Era o primeiro dia de Nico Di Angelo no hospital psiquiátrico de New York e o garoto não poderia estar mais... obscuro. Era claro que Nico sabia o motivo de estar ali. E talvez, ele se encaixasse naquele local. No meio daquele tanto de gente solitária e instável, poderia haver um lugarzinho para o filho de Hades.
O pálido garoto havia decidido não ficar em nenhum dos acampamentos destinados à semi-deuses, depois do final da guerra contra Gaia. Afinal, ele era ciente de que não se incluía em nenhuma das duas comunidades, que todos achavam tão maravilhosas.
Era óbvio que Reyna faria de tudo para vê-lo lá. O arrastaria para atividades, o empurraria para pessoas novas, faria todo mundo vangloriar o garoto, por sua bravura e coragem durante as batalhas... Assim como Jason. Mas talvez o garoto não quisesse isso. Não depois de Bianca. Pelos Deuses! Como ele sentia falta de sua irmã. Nico ainda a via em sonhos. Às vezes ela perambulava por aí, em formato de espírito. Mas não era a mesma coisa. Lutar ao seu lado, compartilhar sentimentos, ter conversas sinceras... A morena fora uma das únicas pessoas que o garoto confiava. Confiava de verdade. Nico deixaria a sua vida nas mãos dela. E agora, ela simplesmente... Tinha ido embora. E por isso, Nico, cegamente, culpava Percy Jackson.
Percy... Esse nome provocava tantas sensações no filho de Hades. Tantos sentimentos, tantas emoções e lembranças e a única coisa que Nico poderia descrever era um frio na barriga. Um imenso frio em sua barriga. Percy fora o primeiro amor de Nico. A primeira pessoa que ele queria pra si e somente para si. Que enchia seu coração de paixão e tirava o ar de seus pulmões. Desde então, o garoto havia feito de tudo para chamar a atenção do moreno. Mesmo sabendo que não havia uma remota chance do filho de Poseidon sequer olhar pra ele com outros olhos.
Nico sofreu. Mesmo que não chorasse, estava praticamente de luto e quase todos seus amigos conseguiam ver isso. Andava mais pelas sombras do que pela terra e seu rosto andava pálido como papel. Muito mais do que um dia já havia estado, Nico se sentia quebrado por dentro. Quebrado de se perder no azul dos olhos do moreno, de vê-lo com Annabeth, de saber que eles nunca poderiam ficar juntos.
Nico se resumia à intensidade. Então, aos poucos, a enxurrada de amor que o garoto sentia por Percy, se reduziu à um extremo ódio. Ódio por ele ter deixado Bianca morrer em seu lugar. Ódio por ele mal ter se importado. Ódio por ele nem ter perguntado como o filho de Hades estava. Ódio por ele nunca ter notado Nico. Um profundo ódio, que no fundo era apenas um amor incompreendido e nada recíproco. Nico só queria segura-lo em seus braços. E Percy nunca havia pensado em nada disso.
Com a decisão do filho de Hades de se afastar de ambos os acampamentos, seu pai resolveu que a única alternativa para manter-lo seguro, era coloca-lo em algum lugar que lhe fornecesse comida, bebida, roupas e conforto sem que o garoto ficasse perambulando por aí, à mercê de monstros e inimigos em potencial. Afinal, Nico ainda não estava nem um terço curado da batalha. Aquela guerra havia feito buracos imensos no moreno. Ele ainda estava absolutamente exausto das viagens nas sombras e das dezenas de "pulos" que havia dado com Hedge, Reyna e Atena Partenos em suas "costas". O garoto precisava de um local seguro para recuperar as suas forças. Algum lugar protegido pela névoa, que disfarçasse o seu forte odor de de semi-deus; que o deixasse à salvo. Nada melhor que um hospital psiquiátrico.
Nico estava sentado sobre a ponta da cama do quarto 21, com as suas mãos pálidas soltas sobre as suas coxas cobertas pelo tecido preto de seus jeans. Seus olhos, fixos na parede mal pintada do lugar, com as suas mechas escuras, ainda caindo sobre o seu rosto, quando a porta do dormitório se abriu. A luz exalada por ela e pela presença astuta de uma pessoa ali, o incomodou, o que fez com que Nico deixasse escapar um grunhido baixo, quase inaudível dentre seus lábios. Ele ergueu o olhar calmamente e notou um garoto em sua frente.