Wild

59 3 1
                                    

Às vezes eu me pegava pensando nos momentos que criamos juntos quando criança, jogando vídeo game, correndo na rua, subindo nas árvores. Quando estas coisas me vêem eu me questiono sobre o motivo que me faz achar que estou apaixonado por meu melhor amigo, desde que me conheço por gente eu me lembro de estar com ele, nossa relação era praticamente fraterna, algo de irmãos, amizade acima de tudo. Nós sempre nos imaginávamos no futuro, em como nossos carrões atrairiam mulheres, em como ficaríamos ridículos vestidos naqueles ternos caretas e, por mais estranho que possa parecer também pensávamos em como seriam os casamentos com o tema de Batman e Super-Man.

Mas nós crescemos e, tanto pra mim quanto pra ele eu tenho certeza que as coisas mudaram. Eu já não me imagino num carrão atraindo mulheres, eu me imagino no carrão, mas bem... Acho que não atrairia mulheres! Eu ainda quero estar em um terno, mas torcendo para que quando chegar à minha futura casa também tenha alguém vestido em um, para que eu possa tirá-lo tão rápido quanto foi vestido; então cairíamos na cama para uma noite de sexo perfeita e logo depois eu falaria sobre o quanto ele ficava sexy naquele terno ridículo e no quanto ficava mais sexy sem ele. Eu já não penso em casamentos com tema de Batman ou Super-man, eu penso em como seria incrível se apenas nos casássemos. Eu sei, é tolice, mas afinal que garoto nunca criou expectativas assim? Todos têm uma história dessas para contar, mas diferente de alguns desfechos por ai, a minha foi diferente, eu me apaixonei por meu melhor amigo "Hetero", mas olha, ele também se apaixonou por mim!

Há uns dez meses eu me assumi para minha família, nem queiram saber a merda que foi, enfim, resumidamente eu estava fodido com toda a minha família e adivinhe quem foi a pessoa que resolveu me ajudar? Não seria diferente, claro. Enzo (esse é o nome dele) ele estava La comigo, como sempre, desde que éramos crianças, estávamos juntos em tudo. E mesmo naquela noote chuvosa, em que eu liguei para ele chorando e dizendo que queria conversar ele não falhou, veio o mais rápido possível a minha casa e me encontrou ainda chorando em baixo de uma laranjeira que tinha no meu quintal.

Nossa, eu me lembro da tensão que eu senti naquele momento, mesmo com todos os anos de amizade as vezes que choramos na frente um do outro foram mínimas, porém, ele não me pressionou em momento algum, se manteve em silêncio me apoiando enquanto eu chorava ate que finalmente eu resolvi contar. "Sou gay" foi tudo o que eu disse e me calei em seguida, fiquei quieto enquanto lhe observava assimilar aquilo e eu já sentia aquela sensação ruim de que nossa amizade iria acabar, mas não foi assim, ele simplesmente me abraçou e disse "O.k".

Ta "O.k" pode parecer meio seco, mas da maneira que foi dita, bem... "O.k" foi à melhor coisa que ele podia ter dito naquele momento, me faz sentir melhor, me fez acalmar. Todos os dias depois daquele foram turbulentos, mas ele ainda estava lá comigo segurando aquela barra, os olhares tortos das pessoas e quando minha mãe resolvia gritar comigo me chamando de aberração eu sabia que tinha para onde ir até tudo "melhorar". Seis meses depois daquela noite, as coisas estavam mais calmas, de verdade, mas agora tinha algo diferente com ele, eu não sabia o que era, mas como seu melhor amigo eu sabia que tinha algo e então eu lhe perguntei, a resposta que eu recebi foi somente... Um beijo. Eu não sei explicar o que eu que senti, talvez que o mundo estava maluco? Talvez. Mas depois daquele beijo mais coisas voltaram a mudar, desta vez para mim, eu não parava de pensar naquele beijo, mas me recusava a tocar no assunto se ele não tocasse.

Mais semanas se passaram e eu sentia aquele "sentimento" crescer, eu já não podia ficar calado e eu não fiquei, novamente eu fui atrás da minha resposta, de outro beijo? Talvez, admito. Mas desta vez foi diferente eu acabei descobrindo que meu amigo também era gay, sim, muito louco, mas é verdade. Mas diferente de mim, ele não tinha a mesma certeza da sua decisão então digamos que só eu sabia que ele era gay, confuso? Muito, mas bem, resumindo mais uma vez, ele disse que estava "apaixonado" por mim e que nunca tinha sentindo nada assim por outro garoto, questionei e fiz perguntas sobre, mas a resposta era sempre a mesma, "eu não sou gay, talvez eu esteja confuso." Depois dessa resposta ele se calava e me beijava. Estamos nisso até hoje.

E sempre que voltamos juntos da escola paramos em algum beco ou qualquer local afastado onde não possamos ser vistos e lá nós nos pegamos, nos pegamos muito. Às vezes fico pensando nesta espécie de relação que criamos, bem... Eu acho que está tudo dando certo.

Blue Neighbourhood Onde histórias criam vida. Descubra agora