Lembrança I

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Obs.: Foto original;

Eric Lawrence e a resposta que nunca vem

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Eric Lawrence e a resposta que nunca vem

Momentos. Vem e vão. Nunca param. Nunca esperam. Nunca há respostas, mas as perguntas se amontoam desordenadamente como minhas roupas no cesto.

Outro dia aquele garoto me parou na rua, dizendo que queria conversar.

- Oi, tudo bem? - disse. Tão automático, robótico, sem profundidade.

Eu não acredito. Não acredito! Não acredito que os seres mais inteligentes do nosso planeta se deixem levar por uma rotina tão superficial e sem finalidade. Eu não acredito que eu mesma deixe com que isso aconteça.

As imagens do lado de fora corriam apressadas, e as pessoas ao meu redor pareciam tristes e cansadas.

Uma musica começou a tocar no meio do ônibus, era um homem tocando um instrumento de sopro que eu não lembrava o nome.

A musica invadiu o lugar, expandindo como algo sobrenatural. Fechei os olhos quando a onda sonora passou por mim, um sorriso se alargou em minha boca. Olhei em volta, mas ninguém tinha percebido a imensidão do ato simples que aquela pessoa tinha feito. Bem, não era a primeira vez em que não percebem nada.

Aquilo estaria na minha lista de: "coisas pelos quais ser grata" quando eu deitasse na minha cama anoite.

As nuvens contam histórias, as pessoas carregam luz, a grama contempla sua existência, mas ninguém vê. Estamos preocupados demais com nossos afazeres, com nossos deveres inúteis que acreditamos ser tão úteis.

Ofereci meu lugar para uma mulher, ela parecia cansada e submersa nas preocupações do dia a dia, que eu nunca descobrirei quais eram, mas ela não aceitou, então eu só segurei sua bolsa.

Respirei fundo, o dia parecia tão sublime e completo, mas logo eu me esqueceria disso e a onda de pessimismo desceria sobre mim no dia seguinte. É assim que nós humanos somos, nos esquecemos muito rápido do segredo da felicidade. Mas eu não queria ser assim, eu ia continuar lutando para mudar a mim mesma e quem quisesse ver as coisas como eu via.

O rosto dele veio em minha mente. A pele clara, os olhos mais escuros que qualquer coisa que eu poderia pensar, assim como os cabelos. As sobrancelhas grossas e a boca fina. E pela primeira vez eu não me sentia uma completa idiota por pensar nele. Naquele momento ele era mais real que qualquer coisa a minha volta, nunca tive tanta certeza de que eu voltaria a vê-lo.

- Está vendo? Está vendo como o mundo é lindo? - eu lhe disse uma vez, quando estávamos sentados em baixo de uma arvore, olhando a cidade lá em baixo.

- Eu não vejo nada disso - ele me disse rabugento.

- Como não? Olha isso. - eu peguei uma folha no chão e lhe mostrei. - olha cada detalhe, cada listra...

- O que tem?

- Eric, como o que é que tem? Nem parece aquele garoto sonhador que me mostrava as estrelas.

Seu olhar continuava alheio.

- Sabe, há muito tempo atrás Deus estava olhando uma arvore e ele lembrou de você, ele sabia que a filha, da filha, da filha dela e assim por diante...

Ele sorriu, sabia que eu começaria a falar coisa com coisa, mas que no final faria todo o sentido pra ele.

- E que um dia seria essa arvore aqui, nos protegendo do sol.

- Mas esta anoitecendo.

- Deixa de falar essa palavra: "mas". Você só usa ela pra tentar provar que eu estou errada.

- Se você esta errada ou não eu não sei, o que eu sei é que você me deixa melhor, muito melhor. É só que... hoje eu não estou me sentindo muito bem... Sabe, as vezes parece que eu sou só mais um nesse mundo tão grande e não faço diferença nenhuma...

- Não tem Jesus Cristo?

- Ah, lá vem... Eu sei que Ele me ama e ama todo mundo... - ele começou a dizer, mas parou respirando fundo. - As vezes é muito difícil acreditar que isso realmente existe... um amor tão grande assim e Ele deixar tanta coisa ruim acontecer...

- Eric... - chamei a atenção dele.

- Carol. - ele fingiu chamar a minha.

- Se todo mundo fosse perfeito e só você precisasse da expiação, será o que que Ele faria?

- Não sei. - Eric respondeu isso, mas ele sabia o que eu diria em seguida.

- Ele criaria o mundo todo só pra você, e sofreria tudo só por você, mesmo que você não aceitasse o que ele queria te oferecer.

Os olhos dele estavam cheios de lagrimas, mas não só pelo que eu disse, ele parecia ter mergulhado na sua infância e lembrado de quando tudo ao seu redor parecia esplendido. Será o que foi que tinha mudado?

- Eu queria poder sentir o mesmo que você. Sentir que tudo isso é real e ter certeza que tudo é verdadeiro.

- Mas eu não tenho certeza.

Ele olhou pra mim espantado, os olhos vermelhos como a blusa que estava usando.

- Eu preciso de tanta força pra acreditar as vezes, preciso tanto... - continuei. - Preciso lutar contra mim e as vezes nem pareço sincera dizendo pra mim mesma que tudo isso é real.

- Então por que continua tento esperança?

- Porque eu preciso. Já percebeu que tudo parece triste e complicado quando não se acredita em nada. E a paz que eu sinto, como se tivessem lavado meu coração. E tudo parece lindo e possível. Mesmo se um dia eu descobrir que tudo isso não passa de uma mentira, não consigo encontrar outra forma de me sentir completa.

- Você é louca. - ele sorriu beijando o auto da minha cabeça. - Você é louca e eu te amo.

Eu coloquei a mão em seu peito, onde se encontrava o coração.

- Foi você que me ensinou isso.

- Eu?

- Se eu não acreditasse em você, não acreditaria em mais nada.

O ônibus balançou ao passar por uma estrada esburacada e eu me assustei.

Eu o encontraria. Nunca essa certeza fora tão grande em mim.

01/02/17

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01/02/17

Dedicado à lembrança do garoto que é meu lar;

Poemas de VarandaOnde histórias criam vida. Descubra agora