Era como ser esfaqueado incontáveis vezes e ser colocado de pé novamente apenas para que as facadas continuem á machucar cada parte reconstituída de seu corpo. Era como estar preso em um espaço tão estreito que impossibilitava qualquer movimento mínimo, quando a única forma de escapar era se mover. Era como ter um nó ao redor de seu pescoço, um nó apertado que fechava sua garganta, mas não o permitia partir de uma vez.
Jason estava irritado, acima de tudo. As lágrimas permaneciam em seus olhos, borrando sua visão até que decidiam descer por suas bochechas quando novas chegavam e ocupavam seu lugar. Nas primeiras vezes, ele as limpou rapidamente antes mesmo que chegassem á seus lábios com as costas das mãos, mas havia desistido após sentir a queimação que aquilo lhe trazia.
Ele tentou fingir estoicismo por dias. Os semideuses aprenderam á ver aquilo como a forma automática que Jason usava para lidar com o que realmente sentia, então não havia precisado de muito para que eles mantenham sua distância e lhe ofereçam o espaço que ele necessitava.
Hazel havia explicado o plano de Leo, e aquilo não havia contribuído para a raiva de Jason. Ele havia engolido sua irritação no momento e abraçado Piper para confortá-la ao mesmo tempo, mas quando ele ficou sozinho algumas horas depois, objetos voaram e quebraram junto com sua fachada de um rapaz completamente estável. Seu melhor amigo estava morto e ele não podia fazer mais nada em relação á isso, logo quando a oportunidade estava á sua frente antes dos acontecimentos.
Dormir havia se tornado uma obrigação que ele não conseguia cumprir, e Jason preferia gastar suas horas de descanso gritando com todos os deuses, culpando-os por deixar Leo fazer algo tão estúpido e imprudente; por permitirem que ele se vá de uma forma heroica, mas ao mesmo tempo, tão sádica.
Havia ficado difícil esquecer o quanto Leo era importante para ele, e Jason sentia-se um tolo por não valorizar tal sentimento o suficiente quando o latino ainda estava vivo. Ambos tinham muito mais o que fazer, com Gaia e os monstros, mas agora Jason entendia que nunca seria demais uma palavra ou outra para o amigo.
O amigo que poderia ser algo mais.
Jason não iria se perdoar tão cedo por não ter notado antes. Leo merecia o mundo, mas foi o contrário que determinou o fim da guerra e, consequentemente, sua vida.
Ele lembrava-se das conversas na madrugada que teve com Leo algumas vezes no Argo quando nenhum dos dois sentia o sono preciso. Foi durante momentos simples como aquele em que Jason parava e lembrava-se de que não conhecia Leo o suficiente, não como o mais novo achava, mas ainda assim, era como se os dois fossem conhecidos e próximos há anos.
"Talvez tenhamos sido melhores amigos na vida passada, quem sabe se isso não é uma coisa que existe, sabe?" Leo havia murmurado entre seu estado de acordado e dormente, e as palavras não faziam sentido, mas Jason ainda havia sorrido e olhado para o amigo logo quando este havia finalmente adormecido minutos depois do céu se iluminar com o nascer do céu.
Quando os meses passaram, Jason não estava mais namorando Piper. Ele não queria perder a garota, pois ela ainda era importante e Jason a amava, apenas não da forma que ambos queriam que fosse. Piper sentiu seu coração quebrar quando ouviu aquelas palavras, mas estava tudo bem, pois sabia que aquele era apenas um ato honesto e não era como se Jason estivesse se preparando para um adeus definitivo. Ele precisava fazer aquilo, e Piper conseguia entende-lo.
Depois dos gritos incessantes quase todas as noites, eles chegavam ao aniversário de um ano desde o fim da guerra e Jason havia parado de encontrar insultos. Os deuses não estavam ouvindo, de qualquer forma, e esse foi o motivo pelo qual ele havia começado á orar para eles, ao invés.
Ele desejou que Leo estivesse melhor do outro lado; ele desejou que sua morte não tivesse sido dolorosa; ele desejou que fosse apenas o que o latino queria, desde o começo – partir como um herói, salvando o mundo. Leo costumava divagar sobre isso também quando estava no limite de adormecer após dias acordado, sobre como admirava os heróis de quadrinhos e de como queria ser tão importante quanto eles.
Leo sempre adormecia antes de ouvir Jason o dizer que ele era, de fato, importante.
A vida tornou-se uma realidade a qual Jason não queria acordar para ver depois que havia conseguido estabelecer uma agenda de sono. Os pesadelos duraram por algumas semanas até que Jason decidiu esquecer por um segundo de que Leo não havia partido, focando então na ideia de que ele estava apenas em algum outro lugar; talvez precisando de seu espaço do mundo em que viviam.
Jason passava seu tempo acordado pensando sobre todas as vezes em que perdeu a oportunidade de dizer para Leo o quanto ele realmente o amava. Droga, ele poderia ter os dito as três palavras de volta quando o viu pela última vez, mas havia sido covarde demais para não o fazê-lo mesmo quando não tinha certeza se o veria outra vez.
As palavras morriam em sua garganta, e Jason sempre cometia o erro de achar que teria a eternidade para dizê-las.
Quando faltavam semanas para marcar um ano desde o fim da guerra, o rapaz recusou-se á dirigir-se para o Acampamento Meio-Sangue, como a maioria dos semideuses do Acampamento Júpiter faziam. Era uma oportunidade de reunir-se com todos seus amigos, mas ele não poderia ficar em um lugar que lhe traria tantas memórias e frustração.
Mas então, havia a carta. Havia o rosto de Leo em um pergaminho dizendo que estava vivo e em algum lugar com outra pessoa, e Jason não conseguia se importar com nada mais após receber a mensagem do Acampamento Meio-Sangue.
Ele ainda tinha esta oportunidade de dizer tudo que não foi capaz de dizer, e dessa vez, não iria desperdiçar. Leo estava vivo.
-x-
Espero que tenham gostado. Foi uma oneshot bem curta dessa vez (era 'pra ter 200 palavras apenas, mas acabou ficando até maior do que eu esperava), e ela surgiu graças ao Desafio das 100 Palavras, que estou tentando terminar já faz quatro meses haha. A palavra era "Morte" e eu escrevi isso. Pois é.
Bom, até ^-^
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Just One Yesterday ✧ Valgrace
FanfictionJason nunca teve coragem o suficiente para dizer o que queria e precisava para Leo, e agora que este estava morto e o arrependimento estava o comendo vivo, tudo que restava para Jason era implorar para os deuses por mais um ontem para que possa dize...