--- O que você está fazendo aqui?? -- falei irritada, mas discretamente. Adam riu. Não sabia que ele era amigo do Jamie.
--- Estava me seguindo?--- Vai se ferrar, Adam. -- falei revirando os olhos. -- Se bem que não seria tão difícil te seguir até tuas bocas de fumo, ou fábricas de droga, ou não sei o que lá que você comanda pra ter esse status que você tem mesmo sendo esse babaca.
-- Não é porque eu tenho uma perna mecânica que não sou rapído. Me esconderia antes mesmo de você achar que me viu -- disse ele com um sorriso de lado no rosto, ignorando o fato de eu ter falado que ele era um drogado vagabundo na cara dura. -- E além disso, você não é uma das mais rápidas...
-- Aaaa, agora eu entendi. Eu estou bem, fala pro Theo que ele não tem que mandar o filho dele pra toda festa que eu vou. Fale pra ele que eu não bebo.
-- Você está mesmo mandando eu mentir para o meu pai? Você não tem caráter, não? -- Falou ele fingindo se sentir ofendido. Seu pai era como um pai pra mim, mas as vezes era superprotetor demais. Mandou o Adam me cuidar nas minhas duas primeiras festas, mas de resto eu duvido que tenha realmente me seguido em toda festa pra me cuidar. Ele sabe muito bem que não preciso de babá, e ele sempre anda com o mesmo tipo de gente, o povo que dá as melhores festas da cidade. Entrar de penetra em uma festa era algo fora da realidade de Adam Foster. Falei isso mais para tirar uma com a cara dele, mas nitidamente não tinha dado muito certo.
-- Sem caráter é você, que fica me seguindo como um idiota pelas festas, credo!
Ele saiu fazendo barulho, e eu como sempre me segurei pra não meter o socão nele. Adam convive comigo desde quando éramos bebês. Nós no começo da infância éramos melhores amigos, mas depois de um tempo fomos nós afastamos. Aos 12 anos ele começou a implicar comigo, e 10 anos depois, isso ainda acontecia. Era ridículo.
Ignorando o fato de estar brava só pelo fato de ter encontrado ele lá, eu fui pegar uma bebida e procurar meus amigos. Depois de dois copos de alguma-bebida-alcoólica-qualquer-que-estava-sendo-servida eu não lembrava mais de nada.
Tudo o que sentia era medo. Vi alguém me carregando, não sabia quem era. O cheiro era bom. Não lembro como cheguei em casa, só lembro de ouvir um rangido leve a cada passo que a pessoa dava.×dia seguinte×
Acordei tarde, não sabia que horas eram. Abri os olhos devagar e percebi que minha cabeça estava prestes a explodir de tanta dor. Levantei da cama no meu tempo e fui pro banheiro. O que tinha acontecido noite passada? Quem me trouxe de volta pra casa? E o mais importante: Onde estava meu cílios postiço?
Entrei no meu closet, coloquei um cropped e uma calça, peguei minhas chaves e fui almoçar com as garotas no Hippie Grill. O Hippie Grill era um ponto de encontro entre nós, e todo os domingos almoçávamos lá, e depois íamos pra minha casa fazer um belo de um nada. O lugar, como seu nome, era um lugar hippie, cheio de boas energias e muito carinho. O chef de lá era pai do Adam, e infelizmente o mesmo trabalhava ali.
Chegando lá logo fui surpreendida por um abraço de Theo.
-- Oi minha filha! Tudo bem com você? Adam me falou que viu você noite passada bebendo, que absurdo é esse? Você ainda é uma criança!
-- Oi Tio Theo! Seu filho não toma jeito em... já tenho 22 anos, sei me cuidar muito bem. Mas obrigada do mesmo jeito, sei que se preocupa.
-- As vezes ainda te confundo com uma garotinha... mas você cresceu e virou essa mulher independente. Eu compreendo. Meu filho que não toma jeito mesmo. tinha que arranjar uma namorada para ver se ele entra nos trilhos de novo. -- falou ele passando a mão em meus cabelos. Meus pais eram amigos dele e, quando era viva, da sua esposa. Por isso o meu contato com o Adam.
Saindo da porta e deixando Theo continuar trabalhando, vi Anne acenando pra mim na nossa mesa, lá no fundo do restaurante, perto do Filtro Dos Sonhos, símbolo daquele maravilhoso lugar.
Me sentei junto delas e logo vieram com todas as perguntas possíveis sobre a última festa,mas infelizmente eu não sabia responder nem metade delas. Aquela festa, depois da mini-conversa-não-muito-conversa que tive com Adam, havia sido mais uma noite em branco pra mim. Mas aquela noite também tinha sido a mais absurda de minha vida, pelo jeito que as garotas me contavam.
-- Você deu um pulo na piscina de roupa e tudo! Ia ser o maior micão mas a gente pulou também, pra todo mundo ir na onda também. -- Disse Anne, rindo e pegando uma batata do meu prato.
-- Sério? Nunca achei que eu iria ficar assim naquela festa! -- falei, me retirando pro banheiro.
Estava andando até o banheiro feminino quando trombei em um garçom.
Derrubando tudo o que havia na bandeja. Que desastre, só podia ser eu mesmo.
-- Sinto mui... Adam?
-- Aurora? O que faz aqui? -- perguntou ele, com um sorriso de lado, se fingindo de sonso enquanto tentava se levantar, antes de pegar as coisas. Ele sabia que todo domingo almoçávamos lá. Eu estendi a mão pra ele, mas ele assentiu com a cabeça como se dissesse "eu me viro". Deixei ele se apoiar em vários lugares pra se levantar, mas quando ele se levantou, deu pra ver que a perna mecânica dele estava bem acabadinha. Senti dó, porque eu sabia que ele não tinha dinheiro pra comprar uma nova então ela além de pequena, estava também estragando, provavelmente de tanto tempo de uso e do tanto de vezes que ele já caiu de skate desde que a comprou.
-- Então agora VOCÊ está me seguindo? -- falei brincando, voltando pra vida real.
-- Acho que não influencia nada nesse nosso encontro o fato de eu trabalhar aqui nos finais de semana né?
-- Acho que não.
Ele sorriu, e que sorrisão ein. Ele tinha covinhas lindas, dentes certinhos e branquinhos, nem sei como, sendo que ele nunca usou um aparelho nos dentes. Devia ser de família.
Mas em meio aos meus devaneios sobre a beleza do Adam, de seu sorriso e de como ele estava cheiroso mesmo trabalhando com comida, eu ouvi tiros.