Capítulo 1 - Manu

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"O sol que brilha em Ipanema

E passeia sobre as minhas veias

O sol bronzeia Ipanema

E ao mesmo tempo o morro incendeia

A vida está em Ipanema

Vamos até lá

Pra ver se vai continuar

Verdades, mentiras

Estão em Ipanema

- Papas na Língua     

 25 de julho de 2013

Mais um dia. É com esse pensamento que minha cabeça desperta na segunda de manhã. Mais um imenso e comum dia na vida de Manuelle Bragança.

Costumo dormir de janela aberta e cortinas escancaradas, só pra sentir o calor dos primeiros raios solares invadindo o meu quarto, hoje não é diferente. Sorrio, me espreguiçando, aproveitando os últimos minutinhos de serenidade antes de me levantar.

- Bom dia, Gato. - Ainda estou de olhos fechados quando sinto meu gato peludo se esfregando nas minhas costas. Sinto como se o centro gravitacional da terra fosse bem na minha cama, me puxando para ela sem descanso.

Insistente, Gato começa a miar.

- Já sei, seu gato manhoso, você quer comida.

Gato é o meu gato. Sim, esse é o nome dele. Escolhi esse nome porque é como ele, simples mas cheio de originalidade, afinal quem chama um gato de Gato? Encontrei ele numa caixa de papelão em frente a minha portaria faz dois anos e meio.  Gato parece ser vira lata, tem uma pelugem arrepiada com cores irregulares, era o mais estranho da caixinha, perfeito pra mim. Infelizmente minha mãe não me deixou ficar com o resto dos gatinhos que estavam com ele, mas como moro em um condomínio, foi fácil arrumar lares para todos.

Calço minhas pantufas de dragão - barra dinossauro barra dos pés da Tia Alice, ainda não sei identificar, todos tem pés verdes com garras - e finalmente me levanto.

A primeira coisa que faço todos os dias é agradecer por mais uma oportunidade de viver. Faço isso indo até a janela e admirando minha vista incrível. Moro no Rio de Janeiro, mais precisamente em Ipanema. Meu condomínio fica em frente a praia, por esse motivo a brisa que entra no meu quarto todos os dias de manhã é deliciosa. Respiro o ar fresco – ou o menos poluído que se pode conseguir numa cidade movimentada como essa - e reúno coragem pra me enfiar debaixo de uma ducha fria. Evito me olhar no espelho, incapaz de substituir a maravilhosa imagem do mar pelo meu reflexo de zumbi. 

Saio do banho, agora com uma aparência mais apresentável e vou pro espelho passar a costumeira maquiagem leve. Pra maioria das pessoas, um dos problemas de morar no Rio de Janeiro é que sempre está calor demais para usar maquiagem. Já pra mim, a vantagem é que sempre está calor demais para usar maquiagem. Pensa bem, isso é maravilhoso! Não preciso passar horas em frente ao espelho e ainda tenho uma desculpa para isso. Não é que eu não goste de me maquiar, eu adoro. Mas sempre preferi um rosto mais natural, a combinação rímel mais bronzeado de praia sempre foi minha melhor amiga. Combina com meus cabelos escuros e meus olhos amarelos. Por isso, não demoro muito e vou procurar uma roupa para vestir.

Escolho short jeans e uma camiseta de estampa tie-dye que eu mesma fiz. Não sei se em algum outro estado é permitido frequentar a faculdade nesses trajes, mas esse é o Rio de Janeiro.

Quando termino de calçar os tênis dou uma ultima olhada no espelho. Apenas dou uma sacudida no cabelo molhado e decido que não vou secá-lo. Eles são compridos e ondulados, não me dão muito problema quando secam ao natural e gosto da sensação dos fios molhados nas minhas costas.

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