I.

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- Então - Jacob começou e se escorou na bancada da cozinha, apoiando as mãos no mármore atrás de si, enquanto observava o namorado colocar leite em uma tigela com cereal. Ele prolongou a palavra e estava trocando o peso de um pé para o outro, o que foi suficiente para que Troye percebesse que qualquer que fosse a notícia que sairia da boca do namorado, não seria do seu agrado.

- Vou ter que adivinhar? - Troye disse virando-se para encará-lo e escorando-se na pia, um sorriso tímido brincando nos lábios ao encarar todo o nervosismo do outro por cima da tigela.

- Connor se mudou para a vizinhança - foram as palavras que saíram da boca de Jacob, suficientes para que o sorriso de Troye desaparecesse e ele precisasse segurar com força a tigela e a colher em suas mãos para que as duas não caíssem ruidosamente no piso branco da cozinha.

- Isso é ótimo - ele tentou soar o mais casual possível, mesmo que, após dizer as palavras, ele tenha virado as costas para os olhos castanhos que pareciam queimar sua pele.

Troye largou a tigela e a colher ao seu lado e agarrou-se firmemente ao mármore da pia, respirando fundo e tentando organizar os pensamentos. Ele conseguia sentir a preocupação de Jacob em ondas o atingindo, assim como podia ver as suas juntas tornando-se brancas com a força com que ele estava segurando a pia, quase como se ela fosse escapar por entre seus dedos. Por alguns segundos, ele teve certeza que iria desmaiar.

- É melhor eu tomar meu banho, preciso estar no estúdio em pouco tempo - Troye disse fazendo uma força enorme para que sua voz não quebrasse e passando reto por Jacob, sem coragem de olhá-lo nos olhos.

- Mas você mal tomou seu café da manhã e você ainda tem tempo de sobra - ele ouviu vagamente o namorado tentando argumentar e fechou a porta do banheiro, seguindo direto para a pia, voltando ao ritual de apertar a bancada com força como se ela fosse escapar e olhando-se no espelho. Ele estava ainda mais pálido que o normal. Novamente, achou que fosse desmaiar.

Já tinham se passado três anos, ele não devia se sentir tão afetado pelo nome ou pela presença de Connor Franta há algumas quadras. Até porque tinha sido ele quem tinha terminado o que eles tinham. Troye tinha escolhido. E Troye tinha Jacob. Mesmo assim, ele sentia a ansiedade fechando sua garganta e a vontade de chorar crescendo conforme o tempo passava.

Nos últimos três anos, ele tinha feito de tudo para sair de perto do garoto de olhos verdes, conforme o mesmo tinha gritado em sua cara no dia da última briga deles como casal ou como qualquer coisa além de meros conhecidos. Troye detestava admitir, mesmo para si, que tarde da noite - enquanto o namorado dormia, ou quando ele estava sozinho no ônibus da turnê ou em algum quarto de hotel -, ele assistia a todos os vídeos no canal do youtube de Connor. E doía. Coisa que ele também odiava admitir até para si mesmo. No entanto, ele tinha feito as escolhas dele e Connor tinha escolhido evitar todo e qualquer contato com Troye, exceto por algum "olá" cordial e superficial nas raras ocasiões em que se cruzavam.

Assim, Troye despiu-se, ligou o chuveiro e aguardou que a água amornasse antes de entrar debaixo dela. Ele sabia que precisaria daquele tempo de sobra que tinha antes de ir para o estúdio para se recompor, alinhar os pensamentos e decidir o impacto que ter Connor Franta como um "quase vizinho" tinha em sua vida.

...

- Você está estranhamente distraído hoje - a voz de Alex trouxe-o de volta à realidade e ele ergueu a cabeça de cima do vidro da mesa e girou na cadeira para encará-la. Ela o olhava com o cenho franzido, dois copos grandes da Starbucks em mãos que fizeram Troye ter vontade de beijá-la em agradecimento. - Está tudo bem?

Alex sentou na cadeira giratória ao lado da dele em frente ao computador onde o Google estava aberto, a barrinha de pesquisa piscando de maneira tão provocativa que Troye achava que estava enlouquecendo.

- Está, apenas cansado - Troye se deu conta de que estava ficando bom em fingir aquele tom casual, perfeito para que as pessoas desistissem de mais perguntas. Mas aquela era Alex. A mesma Alex que tinha passado quase vinte e quatro horas do dia junto com ele naquele estúdio pequeno álbum após álbum. A mesma Alex que o tinha visto chorar ao ponto de quebrar coisas quando percebeu o que tinha feito com aquele que, até então, tinha sido o melhor relacionamento que tivera. Ele devia saber que ela não deixaria o assunto morrer tão facilmente.

- Não, eu conheço o seu olhar de cansaço e não é esse. Você está preocupado com alguma coisa - não era uma pergunta, assim como não abria espaço para que Troye mudasse de assunto de maneira estratégica. Sabendo que qualquer tática seria em vão e só geraria mais perguntas, ele optou por assentir. - Você vai me dizer ou estou enganada?

- Jacob me disse que Connor está morando no nosso bairro - Troye suspirou e deitou a cabeça novamente no tampo de vidro da mesa, esperando que a ausência de calor fizesse bem para suas ideias.

- Eu sei, inclusive, estou indo para lá mais tarde - Alex falou como se nada fosse e se recostou na cadeira giratória, tomando um gole do seu café e fazendo com que Troye levantasse a cabeça para olhá-la com mais atenção.

- Sempre esqueço que vocês são amigos - ele suspirou novamente, deitando no vidro outra vez e virando a cabeça para o lado oposto do olhar da amiga.

- Olha, agora você está sendo extremamente imaturo, senhor Mellet - ele ouviu Alex largar o copo na mesa ao lado do seu e sentiu ela se aproximar. - Ele é um dos meus melhores amigos. E, além do mais, já faz três anos que vocês terminaram, ele já teve os relacionamentos dele e você tem o Jacob... Águas passadas.

- Eu sei, mas o que ele está fazendo justamente no meu bairro? - Troye disse dramaticamente e Alex revirou os olhos.

- Troye, meu amor, uma informação: o bairro não é só seu - Alex tentou soar brava, mas Troye conseguia ver que ela estava se divertindo com a situação. - Além disso, Tyler já morava ali há anos, você e Jacob chegaram depois.

Ele odiava admitir que a amiga estava certa, mas era a realidade: se você adentrasse pelas ruas da casa de Troye e Jacob, muitos quarteirões depois, você encontraria o lugar onde Tyler Oakley morava há alguns anos. Nenhuma vez sequer no último ano e meio Troye tinha se encontrado com o antigo amigo fazendo com que ele suspeitasse que isso, de certa forma, era proposital, mas ele sabia que Tyler nunca mais o olharia da mesma forma. E Troye não conseguia culpá-lo, afinal, Connor era muito mais seu amigo do que Troye jamais tinha sido.

- Vamos trabalhar, esse assunto está fritando meus neurônios desde cedo - ele disse sentando-se ereto na cadeira e aproximando-a do computador.

- Uma última coisa: por que esse interesse repentino no Con? - ela disse displicentemente enquanto começava a ligar o próprio computador. Ela não percebeu que ouvir aquele apelido foi como se o garoto tivesse levado um tabefe.

- E quem disse que eu estou interessado? - é óbvio que ele estava. Até demais.

A/N

Boa noite, crianças!

Cá estou eu me arriscando novamente! Eu realmente gostei da proposta da música, tanto que resolvi escrever a respeito.

O próximo capítulo vai demorar um tempinho, certeza, mas vai sair.

Deixem suas críticas, elogios, seu "deleta que ainda dá tempo", ou qualquer outra coisa. Mostrem pros migos. Votem. Propaganda é tudo, monamu!

Enjoy,

Julia.

11 blocks | TronnorOnde histórias criam vida. Descubra agora