Capítulo 1

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Alguns anos depois

O dia havia sido cansativo, após dirigir continuamente durante três dias os irmãos finalmente entraram em uma pequena cidade, precisavam abastecer o carro e encontrar um lugar para passarem a noite, no próprio posto de gasolina receberam indicação sobre um hotel que aparentemente era o único da cidade.
- Estou cansado... - Resmungou Henry assim que entraram no quarto
- Vai dormir, acho que estamos seguros por essa noite.
- Não é isso o que eu quero dizer...estou cansado de tudo isso Raziel, viver fugindo, para mim não dá mais
- O que podemos fazer além disso? - Já tiveram essa mesma conversa uma porção de vezes sem nunca chegar a uma conclusão.
Tinham acabado de completar de 17 anos, escondiam-se desde o seu nascimento, em dias como aquele depois de passar tanto tempo na estrada dirigindo sem destino, era quando se sentiam mais exaustos.
Henry semicerrou os lábios em uma linha tênue perfurando o irmão com aqueles seus olhos cinzas tempestuosos.
- Eu... eu não sei – disse ele por fim, desviando o olhar - Só não acho mais que vale a pena ficar fugindo desse jeito, você não vê que não adianta?
- Eu sei... - Com um longo suspiro, continuou - Olha, que tal tentarmos nos enturmar aqui? Podemos nos matricular em alguma escola amanhã.
Ele acenou positivamente com a cabeça e mesmo que ele tentasse disfarçar o maior conseguiu ver a expectativa brilhando através de seus olhos.
- Okay, nós podemos resolver as coisas amanhã, agora vai tomar um banho antes que seu cabelo ganhe vida e mate algum de nós – falou tentando mudar de assunto.
Ele puxou uma mecha loira que estava caída em sua testa até que pudesse olha-la
- Me admira não ter acontecido ainda – respondeu, deixando a mecha de lado novamente já virando em direção ao banheiro tirando a camisa verde que usava e desabotoando o jeans surrado antes mesmo de fechar a porta.
Quando ficou sozinho o moreno olhou para o espelho que ficava ao lado da cama para ver seu estado depois de passar praticamente 3 dias acordado.
Assim como seu irmão seus cabelos estava a alguns passos de um dread natural, o tom escuro contrastava com a pele clara e acentuava as olheiras fazendo com que ganhasse um ar fantasmagórico, as pupilas tão dilatadas que quase não era possível enxergar o dourado de seus olhos.
Isso já era quase um estilo vindo dos irmãos, não tinham muito tempo para perder com "essas coisas", afinal suas vidas tinham questões muito mais importantes, realmente nada foi fácil desde o maldito dia que nasceram, a começar por sua família.
Você sabe o que acontece quando um anjo e um demônio se relacionam? Bom não é uma coisa que as pessoas param para imaginar já que é profundamente irônico as duas criaturas mas opostas do universo ficarem juntas, isso claramente infringe incontáveis regras, os anjos são criaturas unanimemente imaculadas servos do céu enquanto os demônios são o que há de mais envolto em escuridão, quando essas duas criaturas se relacionam a pureza do anjo é completamente manchada e obviamente ele não pode mais exercer sua função, tornando-se uma criatura triste e sombria, os chamados "anjos caídos".
Mas nada ruim que não possa ficar pior não é mesmo?
Se por um acaso todo o azar existente no mundo pairar sobre essa relação, eles vão gerar uma criança, uma criatura que não pertence ao céu nem ao inferno, um ser que não se encaixa em lugar nenhum.
E essa é a história do nascimento dos gêmeos Raziel e Henry, sim gêmeos.
Na opinião de Raziel Henry foi de tudo de bom que sobrou dessa história.
Quando Henry voltou, estava apenas com uma toalha branca amarrada na cintura, os cabelos estavam desalinhados com alguns fios colados em seu rosto, era difícil aceitar que aquele era meu irmãozinho franzino que se escondia atrás de mim quando alguém chegava perto.
Pensou Raziel,  aos 17 anos Henry tinha cerca de um metro e setenta, uma pele alva e apesar de não ser musculoso tinha um corpo definido.
-Por que você está me olhando?
- Porque você está desfilando só de toalha na minha frente garoto propaganda, é meio difícil não olhar – disse cruzando os braços.
-Gosta do que vê? - perguntou, jogando o peito para frente e colocando as mãos na cintura
-Vai se vestir!- respondeu, jogando um travesseiro sobre ele.
- Você não respondeu - Disse Henry com um sorriso travesso no rosto.
- Minha vez de tomar banho.
Entrou no banheiro batendo a porta atrás de si.
Ficou debaixo do chuveiro por um longo tempo, pensando no quão complicado seria o dia de amanhã, era difícil não perceber que ficar fugindo estava a tempos perturbando Henry e já tinha pensado em outras alternativas, essa cidade parecia o lugar certo para se fixarem pelo menos por um tempo, talvez essa cidade pequena sem aparentemente nada a oferecer e completamente perdida no tempo fosse exatamente o que precisávam.
Mas mesmo assim não conseguia relaxar, quanto tempo demoraria para encontra-los novamente? O que poderiam fazer para impedir isso?
Levantou a cabeça deixando que a água caísse diretamente em seu rosto. Por que? O que meus pais tinham na cabeça? Gostaria que eles apenas pudessem ter resolvidos seus próprios problemas ao invés de sumirem e apenas deixa-los para nós. Pensou, cerrando os punhos frustadamente.
Quando saiu do banho as luzes do quarto já haviam sido apagadas, restando apenas um pequeno abajur que ficava posicionado logo ao lado da cama de casal, seu irmão já estava dormindo, enrolado no lençol branco deixando apenas uma perna de fora. Deitou a seu lado apagando a última luz e logo em seguida mergulhando num sono profundo.
Já era cerca de 10 horas da manhã, o loiro pensou que seria bom deixar o irmão dormir mais um pouco, mas por fim acabou aguentando apenas alguns minutos
-RAAAAAANZ, ACORDAAAA – gritou, enquanto puxava o lençol do maior, que apenas se encolheu abraçando os próprios joelhos.
Mas o menor não desistiu pegou o travesseiro que repousava ao lado da cabeça do moreno e começou a golpeá-lo com ele, até que finalmente se rendesse.
Mal terminou de se sentar, pegou também seu travesseiro arremesando-o em cheio no rosto do loirinho fazendo com que caísse deitado ao lado da cama, quando olhou para o lado Henry estava no chão segurando o travesseiro com a cara mais inocente desse mundo.
- Bom dia Ranz - disse ele com um sorriso deslavado estampando o rosto
- Você não aprende não é mesmo? - se limitou a dizer, como resposta o outro  apenas deu de ombros despreocupadamente
- Temos muito o que fazer hoje acho bom sair da cama logo - ele disse jogando o travesseiro de volta na cama.
- Já montou o cronograma? - perguntou se espreguiçando
- Mais ou menos, eu dei uma pesquisada, tem apenas uma escola nesse fim de mundo que tenha ensino médio, uma escola pequena e sem muitos méritos, mas não temos muitas opções, não é? - teve como resposta um aceno negativo com a cabeça - Foi o que eu pensei, continuando, vamos matricular no terceiro ano.
- E você acha que vai ter algum problema para acompanhar a matéria ou algo assim? - Perguntou apenas para checar se Henry estava realmente lidandobem com tudo isso, mesmo sem nunca terem frequentado uma escola desde muito novos sempre estudaram em casa ou onde quer que estivessem.
Ele apenas arqueou umas das sobrancelhas, foi sua vez de dar de ombros, Henry apesar de muito novo já tinha o equivalente a um nível universitário em medicina, engenharia mecatrônica, e informática avançada.
- É com você que estou preocupado maninho, não precisa ter vergonha de me pedir ajuda está bom? - o irmão sorriu a provocação afinal era tão qualificado quanto ele porém não havia focado tanto nos livros, apesar de ser inteligente dedicou a maioria de seu tempo livre em seu corpo, aprendeu diversas artes maciais, principalmente as orientais, e teve um cuidado especial ao aprender a lidar com armas, tornando-se sem duvida alguma um especialista 
- Haha muito engraçado Henry
- Enfim, temos que sair realmente já está ficando tarde e eu já paguei a conta do hotel
- Já estou indo – disse levantando-se e colocando a mesma calça jeans da noite anterior que havia largado  no chão mesmo
- Vou te esperar no saguão - Disse o loiro pegando sua mochila, colocando nas costas e saindo.
Assim que terminou de se vestir, pegou a chave do carro e seu celular que estavam em cima da cabeceira da cama e seguiu para o saguão, felizmente não cruzou com ninguém em seu caminho. O saguão não era muito grande, uma porta de vidro deixava o ambiente claro, em cada lado dela repousavam um vazo de plantas, as paredes em tons claros assim como nos quartos contrastava com o piso escuro feito de madeira, no canto da sala numa pequena recepção estava uma garota loira que parecia ser apenas alguns anos mais nova que ele, ela vestia um vestido branco e deixava os cabelos presos num rabo de cavalo, ela piscou em sua direção, porém ele preferiu fingir que não tinha notado desviando o olhar para outra direção.
Henry estava de pé ao lado da porta, vestia mesma calça jeans escura da noite passada e uma camisa também preta, assim que avistou o irmão pegou novamente a mochila que tinha jogado no chão perto de seus pés.
- Pronto? - Perguntou o mais velho assim que o alcançou
- Claro
- Você conseguiu o endereço? - perguntou enquanto andavam até o carro
- Sim -  disse o menor balançando seu celular com o endereço já programado.
Depois de algum tempo já era possível avistar a construção em meio as montanhas repletas de vegetação, o prédio cinza de cerca de 4 andares ficava à alguns quilómetros da última construção, estacionaram o carro numa vaga bem em frente a porta de vidro que levava a secretaria, o estacionamento que ocupava toda a frente da construção estava completamente deserto, sendo que os poucos carros dos funcionários deveriam estar em outro estacionamento.
Assim que desceram do carro deram um pequena olhada pelo redor
- Bom, é maior do que eu pensei que seria – Raziel disse por fim
Henry apenas assentiu com a cabeça, seguiram para entrada, porém assim que colocaram os pés no primeiro degrau tiveram a desconfortável sensação de estarem sendo observados
- Henry, sentiu isso?
- Achei que era só coisa da minha cabeça - disse ele, travando a maxilar, olhou novamente ao redor, mas não notou nada em especial, a vegetação densa que rodeava o prédio poderia abrigar qualquer tipo de coisa, optaram então por não dar grande importância a isso e continuar com o que vieram fazer ali.
Porém assim que viraram novamente para as portas de vidro ouviram um grito agudo e estridente.

Continua

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⏰ Última atualização: Feb 01, 2017 ⏰

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