- Já chega Ellen! Você precisa fazer alguma coisa da vida, não pode ficar aqui nesse quarto pelo resto da vida tocando esse violão. - nesse momento minha mãe já estava quase berrando.
- E você quer que eu faça o quê? Que eu seja igual ao meu pai, que vive longe da gente.
- Isso se chama trabalhar Ellen! Seu pai deu um duro para manter a empresa do seu avô...
- Chega mãe desse discurso que você sempre faz.
Comecei a abrir meu closet e pegar algumas roupas e o meu violão.
- O que você está fazendo?
- Eu estou dando um tempo dessa casa.
- E você pensa que vai para onde? Você não tem dinheiro e se pensa que vou te dar está enganada.
- Não quero seu dinheiro e nem do papai.
- Que bom!
Comecei a descer as escadas com a minha mala, uma mochila pequena e meu violão.
- Ellen você vai acabar voltando para casa.
- Vamos ver.
Fechei a porta de apartamento sem olhar para trás, mas sei que minha mãe estava preocupada. Apesar de estar sempre distante e tentar manter as aparências, sei que ela está sentida por causa das nossas constantes brigas e agora que estou saindo de casa ela vai piorar.
Minha família sempre foi da alta sociedade, sempre tive de tudo, cresci em um apartamento de luxo no Upper East Side e com inúmeras babás, já que meus pais nunca estavam presentes. Meu pai sempre trabalhando e minha mãe sempre organizando eventos. A música me ajudou a não me sentir tão sozinha.
Agora com 19 anos e sem estar na faculdade, minha mãe quer que eu faça algo da vida. Como não decidi que faculdade quero e nem se iria trabalhar com meu pai, vivemos brigando.
Agora que estou deixando o prédio percebo que vou sentir falta de pessoas que todos ignoram, mas que no fundo sempre foram meus amigos.
- Seu Martins! Como está?
- Muito bem menina! E você está indo para onde com isso tudo?
Seu Martins era o porteiro do prédio, vivia com um jornal por perto e uma xícara de café, eu gostava de ficar conversando com ele sobre vários assuntos, até de futebol a gente conversava.
- Eu estou indo embora. Irei sentir muita falta do senhor.
- Indo embora para onde? Seus pais sabem?
- Sim, minha mãe já sabe. Eu não sei bem para onde vou, mas acho que vou procurar um amigo meu.
- Vou sentir sua falta menina.
- Eu sei. Eu também irei sentir.
Prolongar a despedida era difícil, então lhe dei um abraço e sai.
Como meus pensamentos acabei esbarrando em alguém na rua.
- Desculpe-me.
- Tudo bem. Você poderia me dar uma informação?
Assenti com a cabeça.
- Aonde fica o edifício Millium?
- É o segundo ali na frente.
Apontei para meu próprio prédio, ou era até um minuto atrás.
- Obrigada.
- De nada.
Sei que muitos olhos curiosos pousaram sobre mim enquanto eu andava até o metrô, em uma caminhada não muito longa. Eu estava de calça jeans rasgada, all stars branco, uma camiseta preta e uma blusa xadrez vermelha, além da minha mala, mochila e a bolsa do violão. Posso apostar que na cabeça das pessoas sou mais uma que veio para Nova York tentar a vida cantando, mas pelo ao contrário, eu tinha tudo o que eles queriam, mas não tinha o que eles tinham.
Você deve estar se perguntando, por que uma menina rica, que pode ter de tudo escolhe não ter essa vida? Simples, enquanto minha mãe gastava o tempo em lojas caríssimas, eu só queria alguém para me abraçar quando caia de bicicleta ou ver tocar minha primeira música no violão. Mas ela nunca esteve lá, nem meu pai.
Passei um pequeno sufoco no metrô lotado, porém deu tudo certo. Agora estava no Bronx na porta do apartamento, do Izequiel, meu melhor amigo desde a época de colégio interno. Fui para lá com 14 anos e fiquei dois anos, naquele tempo meus pais estavam passando por uma crise no casamento e preferiram me afastar, acabei fazendo amizade com o Ize, como eu costumo chama-lo, ele sempre soube fazer o que era certo e tentava não me deixar fazer besteiras, o que quase nunca funcionava, já que eu era a mesma arteira da turma, se não do colégio todo.
- Oi esquesita!
- Oi Ize! Posso entrar?
- Claro que pode. Me dá essa bolsa
Ele pegou minha mala e me levou para dentro.
- O que aconteceu?
- Briguei com minha mãe de novo e queria saber se posso passar um tempo aqui... Prometo que não vou atrapalhar e vou ajudar nas despesas.
- Por mim você pode ficar o tempo que for, mas tenho que ver primeiro com o Zack...
- Não, tudo bem.
- Só um minuto.
Ize foi para o quarto do Zack e me deixou lá sentada. Fiquei olhando para aquele pequeno apartamento bagunçado. Será que caberia 3? Será que sei lidar com a bagunça de dois rapazes? Como seria lhe dar com o Zack todo dia?
Consegui escutar um pouco da conversa. "Aquela sua amiga riquinha" "Sei, ela é pancada das ideias né" "Tudo bem se a roqueira quer ficar". Não pude escutar o que Ize estava falando, sabia que não era de hoje que Zack não gostava de mim, só não sabia que ele usava termos para me definir. Para começo, os ricos são meus pais, e não, eu não tenho problemas mentais, e dá onde ele tirou que sou roqueira, só porque uso preto e uns jeans rasgados. Estava começando a reconsiderar a possibilidade de morar aqui...
- Ellen?
- Oi!
Ize estava em pé com Zack do lado.
- Você pode ficar, não é Zack?
- Sim, você pode ficar.
- Obrigada meninos!
- Por nada! – os dois falaram juntos.
Zack foi para o quarto e Ize se aproximou.
- Pode ficar com meu quarto.
- Não precisa, eu posso dormir na sofá.
- Claro que não, visita dorme no melhor quarto da casa.
Ize começou a rir e eu o acompanhei.
- Vou fazer um lanche para você. Se quiser pode tomar banho
ou arrumar suas coisas... pode ficar à vontade.
- Obrigada. Acho que vou tomar um banho.
- Já volto com a toalha limpa para você.
Com isso ele sumiu no corredor enquanto eu recolhia minha mala e minha mochila do chão e colocava meu violão ao lado do piano. Um minuto depois o Ize reapareceu com uma toalha.
Fui tomar meu banho e quando sai do banheiro peguei meu celular e vi que tinham mais de 20 ligações perdidas tanto da minha mãe quanto do meu pai. Achei melhor não retornar as ligações e fui lanchar.
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Acordes do destino
Teen FictionEllen é o tipo de garota que você olha e já diz que é encrenca. Vinda de uma família rica de Nova York, tendo o Central Park como quintal de casa, tudo o que ela mais queria é a atenção dos pais. Agora já maior de idade decide criar os próprios rumo...