ter fim.
- Filho! Não tinha menino nenhum! Para com isso! Você tem problemas e será internado! Entenda!
- Que inferno! - Berro o mais alto que consigo, pegando a faca e estocando várias vezes a minha barriga, ouço minha mãe gritar muito e me chacoalhar no chão.
Eu estava sentindo tanta dor, como nunca antes. Ardia. Pareceria que eu estava sendo queimado, minha visão estava embaçada, quando percebi, não conseguia ouvir nada. Então é assim que é morrer? Eu estava lutando para conseguir falar para minha mãe que estava tudo bem, que eu queria morrer, que seria melhor, mas minha boca ao menos se abria. Depois de um tempo eu senti um cansaço enorme tomar conta de mim, deixei meus olhos fecharem e me entreguei à morte.
Quando abri os olhos, eu estava no jardim da escola, de muitos anos atrás, parecia que estava tudo praticamente intacto, eu vi o menininho de cabelos encaracolados entrar no jardim com os olhos cheios de lágrima, ele estava com uma cartinha nas mãos e uma florzinha. Sai correndo em sua direção, mas era como se ele não me visse. Como se eu fosse um fantasma.
- Lou, você nunca mais vai aparecer? - o pequeno abaixa a cabeça e meu coração se aperta. - Eu queria te mostrar o desenho que eu fiz para você. - ele começa como se estivesse conversando comigo, se senta na grama e limpa os olhinhos. - Eu desenhei a gente. Achei que pudéssemos ser amiguinhos para sempre. Sairíamos para tomar sorvete e... Eu cuidaria para ninguém falar coisas feias de você. Cuidaria do seu probleminha, apenas volte. - ele posiciona as duas mãozinhas cobrindo o rosto. Eu queria poder arrancar meus olhos, para não precisar ver aquela cena, era a pior de todas. Um vento forte bateu em seu rostinho e seus cachos foram para trás, mostrando seus pontinhos brilhantes. Eu me aproximei, quase tocando aquele brilho, quando cai, sentindo uma dor imensa no peito.Narrator point of view
Os médicos haviam perdido todas as esperanças, a última coisa a fazer, era usar o desfibrilador, aquele aparelho que o médico usa para tentar recuperar as batidas cardíacas do paciente.
Por sorte, na segunda vez que o aparelho foi usado em Louis, seus batimentos voltaram.
O menino se encontrava pálido, com olheiras profundas e os lábios arroxeados.
Ficara dois anos "morando" no hospital. Algumas noites, respirando com a ajuda de aparelhos. Tomando remédios cada vez mais fortes. Completava seus 17 aninhos. Ficando cada vez pior. Sendo que o que ele precisava para melhorar. Era o menino de cabelos encaracolados, covinhas e olhos verdes. E o mais importante. Pontinhos brilhantes nas orelhas. Mas ele estava tão longe. Ou não?
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Cry Baby
Teen Fiction- Mas seu filho é um menino, senhora Styles. - A enfermeira adentra o quarto do hospital segurando um pequeno harry em seus braços. - E qual o problema? - A mulher parecia feliz e decidida. - Geralmente fazemos apenas em meninas. - Deixe de ser...