Quatro

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Os garotos estavam mortos para mim. A única questão era: Por que eu não
havia pensado nisso antes?
Eu sabia que a idéia era genial. Mas seria legal se minha melhor amiga
parasse de me olhar como se eu tivesse fugido de um hospício.
— Pen, você sabe que eu te amo, mas...
Lá vamos nós.
Estavamos em uma reunião de emergência (acompanhada de batatas fritas com queijo derretido, necessárias para se recuperar de um fora) na lanchonete perto de
casa, menos de uma hora depois de meu surto de inspiração. Tracy tomou um gole de seu milk-shake, absorvendo meu longo discurso sobre todos os problemas que os garotos me causaram ao logo dos anos. Eu ainda nem tinha chegado a parte sobre o clube e a decisão de nunca mais namorar.
— Sei que você está chateada, e tem toda razão de estar — disse Tracy. —
Mas nem todos os caras são maus.
Revirei os olhos.
— Ah, é? Será que devo repassar suas listas dos dois últimos anos?
Tracy afundou na cadeira. Todo ano ela fazia uma relação dos caras que
queria namorar. Passava o verão inteiro comparando as opções antes de finalizar a
lista para o começo das aulas, com os caras assinalados em ordem de preferência, com base em notas para beleza, popularidade e beleza.
Definitivamente a lista causava mais sofrimento do que valia a pena.
Tracy ainda não saíra com nenhum dos candidatos. Na verdade, ela nunca tinha tido um namorado. Eu não entendia por que. Ela era bonita, engraçada, inteligente e uma
das amigas mais leais e confiáveis que alguém poderia ter. Mas, como se eu
precisasse de outro exemplo de por que os garotos não prestam, nenhum dos caras da McKinley parecia achar que ela era uma menina para namorar.
Sorte dela, pensei. Mas Tracy não via as coisas dessa forma.
— Não sei do que está falando — disse ela.
— Tá bom. Então quer dizer que você não tem uma nova lista pronta para ser avaliada?
Tracy colocou a bolsa na cadeira ao lado da sua.
É claro que ela fizera uma nova lista. Só tínhamos mais alguns dias de férias antes do inicio do terceiro ano.
— Tanto faz. — ela bufou. — Acho que deveria simplesmente jogá-la fora,
pois, de acordo com você, todos os homens são idiotas.
Eu sorri.
— Agora estamos fazendo progresso. Vamos queimar a lista!
Tracy gemeu.
— Você está definitivamente louca. Pode falar serio por um segundo?
— Estou falando serio.
Agora foi Tracy quem revirou os olhos.
— Ah, vá!, Nem todos os homens do planeta são seres humanos horríveis. E seu pai?
— E Thomas Grant? — devolvi.
Tracy ficou boquiaberta.
Ok, talvez eu tenha pegado pesado. Thomas estava na lista do ano passado. Ela passou o semestre inteiro dando mole para ele na aula de química. Finalmente, ele perguntou se ela estava livre no fim de semana. Tracy ficou superempolgada...
até ele mandar uma mensagem de texto uma hora antes do horário em que deveriam se encontrar dizendo que tinha “rolado” algo. Então ele a ignorou pelo restante do ano. Sem explicação, sem desculpas, nada.
Típico dos homens.
— E Kevin Parker? — pressionei.
Tracy cravou os olhos em mim.
— Bem, não é minha culpa se ele não sabe que eu existo.
O nome em primeiro lugar nas listas de Tracy era sempre o mesmo: Kevin
Parker, o maravilhoso jogador de futebol americano do ultimo ano. Infelizmente,  Kevin nunca nem sequer notara a existência de Tracy. Quando eu namorava Derek,
convidava Kevin e seus amigos para irem a minha casa com o único propósito de fazer com que ele a conhecesse. Mas ele nunca deu a mínima para ela. Uma das
únicas razões pelas quais aturei Derek por tanto tempo foi porque Tracy precisava de sua dose diária de Kevin Parker. Pensar naquela lista e em como ela ditava a felicidade de Tracy me fez querer arrancá-la de sua bolsa e rasgá-la em pedacinhos. Porque eu sabia que — um por
um — ela teria de riscas os nomes, e que terminaria aos prantos.
Tracy suspirou e se recompôs.
— Este ano vai ser diferente — ela jurou. — Não sei, estou com um
pressentimento muito bom.
Ela pegou a lista e começou a olhar com esperança para os candidatos.
Eu tinha mesmo acreditado que Tracy entenderia minha necessidade de
nunca mais namorar? Ela não pensava em outra coisa que não fosse namorar. Desisti... por enquanto.
Tracy não era a única que tinha um bom pressentimento em relação ao ano.

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