Prólogo

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As pessoas passavam pelo anjo perdido e ferido, sem ao menos notar sua presença. Estava escurecendo e a pobre garota de longos cabelos loiros não fazia ideia de como voltar para casa, ela já havia sido alertada sobre os perigos do mundo humano, ainda mais durante a noite, mas o que podia fazer? Não sabia como tinha chegado aquele local estranho, atravessou tantas portas e seguiu tantos caminhos diferentes, quando deu por si já estava lá.  Nunca havia sentido tanto medo, não conhecia nada e queria desesperadamente voltar para casa.  Quando achava que as coisas não podiam ficar piores a garota tropeçou num punhado de caixas de madeira que estavam jogadas na caçada, indo ao chão junto com suas ultimas esperanças, sentiu a pele do joelho arder e olhando para baixo notou um liquido vermelho vivido se fazendo presente na pele alva e frágil.
Quando os pingos gelados começaram a atingir sua pele a garota nem ao menos fez menção de se proteger da chuva, lagrimas quentes começaram escorrer por suas bochechas. As poucas pessoas que estavam na rua haviam corrido nas primeiras menções de chuva deixando o lugar, que começava a mergulhar na escuridão da noite, completamente deserto.
A garota nem ao menos notou quando o estranho se aproximou abaixando em sua frente cobrindo-a com o guarda-chuva preto que carregava,  quando ela levantou a cabeça para ver o que estava acontecendo deu de cara com um lindo homem de cabelos negros, no momento em que os seus olhos se cruzaram a garota foi tomada por um sentimento que nunca havia experimentado, o rapaz estendeu a mão para ajuda-la a levantar, a garota continuou parada, estática, encarando o rapaz, que vendo que ela não se mexia mostrou um sorriso confiante e puxou a mão da garota fazendo-a levantar. Quando se tocaram a garota teve um mal pressentimento, contudo ele foi silenciado pelo brilho dos olhos do garoto,  que mais pareciam duas joias feitas do mais puro e reluzente ouro.
- Posso saber o seu nome?  - perguntou o rapaz ainda sorrindo amigavelmente para a garota,  que para ele se assemelhava a um filhote assustado com aqueles grandes olhos azuis acinzentados.
- Muriel - respondeu a garota tão baixo que ele mal pode ouvir.
- Muito prazer,  eu sou Jangler - disse ele fazendo uma leve menção com a cabeça quando se apresentou - Agora que as apresentações já foram feitas o que a senhorita acha de sairmos da chuva?
Ela apenas assentiu com a cabeça sem tirar os olhos de Jangler. Eles foram andando até chegar num coreto que ficava no centro da pequena vila, durante todo o percurso Jangler não havia soltado a mão da garota,  ele entrou, sentou num banco fechou o guarda-chuva preto. Quando ele levantou a cabeça foi surpreendido por grandes olhos curiosos que o observavam cuidadosamente.
-Você não quer...an... se sentar? - disse ele, pigarreando e passando as mão pelos cabelos,  parecendo um pouco constrangido
Muriel desviou o olhar temendo que irritasse Jangler se continuasse encarando, foi sentar-se ao lado dele, mas procurou manter uma distância considerável.
-Você não é daqui né? - disse Jangler depois de alguns segundos desconfortavelmente silenciosos
-Não exatamente... está muito na cara? - ela perguntou finalmente voltando a olhar para ele.
Ele a olhou da cabeça as pés, a pele alva e o corpo delicado, olhou para os joelhos cortados e o vestido branco que parecia ter saído de um livro de contos infantis.
-Você é diferente de todas as pessoas que eu já vi aqui – disse ele por fim
Ela assentiu com a cabeça, sabia porque parecia diferente, afinal nem mesmo humana era...
-Mas e você, é daqui?
-Não, cheguei faz pouco tempo
-Veio à trabalho? - perguntou ela, não queria perturba-lo, porém não resistia queria saber tanto quanto fosse possível sobre aquele estranho
-Pode-se dizer que sim... - ele disse depois de um breve momento pensando
Os dois conversaram durante algum tempo até que a garota viu que um de seus  superiores estava observando do outro lado, ela se despediu de Jangler dizendo que tinha que voltar
-Você tem certeza que consegue chegar em casa? quando eu te encontrei você pareci meio... perdida – perguntou ele.
-Alguém veio me buscar – disse ela, apontando para o homem alto de cabelos castanhos que estava parado do outro lado.
-Ah tudo bem então... -  ele disse, parecendo de alguma forma desapontado
-Escuta, eu  posso... bem, te ver amanhã de novo? - ela perguntou timidamente
-Pode – ele mesmo ia sugerir isso – 2 horas nesse mesmo lugar?
-Vou estar aqui – ela respondeu, e em seguida saiu correndo.
No dia seguinte eles se encontraram, assim como no outro e no próximo depois daquele, e a cada vez que se encontravam seus sentimentos se tornavam mais profundos. Ambos escondiam um segredo do qual não haviam falado, mas sabiam que teriam que dizer a verdade mais cedo ou mais tarde.
Foi numa tarde qualquer, as folhas das árvores começavam a cair marcando o inicio do outono, naquela manhã, os dois tinham acordado decididos a contar toda a verdade, mal conseguiam aguentar até a hora marcada para seu encontro. Chegaram exatamente na hora.
-Oi – disseram em uníssono rindo em seguida
-Eu tenho que te contar uma coisa – disse Muriel
-Eu também, posso contar primeiro? - perguntou ele, temendo que se esperasse mais acabaria perdendo a coragem.
-Sim – ela disse, sorrindo de forma angelical como sempre fazia.
-Você acredita em demônios? - perguntou, pronto para ouvir uma risada, mas novamente ele foi surpreendido por aquela garota de olhos curiosos que tinha levado embora toda a sua sanidade
-Acredito, mais  do que isso, eu sei que existem – respondeu, sem nenhum tom de zombaria ou brincadeira, parecia que tinha sido perguntado a ela se o céu era azul.
Contudo seu sorriso foi desvanecendo aos poucos enquanto Jangler falava, ele contou a ela o que era e ela não sabia o que pensar
EU SOU UM DEMÔNIO tais palavras ficavam girando em sua cabeça, dando voltas como um carrossel,  não podia ser verdade,  Jangler devia estar brincando ele devia ter descoberto que ela era um anjo e estava querendo pregar-lhe uma peça,  tinha que ser isso.
Quando Jangler terminou de falar Muriel estava com os olhos marejados e negava com a cabeça, Jangler esticou o braço tentando tocar o ombro de Muriel, no entanto ela deu um passo para trás, como se estivesse com medo dele
-Porque? - sussurrou ela, tão baixo que mal se podia ouvir
-Muriel... - chamou ele, tentando abraça-la,  mas ela se afastou novamente
-POR QUE?!
-Por favor, não se afaste, eu não vou te machucar você sabe disso – suplicou ele
-Você não entende, não sabe oque isso significa – disse ela abaixando a cabeça
- Oque houve ? É tão...é tão ruim assim o fato de eu não ser humano? Pela primeira vez em toda minha vida, eu amei alguém de verdade Muriel, e é você.
- Jangler...você não sabe oque fizemos... - Ela disse entre soluços. - Cometemos um terrível pecado! E a pior parte...é que eu não me arrependo.
- Muriel, do que você está falando? - perguntou ele apreensivo
- E-eu não sou humana... sou um anjo - declarou ela.
Um silêncio devastador se fez presente, ambos estavam tão chocados e confusos que não sabiam o que fazer a partir dali. O fato de eles serem total opostos um do outro e seu relacionamento proibido, não mudou ou diminuiu o que sentiam, quando Jangler avistou os olhos assustados e suplicantes de Muriel todos os seus medos pareceram insignificantes, "Que se dane" pensou tudo o que queria era poder ficar ao lado dela.
- Muriel...olhe pra mim - pediu quebrando o silêncio - Vamos fugir.

The Devil Inside MeOnde histórias criam vida. Descubra agora