A Carta

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Capítulo Dois — A carta

Aquele nome não dizia nada para Marlene McKinnon, contudo, um misto de surpresa e dúvida passou pelos olhos de Remus.

Claro, a morena conhecia a história do filho desertor, mas não chegou a vê-lo andando pelos corredores do castelo e tampouco acreditava nos rumores contados pelos empregados. No entanto, pela expressão abismada de Lupin e a animação de Potter com a fofoca, tudo parecia ser verdade.

— Esperem um pouco — ela disse, quase tropeçando em um pedaço de madeira podre, pois estava inserida demais no assunto. — As histórias que ouvimos nos corredores são verdadeiras? Quero dizer, ele realmente existe?

Remus voltou-se para responder a pergunta dela, mas Prongs foi mais rápido.

— Nem todas — ele disse e Moony ficou em silêncio; nem ele próprio estava na Guarda Vermelha enquanto Black morava no castelo. — De fato, Sirius Black é filho do rei e ele foi embora de uma forma bastante conturbada. Não vale a pena contar agora que já estamos quase chegando.

McKinnon não podia conter-se de ansiedade! Nunca foi do tipo de garota que apreciava conversas sobre a vida alheia, mas, por algum motivo, saber o que havia acontecido com o príncipe era quase um dever. Ela considerava importante saber o que acontecia no castelo, debaixo do seu próprio nariz.

James tinha razão, eles estavam próximos do castelo. Em alguns passos, saíram do bosque fechado e escuro e passaram por um campo de grama extremamente verde e muito bem podada. Logo depois, se dirigiram para o fundo do castelo e lá, às portas da cozinha, foram instruídos por algumas cozinheiras sobre onde colocar o veado.

Marlene não pôde deixar de notar uma cozinheira ao fundo do grande cômodo abafado e cheio de gordura. Seus cabelos estavam presos embaixo de um pano branco, próprio para cozinhar, mas ainda assim era possível notar os seus cabelos cor de fogo. Além disso, era impossível que qualquer um na cozinha não percebesse os olhares indiscretos da moça na direção do caçador Potter. E vice-versa.

Sem que o galanteador esperasse, a cozinheira chefe presenteou-lhe com uma forte batida em sua cabeça com o rolo de abrir massas. McKinnon quase sentiu a dor nela própria.

— Potter, eu não quero você atrapalhando o trabalho das minhas meninas — avisou e Marlene pensou que ela era muito mais ameaçadora do que aparentava com o rosto bondoso de uma velha senhora que tinha. — Fora daqui, agora!

Nenhuma das outras cozinheiras se atrevia a olhar a confusão, mas todas elas estavam atentas ao belo rapaz que estava sendo enxotado da cozinha.

Prongs tentava se defender do rolo da mulher, mas era quase impossível que ela errasse. Rapidamente, Moony, James e Marlene estavam fora da cozinha e novamente no meio do jardim real.

Lupin não conseguia segurar o riso e a morena não tinha uma reação definida. Potter, no entanto, tinha um sorriso cafajeste estampado no rosto, quase como se estivesse orgulhoso do acontecido.

— Vocês viram isso? — ele indagou, vangloriando-se. Então McKinnon compreendeu que aquela era a senhorita Evans de quem ele tanto falava. — A ruivinha está tão apaixonada por mim.

Marlene sentia-se incomodada com a forma com que ele brincava com os corações alheios, mas não sentia pena das jovens meninas. Ela própria jamais seria estúpida a ponto de cair nos encantos dele. Bastava ter um pouco de inteligência para perceber que ele não valia nada.

— Até quando esse seu romance vai durar? — Remus perguntou, endireitando sua postura e tendo finalmente um tempo para respirar, depois de rir tanto. — Pelo que te conheço, e conheço bem, você não costuma parar tanto tempo com a mesma criada. Já são o quê? Oito semanas?

A morena limitou-se a um riso forçado.

— Ah! Não sei... — James começou, olhando para baixo e bagunçando a grama com o pé direito. — A senhorita Evans é diferente.

Foi a vez de Marlene caçoar do amigo.

— Moony, ouviu isso? — ela brincou. — Ele está apaixonado por ela! Pela primeira vez na história, o coração de gelo, impossível de se amarrar a qualquer pessoa, derreteu-se por uma cozinheira — a morena dizia em tom de narração. — O que ela tem de tão diferente?

O rapaz de cabelos bagunçados olhou para o céu, como se estivesse relembrando alguma coisa e abriu um sorriso saudosista.

— Vocês não querem nem saber — ele disse e os três riram.

♔♕♖♗♘♙

Marlene McKinnon estava sentada em uma enorme mesa de madeira na área comunitária. Aquele ambiente era onde os corredores que alojavam os quartos dos membros da Guarda Vermelha desembocavam. Ele era circular e as paredes eram feitas de pedras frias, possuía apenas uma comprida mesa com bancos de madeira e era chamado de Salão Vermelho. Não era muito bonito e nem confortável, mas era o que tinha sido oferecido aos criados do rei.

A morena segurava firmemente com seus dedos calejados uma pena e escrevia com pressa em um fino pedaço de papel. Ela estava nervosa, pois era assim que sempre ficava quando decidia escrever para o seu pai, um simples lenhador que morava em uma aldeia distante do castelo. Ele não era um exemplo de pai nem para ela e nem para os irmãos, por isso, sua melhor escolha, após a morte de sua mãe, foi se juntar à Guarda Vermelha e tentar conseguir algum dinheiro para poder enviar para a família.

Sinto muito, mas receio que, dessa vez, eu não tenha muito para oferecer à vocês. Pedi para que o meu pagamento fosse feito em forma de pães e não de sal, para que vocês tenham o que comer. Espero que seja suficiente para uma quinzena.

Com amor,

Lene

McKinnon sabia que seu pai não receberia bem aquela mudança na forma de pagamento, mas era necessário. Caso enviasse sal ou, pior, moedas para o seu pai, ele gastaria tudo com jogos de azar e bebidas e os seus irmãos acabariam ficando com fome. Não, era melhor que ela mandasse apenas pão.

Ela passou alguns segundos encarando as palavras escritas no papel, mas foi interrompida por uma voz nojenta que chamou o seu nome. Ao olhar para o lado, viu Peter Pettigrew sentar-se próximo demais a ela, com um sorriso debochado e nauseante.

— O que está escrevendo? — ele perguntou e ela sentiu o hálito assustador de menta que ele carregava.

Rapidamente, Marlene dobrou o papel amarelo e colocou dentro do seu decote, como se fosse o seu maior tesouro a ser escondido de um inimigo.

— Não é da sua conta — ela respondeu, ríspida.

Pettigrew abriu um sorriso debochado e perdeu todo o ar falsamente amigável que havia criado.

— Querida, por que se esquiva tanto de mim? — indagou, inclinando seu corpo para perto dela. McKinnon fez o mesmo movimento, afastando-se dele.

— Já chega, Peter, eu não quero falar com você — ela disse firme e começou a levantar-se, mas ele puxou violentamente o seu braço, fazendo-a sentar novamente no banco de madeira.

O membro da Guarda Branca, criada para proteger o rei, aproximou seus lábios do ouvido dela. Marlene sentiu um arrepio passar por sua espinha ao sentir a respiração quente encostar em sua pele alva.

— Eu adoro quando você fica brava...

A morena sentia vontade de vomitar a cada palavra que ele proferia.

— Solte-me!

MausWhere stories live. Discover now