Contos Banidos

Perdoa-me

“Oi você anjo você já está dormindo, mas eu, eu não vou poder fazer isso, não com
você.”
Digito a mensagem no celular e envio, torcendo para que ele não acorde e só as leia
amanhã de manhã.
“Eu queria te pedir desculpa, desculpa por tá fazendo isto, desculpa por tudo que já te
causei”.
Envio novamente, parte de mim torce para que ele acorde, as leia, e venha falar
comigo
“É estranho fazer isso, não todo o resto, não é a primeira vez que faço, mas é a
primeira vez que tenho alguém a dar explicações sobre.”
Minhas lagrimas caem na tela do celular, porque era tão difícil dar continuidade aquilo,
eu já tinha feito tantas vezes antes, mais que podia contar, mas nunca antes tive alguém pra
avisar.
“Por favor, não esqueça, eu sempre te amei, desde o primeiro oi, até...”
Envio novamente, não conseguia terminar a frase, minhas mãos tremiam.
“Desculpa por tantos rodeios, é que é minha primeira vez, você sabe, não tinha a quem
deixar algo assim antes, nunca teve ninguém pra quem me despedir”.
As lagrimas não param de rolar, eu já tinha deixado tudo para trás, tantas vezes antes,
mas não conseguia agora, não conseguia deixa-lo, olho o meu quarto, o estilete ao meu lado, a
escrivaninha de madeira onde estou sentado agora, o ventilador rodando o guarda-roupas,
nada ali fazia sentido nenhum mais, além da lamina brilhante, então porque demorava tanto a
por um fim?
“Eu sei que prometi não fazer isso mais, eu sei que prometi ficar com você para
sempre”
As lagrimas continuam, não consigo evitar pensar em como ele ficaria com aquilo, ele
provavelmente se sentiria culpado, culpado por não estar comigo agora.
“Eu sinto muito por quebrar essas promessas agora, mas eu te disse, eu sou um lixo,
não sirvo para ser amado”
Digitar cada palavra daquelas era como uma facada em meu peito, como eu podia
estar fazendo aquilo com ele?
“Eu sou uma pessoa horrível, me desculpe por ter te conhecido, me desculpe por te
deixar assim, me desculpe por entrar na sua vida e sair assim”
As lagrimas continuam a rolar, tanto que não consigo mais enxergar, para me levanto e
seco os olhos, precisava terminar aquilo, não poderia deixar ele sem explicações, não ele que segurou minha mão tantas vezes, não ele que não me deixou cair, não ele que esteve sempre
do meu lado.
“Eu quero que você saiba, que você é minha melhor lembrança, quero que você saiba
que nesses meses que estivemos juntos me faz mais feliz que em todo o resto da minha vida”
Pego meu estilete e me sento no frio chão do banheiro, ali seria melhor de limpar o
sangue por seja lá quem fosse limpar, será que eu faria falta a alguém?
“Saiba que nesses poucos meses, você me deu um amor que nunca tinha
experimentado antes, e que sem você eu nunca experimentaria, você foi o único capaz de me
dar isso”
Era isso, eu devia mandar logo o final e fazer oque tinha que fazer, mas eu teria que
diminuir o máximo que conseguiria a dor dele, não era justo pagar tanta felicidade com dor.
“Te peço desculpas, mas não dá mais, não dá mais pra aguentar, não dá mais pra
ignorar”
As lagrimas não param, pela primeira vez tenho alguém a quem deixar um bilhete, e
sem duvidas, o bilhete sempre foi a parte mais difícil.
”sei que não te devia te pedir mais nada, não depois que do que vou fazer.”
Tomo aguá da pia do banheiro mesmo, encaro meu reflexo no espelho, quando meus
olhos tinham se tornado tão fundos e vermelhos?
“Mas se ainda tenho este direito, te peço, por favor cuide de você, você é a única coisa
boa que deixo para trás.”
Paro novamente, tomo folego eu precisava de mais coragem, são três da manhã, acho
que ninguém vai ver eu pegar o litro de vinho na despensa.
“Peço também que não venha aqui, você não precisa ver isso”
Bebo o vinho, eu realmente amava aquilo.
“ E como ultimo pedido, lembre-se de mim, como eu fui com você, lembre-se do garoto
sorridente, do garoto que tentava sempre fazer uma piada para te alegrar, lembre-se do
garoto que ria a todo momento com você.”
Ligo uma musica, como tudo em minha vida eu estava ouvindo ela, agora não seria
diferente.
Começo a beber, o vinho não me deixaria bêbado, nunca tinha deixado.
Encontro uma foto dele no celular, ele estava sorrindo, queria que aquela fosse minha
ultima visão, ele sorrindo me mostrando que tudo ficar bem, agora vai meu amor, tenho
certeza que ira. Era assim que me lembraria dele, sorrindo para mim.
Um ultimo gole, um ultimo suspiro, digito a ultima mensagem. “Quero que saiba por ultimo, que eu te amo, te amei por cada segundo que tivemos
juntos, te amei por cada momento, e se existir algo além continuarei te amando, você é sem
sombra de duvidas aquilo que não quero deixar para trás. Mas por favor entenda, eu preciso,
seja feliz meu amor, eu te amei até o ultimo segundo, e sem duvidas meu ultimo pensamento
será sobre você, me perdoe por favor, adeus, te amo”
As lagrimas agora rolam cada vez mais, pego o estilete, encosto na pele já fragilizada
do pulso, quantas vezes tinha feito aquilo já? Mais do que poderia contar.
A primeira gota de sangue sai.
Me lembro de quando ele viu a cicatriz ali e me perguntou oque era.
Lembro-me que comecei a chorar.
Lembro de quando contei tudo a ele, cada tentativa, todas as vezes que parei por ser
covarde demais, lembro de que expliquei que por mais que estivesse coragem sempre algum
amigo acabava mandando mensagem na hora.
Lembro por fim do pedido que ele fez, de que não deveria nunca mais fazer isso, e que
nunca deveria abandona-lo.
Mais sangue, se continua-se agora não teria como voltar, nem se me levassem ao
hospital poderiam costurar minhas veias de volta, não da forma que cortaria, tinha pesquisado
antes para garantir que não me trariam de volta.
Vejo o sorriso dele na tela do celular ao mesmo tempo que uma mensagem chega, ele
tinha visto.
Eu seria mesmo capaz de acabar com aquele sorriso? Nunca
“Não faça nada, eu te amo e estou do seu lado”
Após essa tinham outras mensagens, uma seguida de outra
“você tá ai?”
“me responde por favor”
“não me deixe assim”
“eu te amo não se esqueça”
“ME RESPONDE”
Não eu não poderia deixa-lo assim
Solto o estilete e então o respondo.
“Oi, me desculpa”
Começo a limpar quando outra mensagem chega, ele estava preocupado. “Tem noção de como fiquei? Nunca mais faça isso, eu te amo, e não quero te perder
nunca, nunca me abandone, você prometeu”
Desabo novamente no chão, chorando.
“Não posso, não consigo, não consigo fazer isso com você. Não posso dar tristeza ao
único que já me fez feliz.”

Gente este conto muito amorzinho foi escrito pelo IagoOliveira493 que mesmo em cima da hora aceitou participar e arrazou com seu conto, o tema sorteado para ele foi "suicídio".