- Senhor! Senhor! Por favor, espere!
- O que você quer agora? - Respondeu o homem com a coroa, que deveria ter entre 40 e 50 anos, para aquele conselheiro que lhe chamava, enquanto subia as escadas em direção à torre mais alta daquela enorme fortaleza.
- O Senhor tem mesmo certeza do que está prestes a fazer? - Questionava, pela enésima vez naquela tarde nublada, o conselheiro que vinha sendo ignorado.
- Mas é claro que tenho! Não é assim que as coisas funcionam por aqui? O Senhor Supremo sempre tem certeza e sempre está correto, não é isso? Pois bem! Eu sou o Senhor Supremo e digo que isso é o certo a se fazer! E ordeno que pare de me amolar!
- M-Mas Senhor... As coisas sempre foram assim, não devem ser mudadas!
- Elas devem, e elas serão! Você não vê, conselheiro? - O olhar do velho se tornou distante, enquanto caminhava pelo último corredor antes da porta que dava para o terraço da torre. - As coisas sempre foram assim porque a minha família sempre quis ser a dona de todo esse poder. Monopolizaram esse título desde a primeira vez em que ele foi mencionado... Mas não existe uma família santa. Todos pecam, todos têm seu egoísmo e suas falhas... - Em frente à porta, o Senhor Supremo se vira e encara o conselheiro, de forma que seus olhos negros, de volta à vida, penetram o homem como se fossem um pedaço do universo exigindo de volta a alma que lhe foi entregue no momento de seu nascimento. - Meus avós, tios, e pai... Todos fracassaram, pois já nasceram com este título, e por não terem feito nada para adquiri-lo, não se viram na necessidade de fazer algo pelo povo e pelo mundo para honrá-lo.
O velho dá alguns passos pra trás, empurrando a porta com suas costas. O vento gelado da tarde num lugar tão alto entra, enquanto a porta de madeira se abre rangendo. Ele se vira, e levanta uma caixa que, assim como a coroa, era pintada com a imensidão do espaço. As duas eram negras, mas não um negro como se houvesse uma tintura dessa cor nelas. Era um negro da falta de luz. Um negro "breu", como o que pode ser visto quando todas as luzes são apagadas e seu olho continua aberto. Em alguns lugares desses dois objetos, haviam pontos com alguma luz que poderiam ser percebidos se fosse prestada bastante atenção. Pontos esses que formavam constelações assim como as da noite.
Assim que a caixa é erguida, com os braços completamente esticados em direção ao céu, é liberada uma onda de energia em forma de círculo, tendo como centro aquele ponto. A onda é tão forte que começa a se espalhar incrivelmente rápido, tentando cobrir o planeta inteiro. Por onde passava, a onda deixava para trás um miasma de coloração roxa-azulada pelo céu e os ventos, mares e árvores se agitavam como se soubessem o que estava acontecendo e comemorassem por isso.
Em instantes, a onda já havia cobrido 1/4 do planeta, e o Senhor Supremo agora aparentava ter em torno dos 60 anos de idade, com sua pele se enrugando e sua energia vital sendo sugada pelo feitiço, enquanto saía de seus olhos e boca em forma de uma luz branca e anil em direção à coroa e, após, à caixa em suas mãos.
- SENHOR! PARE COM ISSO! EU LHE IMPLORO! O SENHOR NÃO IRÁ AGUENTAR! - Gritava o conselheiro, mas com a pouca mana que lhe restava o homem que ficava mais velho a cada segundo mandava mensagens para sua mente, dizendo que ele só precisaria aguentar até o fim do feitiço. E que este foi feito justamente para ser o seu último ato.
As lágrimas tentavam escorrer pelo rosto assustado do conselheiro, mas tamanha era a força do vento que estas eram carregadas por ele antes mesmo de chegarem às maçãs de sua face.
Algum tempo passou e o miasma tocou o último metro restante daquele mundo. Ele brilhou. A atmosfera se tornou densa e a eletricidade estática era tão grande que os ferreiros não podiam tentar tocar em suas ferramentas sem tomarem choques. A caixa se abriu e todo aquele miasma brilhante começou a ser sugado para dentro da mesma, como um enorme tornado. O impacto dessa parte do feitiço foi tão grande, que o recuo dá caixa fez o velho que agora tinha apenas seus ossos, pele, e quase nenhuma vida, cair deitado no chão, com a caixa agora sobre seu peito.
O conselheiro se adiantou, numa tentativa de ajudar seu Senhor, mas antes que pudesse tocá-lo o homem fez um sinal fraco com a mão dizendo para que se afastasse.
A caixa enfim se fechou. Todo o miasma contido dentro dela, que agora era branca como uma luz pura, ao invés de negra. O Senhor Supremo, já não tão supremo assim, abriu um sorriso fraco e, lentamente, deu suas últimas palavras roucas para o conselheiro que esteve sempre ao seu lado:
"Obrigado, meu amigo... Você... Você me serviu bem... Agora já sabe o que deverá ocorrer... Espero que ajud- 'COFF COFF' -Que ajude o próximo tanto quanto me ajudou... Acredite, isso é para o melhor..."
E então sibilou algumas palavras proibidas de uma língua há muito esquecida. Palavras essas que foram proibidas de serem pronunciadas pois transformam sua matéria em energia mágica.
E assim seu corpo começou a se desintegrar, transparecer, e se tornar pura energia. Que, como sua energia vital, foi para a coroa, depois para a caixa, e então fez com que essa levantasse vôo, verticalmente, abrindo um portal no céu, adentrando-o, e fechando-o enfim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Supreme Lord - A Fusão dos Mundos
AdventureQuando o último Senhor Supremo da linhagem Nortenfar chega à metade do prazo correspondente ao seu domínio, ele decide se sacrificar para realizar um feitiço forte o suficiente mudar um pouco as regras. Agora, o maior título de governo existente no...