Crachá e Café

O Carinha da Troca.

   Este capítulo não vai começar comigo acordando e passando a mão em meu rosto, verificando se sentirei dor. Pelo que parece, o tapão que recebi gratuitamente de Matt já está virando apenas uma lembrança. Não está mais vermelho como antes, nem sinto dor ao tocar na região. O foda é que nunca vou esquecer esse tapa. Nunca mesmo. Foi algo que nunca achei que levaria, nem de alguém como Matt.

   Já passam das 21h e ainda estou trabalhando. Minha função é fazer trocas na loja onde trabalho. Odeio isso, pois me inscrevi para ser vendedor, e não trocador de peças. E pode parecer estranho, mas todo mundo dessa cidade decide trocar suas roupas nos dias que eu trabalho. Sério, eu trabalho apenas dois dias da semana e parece que todos resolvem trocar suas roupas que ficaram menores, ou foram presentes que não gostaram, ou veio com defeito e não repararam, trocam por qualquer motivo, justo quando eu estou trabalhando. Mas felizmente hoje não está tendo movimento. Sei que o certo seria desejar que tivesse movimento na loja em que trabalho, afinal meu salário vêm das compras dos clientes, mas preciso relaxar um pouco. 

    Uma das coisas boas de trabalhar em lojas de roupa, é que de vez em quando entram pessoas estilosas. Não estilosas tipo essas pessoas que copiam os look's completos usados por seus ídolos, estilosas no sentido de usar roupas que dizem mais sobre elas próprias do que sobre as pessoas que elas admiram. Amo gente que se veste assim. 

(...)

    Meu relógio de pulso apita. Agora são 22h. Restam trinta minutos para a loja abaixar as portas e eu me mandar para casa. Preciso parar de contar os segundos que restam para eu ir embora, pois uma sombra surgiu á minha frente. Antes de levantar a cabeça e dar atenção á pessoa que está na minha frente, faço uma aposta pessoal. Se for uma troca por tamanho errado eu compro café antes de ir para casa, agora se for uma troca de presente que não agradou eu compro chá no mercado, também antes de ir para casa. 

   - Posso ajudar? - Digo enquanto sorrio e tento parecer o mais simpático possível. Exigência da loja.

   - Eu gostaria de fazer uma troca. - Ele ajeita os óculos no rosto. É um garoto. Achei ele atraente. Têm cabelo liso, recentemente colorido de azul (sei que foi recente pois a cor está forte e não está desbotando), usa óculos round preto. Sua camiseta também é preta e usa um colar com uma pedra da lua. 

   - Você está no lugar certo! - Digo. - A peça ficou grande ou foi presente? - Comprarei café ou chá?

   - Ambas as coisas, na verdade. - Ele sorri. Tem um sorriso lindo. Parece que estou reparando muito, mas não estou. Na realidade estou, mas sou assim, gosto de reparar bem nas pessoas.

   - Hum, bom, só preciso ver a nota fiscal e você precisa preencher uma ficha. Coisa rápida.

   - As regras, né? - Ele sorri novamente e tira a peça de roupa da sacola. É uma jaqueta de couro (sintético porque a loja em que trabalho não vende couro real, felizmente). - Ficou um pouco grande. Gostaria de pegar um tamanho menor. E numa cor diferente, se tiver.

   Entrego a ficha á ele e guardo a peça embaixo do balcão. É uma jaqueta bem gay. Não que ela indique que é bem gay, é discreta, mas não deixa o cara que a usa passar despercebido pelo meu gaydar. Com certeza esse garoto é gay. Ele me entrega a ficha, e o libero para procurar um tamanho menor da jaqueta bem gay que ele quer. Ele sorri novamente e agradece. Retribuo com outro sorriso. Sorrir é o que mais sei fazer.

   Quando ele se afasta, pego a ficha e vejo seu nome. Jonas é um nome interessante. Combina com ele, acho. Olho em meu relógio e verifico a hora novamente. Ainda restam 20 minutos para a loja fechar e eu me mandar para casa. Sobre minha aposta? Ele veio para ambas as coisas, então terei de passar no mercado para comprar café e chá. Jonas vêm a mim novamente. Parece que achou uma jaqueta que lhe agrade.