Capítulo 2 - Felipe Kartoffelchip e o Banheiro

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Assim que toca o sinal da saída, sigo até a mesa de Anna e peço para que ela vigie minhas coisas enquanto vou ao banheiro. Depois de fazer algumas piadinhas a respeito do que eu iria fazer no banheiro, ela concorda e diz para que não demore.

- Okay, Anna. Você é sem dúvidas a garota mais estranha que eu converso...

- Será que isso não se dá pelo fato de que eu sou a única garota com quem você conversa? - Caçoa ela, enquanto ainda ri de suas piadinhas maliciosas contendo eu, o banheiro e as memórias sobre a professora incrivelmente estranha de Química.

- Pra sua informação, eu converso com outras meninas sim!

Tem certas informações que você não precisa jogar na cara de um homem. Principalmente se elas envolverem a falta de garotas e ele for um adolescente. - Pensei comigo mesmo.

- Mesmo? E quais são os nomes delas? Elas tem um corpo físico real? Aqueles apps de namorada virtual não contam! - E mais gargalhadas. Eu conseguia sentir cada célula do corpo dela rindo de mim.

"Mais exemplos de informações... Garotas, isso dói."

- Escuta aqui, elas são reais sim! Tudo depende do quão desesperado por atenção você é! Tchau, estou indo pro banheiro e não vou lavar as mãos só pra você ter que tocar nelas sujas!!! - Resolvi entrar na brincadeira e falei enquanto me segurava pra não rir muito. Fala sério, eu não iria ganhar discussão nenhuma mesmo.

- AI SEU NOJENTO SAI DAQUI! - Ela gritou gargalhando enquanto me empurrava na direção da porta.

Como os dentes dessa menina não pulam para fora como as dentaduras da minha avó? Ela ri de mim o dia todo.

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Entrei no banheiro e fui direto até o espelho. Tanta piadinha pra nada, eu só queria arrumar o cabelo.

Ele é liso, num corte médio pra longo, então embaraça demais, e a cor castanha torna fácil perceber quando não está bem... Fora essa minha mania de estar sempre arrumando ele. É quase como se fosse um TOC.

Estava passando os dedos entre os fios quando a franja acabou caindo nos meus olhos. No susto, pisquei os olhos automaticamente. E foi aí que algo realmente estranho aconteceu.

Quando fechei os olhos, eu estava no banheiro masculino da escola. Mas, quando os abri, a luz branca das lâmpadas fluorescentes tinham sido trocadas pela luz roxa que vinha de uma espécie de Aurora Boreal estranha no céu.

Céu esse, inclusive, que estava no lugar do teto que havia sumido junto com as lâmpadas e a parede na minha frente, da qual eu estava usando o espelho para me olhar.

Com a falta da parede na minha frente, eu conseguia ver campos cobertos de grama que refletiam aquela luz no céu.

No lado esquerdo daquele campo, havia uma depressão no terreno com algo parecido com uma lagoa no ponto mais baixo. Em volta dela, alguns coelhos brancos e beges bebiam água e se escondiam embaixo de pequenos arbustos secos que cresciam nas margens da mesma.

Tentei sair do estado de choque que estava e me forcei a fazer algum movimento. Mas, assim que consegui movimentar um pouco a minha perna direita, os roedores se assustaram e saíram correndo.

No começo pensei ver os arbustos se movendo com as criaturinhas assustadas, mas depois os coelhos se separaram e eu entendi:

Não eram arbustos, e sim, chifres. Galhadas, como as de cervos, só que menores e em coelhos...

Pronto, é oficial, enlouqueci... Sabia que devia ter ouvido a minha mãe e ido naquele terapeuta estranho quando me pegaram lambendo a parte de dentro dos meus sapatos quando eu tinha 8 anos.

Simplesmente travei de novo. Minhas pernas não se moviam, toda a força que eu tinha estava sendo gasta em conseguir respirar, observar aquele lugar e tentativas falhas de raciocínio.

Ouvi um estouro vindo de trás de mim e me virei com o susto. A Aurora Boreal estranha agora mudara de direção e se juntava como uma espécie de tornado no alto de um castelo muito maior do que qualquer coisa que eu já havia visto.

Suas paredes eram azuladas e com uma pouca transparência, como safiras brilhantes que também refletiam aquele tornado de cores em sua torre mais alta. Por dentro podia-se ver uma escuridão gélida.

Nesse momento, senti um enorme frio na barriga. Parecia que alguém entornava nitrogênio líquido no meu estômago, e eu não sabia se era meu amigo "Pânico" ou aquele castelo enorme quem fazia isso.

Na parede à minha esquerda, alguém bateu na porta. Com mais um susto, pude me mover de novo automaticamente e olhar para ela. E então, a voz de Anna saiu de trás do largo retângulo de madeira envernizada - Ei, Lipe, você está aí? Está tudo bem, cara? Você passou mal ou algo do tipo?

Okay, lá fora ainda está tudo normal. Só preciso passar por aquela porta e tudo fica bem de novo. Sem pânico, Felipe.

Mas era só a mente que funcionava, o corpo ainda estava paralisado com aquela sensação de pressão em todos os nervos. Era como se todos os meus músculos tivessem se enrijecido por conta própria.

No céu, um guicho alto e rouco. Direcionei meus olhos naquela direção e uma criatura enorme voava em minha direção.

Imaginem um dragão europeu, daqueles estilo os dos livros de Eragon, totalmente negro. Agora coloquem as pernas frontais coladas nas asas. Afiem um pouco mais os dentes. Aumentem o comprimento da cauda e divida a ponta da mesma em três partes, e em cada parte faça nascer um osso, como se fosse uma cauda-tridente-da-morte.
Agora, no lugar daquelas escamas mais altas nas costas que os dragões costumam ter, tipo as placas dos stegosauros, coloquem ranhuras por onde saem chamas azuis.

Se você conseguiu formar essa coisa na sua cabeça, parabéns, você está vendo o que acabou de se tornar o maior medo da minha vida.

Me joguei no chão enquanto a criatura dava um rasante por cima do banheiro e pedi ao universo que pelo menos me deixasse morto ali naquele lugar mesmo, caso eu sujasse as calças. Não queria que as pessoas me encontrassem no banheiro do colégio tostado e temperado, se é que vocês me entendem.

E assim, de repente, o barulho parou.

Supreme Lord - A Fusão dos MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora