12 Contos de tirar o fôlego

A Fronteira

***Nota:  Algumas pessoas me disseram que ficava difícil ler um conto de mais de 60 páginas como um capitulo só do livro 12 contos de tirar o fôlego, então fiz o conto separado no livro que chamei de 12 contos de tirar o fôlego: A Fronteira. É o mesmo conto só que divido por capítulos. Bom vou atualizar os dois para ver qual é o melhor :) 

Ai vai a história. **** 

Yuri era o um guarda da fronteira que tinha como missão impedir que os estrangeiros entrassem em seu país. Irina era uma mulher que precisava deixar seu país para salvar sua vida e fugir de seu passado que insistia em persegui-la.

Quando os dois se encontraram naquela noite, a neve cobria o solo como um manto sagrado, e Yuri soube que teria que tomar uma decisão que mudaria completamente suas vidas.

O começo

Os povos se mantiveram em guerra até que um acordo internacional dividiu as terras em dois estados independentes: o Leste e o Oeste. Houve um cessar-fogo, mas o ódio e o preconceito entre as nações continuaram. A tolerância e convivência entre ambos praticamente não existia e a fronteira que ligava os territórios era vigiada dia e noite para que não houvesse a possibilidade de nenhum cidadão cruzar para o estado vizinho. Quando uma tentativa assim acontecia, os réus eram tratados com violência e severidade.

Atualmente, o Oeste é regido por um governo militar que mantêm a paz com punhos rígidos, cuida do povo e continua mantendo a aversão ao povo vizinho. O Leste, por sua vez, vive uma situação obscura, choques de interesses geram brigas e disputas pelo poder. Crescem os conflitos entre governo e os rebeldes que não aceitam a política atual de administração. A incerteza é tamanha que muitos desconfiam que o Oeste financia os rebeldes com a intenção de desestabilizar o poder do governo, o que só aumenta mais ainda o ódio entre os povos de ambos os estados e é nesse clima hostil que chegamos ao dia de hoje, 21 de Janeiro.

O pedido

A via Krimberleng poderia ser considerada como uma rua comum, mas em seu final uma residência sobressaia-se com grande disparidade em relação as outras. Seus três andares desenhados em um estilo vitoriano glamoroso faziam da construção uma obra impossível de não ser notada por qualquer viva alma que circulasse pelas imediações. As angulações do telhado lhe davam um charme todo especial, completado pelas telhas de ardósia em tons mais escuros, tornando a harmonização praticamente perfeita. Janelas com divisões de vidros quadriculados e venezianas de madeira pintadas em tons vibrantes se espalhavam pelos andares. A fachada possuía um alpendre vistoso cercado de balaústres uniformes que recepcionavam os visitantes.

A garagem ampla e espaçosa abrigava naquela noite quatro carros. Um nacional 'comum' enquanto os outros três luxuosos pertenciam a nacionalidades estrangeiras. Com a soma dos veículos importados podia se ultrapassar facilmente a cifra de um milhão da moeda corrente.

Os vidros do primeiro andar permitiam que parte da claridade ultrapassasse sua quase transparência. A neve cobria o quintal com seu manto branco e congelava a água da piscina. O frio que afligia o clima exterior nem ousava entrar dentro daquela habitação. No interior do recinto uma decoração exótica enfeitava o ambiente. Em uma parede troféus empalhados com cabeças de animais ficavam visíveis para quem adentrasse no local. Na parede oposta, armas antigas se dispunham presas em suportes espalhados aleatoriamente. Não existia um sofá propriamente dito que pudesse acomodar corpos confortavelmente sentados. Em vez disso, almofadas grandes e fofas se espalhavam ao redor de um tapete de urso que ocupava a posição central no chão. Ao seu lado um balde repleto de gelo abrigava uma champanhe, que com certeza muitos em sua vida nunca provariam seu sabor devido ao preço que ela custava. Naquele lar, porém, ela poderia ser considerada como uma bebida comum do dia a dia e seu conteúdo beirava a metade da garrafa. A madeira da lareira crepitava devido a ação da temperatura do fogo.