Capítulo 3

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Nem conseguia acreditar no quanto consegui naquele dia, ontem mesmo eu estava brigando com minha mãe e fugindo de casa e hoje estou empregada e integrante de uma banda, como o mundo dava voltas.

Chegamos ao apartamento dos meninos e a primeira coisa que fizemos foi nos jogar no sofá e começar a comer nossos lanches que havíamos comprado perto de casa. Depois de comer e limpar a bagunça o Ize pegou suas coisas e foi para o banho.

Enquanto o Ize estava no banho eu sentei na bancada da cozinha e fiquei vendo as chamadas perdidas e mensagens que meus pais me mandaram. Até que Zack ficou do outro lado da bancada me encarando.

- Não sabia que você tocava bem. – Ele parecia intrigado com o que acabara de descobrir sobre mim.

- Pois é, eu disse que você não me conhecia.

Ele deu um sorriso de canto de boca e continuou.

- É, pelo visto não. Foi o Ize que te ensinou a tocar?

- Não. Foi meu ex. – dei um suspiro e continuei, enquanto ele apoiava a cabeça na mão – Eu estudava na Inglaterra na época, meus pais me mandaram para lá para eu melhorar meu comportamento. – dei um riso sem forças - Eu estava com quase 17 anos, estudava em mais um colégio interno e me apaixonei pelo popular do colégio, ele tinha uma banda, mas nem me dava confiança. Ele era o popular e eu a problemática. A gente acabou ficando em uma festa do colégio e depois começamos a namorar e ele me ensinou tudo no violão e um pouco na guitarra. Mas...

- Você voltou para casa.

Dei um riso.

- Não. Quem me dera! Eu peguei ele com outra depois de um show da banda dele. Sai de lá e bebi a noite toda, quando cheguei na escola bêbada tentei flertar com o filho da diretora, mas ela acabou vendo e me expulsou do colégio. E agora sim chegamos a parte que eu volto para casa.

- Uau, que história!

- Pois é. Tenho várias. Tem a história de quando quebrei o braço para meus pais não viajarem, tem a do meu primeiro beijo. Ah essa é muito boa.

Agora eu estava rindo de verdade.

- Sabia que eu era muito amiga do porteiro do meu condomínio e das empregadas lá de casa? Meu primeiro beijo foi no filho da minha babá. Meus pais não estavam em casa e minha babá não tinha com quem deixar o filho, então o levou. Ficamos brincando o dia todo e no final da tarde eu inventei de dar um selinho nele, ele fugiu de mim, mas eu consegui chegar nele e dei um beijo, acabei mordendo a boca do pobre, que deu uma sangrada.

- Você tirou sangue do menino? – Pareceu uma ponta de horror na voz dele, mas foi dedurado por um sorriso fraco.

- Ah foi só um pouquinho.

Na altura daquela conversa já estávamos rindo bastante.

- Você é doida.

- Sou não.

- Estou com muito medo de ser atacado por você.

- Pode ficar tranquilo, isso não vai acontecer. Sei que você não gosta de mim.

Levantei, mas ele segurou meu pulso.

- Nunca disse que não gostava de você.

- Mas sempre agiu como se não gostasse.

Soltei meu braço e fui para meu quarto.

Dormir a noite foi complicado, virei de um lado para o outro na cama revivendo as últimas 48 horas. Até que finalmente peguei no sono e só acordei no dia seguinte com o despertador do celular tocando.

Levantei, tomei um bom banho e fui na cozinha ver se os meninos já tinham acordado. Quando cheguei na cozinha só tinha o Ize sentado na bancada.

- Bom dia! – Eu disse ainda sonolenta.

- Bom dia! – Ele me respondeu dando um pequeno sorriso.

- Já tomou café?

- Não, estava te esperando. O Zack precisou ir mais cedo para o trabalho resolver algum problema e eu estou aqui para fazer você não esquecer seu primeiro dia de emprego. – Ele disse animado como se fosse o primeiro dia de trabalho dele.

Eu estava bem empolgada com meu primeiro emprego. Engraçado não? Acho que poucas pessoas ficavam tão animadas com um emprego de garçonete, mas a verdade era que mesmo com um emprego simples o que significava para mim era que eu estava começando a caminhar sozinha com minhas pernas, sem a sombra dos meus pais ou meu histórico rebelde.

Servi-me de uma xícara de café e fiquei em silêncio enquanto o Ize tomava seu café. Depois de acabar com a refeição dei uma arrumada no sofá, porque eu sabia que o Ize não iria fazer isso quando saísse do banho. Meu amigo não entraria na categoria de pessoa organizada, vivi com ele por 2 anos e posso dizer isso com propriedade do assunto.

Estudávamos no colégio interno St Judes e que por coincidência é o nome de uma música da Florence and The Machine. O Izequiel, como os professores o chamavam, era um aluno muito na dele, sempre quieto nos cantos com um fone no ouvido e um HQ debaixo do braço.

Ele era aquele aluno que quando o professor separava duplas ele era sempre o último a ser escolhido. Na época ele era gordinho e bem viciado no mundo geek, o que agora é moda, antes não era, então ele era sempre excluído. Essa solidão ele passava para o papel em forma de música, ele já tocava violão e foi o que me fez me aproximar dele.

Ao contrário de Ize eu era a aluna excluída da turma porque sempre causava confusão por infligir alguma regra do colégio. Ninguém me avisou que não podia fazer mudanças no uniforme escolar!

Um dia eu andava de bobeira pelo gramado da escola quando vi o Ize sentado debaixo de uma árvore mais afastada. Sentei do lado dele e perguntei o que ele gostava de tocar, depois disso tornamo-nos melhores amigos. Ele sempre foi meu ponto de equilíbrio quando eu tentava aprontar.

Durante o tempo de nossa amizade ele foi mudando, passou a ter mais autoconfiança, emagreceu e deixou de ser chacota da turma. O cabelo preto liso em contraste com os olhos castanho claro dava a ele um rosto muito bonito, mas as garotas nunca queriam nada com ele porque ele era gordinho. Uma grande bobagem da parte delas. Um pouco antes de eu ir embora ele já tinha emagrecido bastante e estava simplesmente um gato. As meninas começaram a ficar de quatro por ele.

No baile de formatura do St Judes ele foi acompanhado da Kirsten, uma das garotas mais inteligentes da nossa turma e era uma das poucas que nunca implicava com ele antes, então achei bacana eles irem juntos. Até torci para rolar um namoro, mas isso não aconteceu.

Depois de sair de St Judes e ir para a Inglaterra meu contato com o Ize ficou limitado a mensagens de texto e algumas vídeos chamadas.

Voltei para a realidade com Ize me deu um abraço dizendo que precisava ir e me desejando sorte no emprego. Em 30 minutos já estava de banho tomado e andando em direção ao metrô. O Rose's ficava duas estações de distância, então não me atrasaria para meu primeiro dia de trabalho.

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⏰ Last updated: Mar 01, 2018 ⏰

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Acordes do destinoWhere stories live. Discover now