UMA VIDA

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Na Floresta de Mulata, na divisa de Capitão Deódoro e Soldado Olavo, um pouco distante dos únicos dois vilarejos existentes naquela região considerada por muitos como inóspita, vivia a garota Carla e sua avó que moravam em uma casa solitária em meio às árvores. Quando Carla completou dez anos, ganhou de sua avó um elegante capuz com uma capa que cobria nada mais que sua costa e toda a extensão de suas coxas, sua cor era forte, um vermelho sangue. E assim, ficou conhecida por todos na floresta como Chapeuzinho vermelho.

A mãe de chapeuzinho veio a falecer de câncer no pâncreas quando a menina ainda tinha 5 anos de idade, a notícia não abateu somente a garotinha mas  como também sua irmã mais velha, que suicidou-se logo em seguida, como consequência de uma terrível depressão.

Desde o falecimento da mãe, chapeuzinho passou a morar com a sua avó, saindo do vilarejo salvo de animais selvagens e do frio intenso, para o coração da floresta. E agora, com 17 anos, Chapeuzinho amava sua avó, e por que não? Uma doce e adorável velinha, excepcional cozinheira e faxineira, fazia jus a frase que as pessoas costumam dizer, "sua casa pode ser pequena e humilde, mas mantenha-a limpa". Cuidava muito bem de chapeuzinho e sempre se esforçou ao máximo para dar tudo o que a garota precisasse.
Viviam em um lugar agradável, de clima bom, calmo: Nas noites só ouviam-se o som de pequenos animais correndo por entre as árvores e o farfalhar nos arbustos, o que chapeuzinho sempre pensou se tratar de fadas enxiridas espionando-a (porém, deviam ser só insetos). Tudo era calmo e harmonioso, até então.

Nos últimos tempos, uma enorme onda de assassinatos viera a sobre o lugar, os guardas da floresta estabeleceram um toque de recolher à partir das 16:00 horas da tarde, e assim todos os habitantes da floresta faziam, exatamente ou até um pouco antes do horário deliberado, todos já estavam em suas casas, com as portas trancadas com tudo o que se possa imaginar, janelas lacradas, portas bloqueadas, entradas de ar entulhadas, e também, terçados e machados do lado das camas, como prevenção.

A avó de chapeuzinho aplicava essa lei para sua neta, mas não a ela mesma. Ela saía a cada duas noites para ir comprar comida, um pouco estranho se não fosse o fato de uma feira com preços ótimos funcionasse apenas a noite (clandestinamente, é claro), e deixava a menina trancada em casa, ela rezava e pedia às seus credos para que sua avó voltasse a salvo para casa, e assim
alguma divindade fazia, a sua avó voltava sã e salva para ela, sendo recebida com beijos e abraços.

Certo dia a avó de chapeuzinho pediu-a que fosse a floresta pegar frutas para comer e algumas flores para colocar em um vaso e enfeitar a velha casa de madeira, chapeuzinho como sempre obediente, foi, saltitando com sua cestinha de palha em mãos. Depois de duas horas atrás de uma variedade farta de flores e frutas, fez o que sua avó havia pedido pegou amoras, maçãs, uvas, goiabas e outras frutas. E flores como margaridas e rosas vermelhas.

Na volta para casa, chapeuzinho vinha ainda saltitando cantando músicas que aprendera com sua avó e na antiga escola primária da floresta, quando foi chegando perto da sua casa, a garota se assustou, derrubando a cesta com as frutas no chão, viu alguém que não era sua avó e também não conhecia entrar em sua casa, chapeuzinho se jogou atrás de um arbusto e abriu caminho entre as folhas para ver o que estava acontecendo, e o que viu foi sua avó sair desmaiada nos braços de um homem cheio de pelos pelo corpo, marcas em seu rosto, uma barba voraz e comprida.

Chapeuzinho começou a chorar, abafado com medo de fazer algum barulho, sem notar ela da um passo para trás e pisa em um galho "trac", o homem com sua avó no colo olha ao redor, chapeuzinho para de chorar um minuto tomada pelo medo e tenta segurar um grito de pavor com as mãos na boca, o que parece ter êxito. O homem continua a olhar, a menina ainda apreensiva, e ele volta a andar e vai embora, se perdendo em meio as árvores da floresta.

Ela continua atrás do arbusto para ter certeza que o homem foi embora, estava chorando, com medo que algo de ruim acontecesse com sua avó, e várias perguntas vinham a tona em sua mente. "Quem era aquele moço?", "por que ele estava aqui?", " por que levou a minha vozinha?".

Depois de quase meia hora atrás do arbusto ela resolve sair, sai cambaleando, com o rosto vermelho de tanto chorar, pega a cesta com as frutas dentro, abre a porta da sua casa bem devagar olha ao redor muita coisa parece em ordem tirando o fato de que copos e pratos estavam quebrados no chão, remédios também espalhados, a menina entra e se senta numa cadeira de madeira ao lado de sua cama, como viu os remédios no chão veio a pensar que sua avó havia passado mal e um rapaz que passava por perto se precipitou e a levou a algum lugar para que melhorasse, chapeuzinho ficou um pouco aliviada com este pensamento e esperava que sua avó voltasse logo para casa, ela pegou três amoras e comeu na cama, brincou com uma boneca, até cair no sono.

Passados sete dias e nada da avó voltar, chapeuzinho passou a última semana se alimentando com apenas frutas e água, no oitavo dia chapeuzinho saiu com sua cestinha pela floresta para fazer o que vinha fazendo nos últimos dias, pegar frutas e água, já não ia mais saltitando e cantando, ia triste e preocupada com sua avó, ela parou no meio de uma clareira onde ao redor era cheia de árvores com frutas grandes e suculentas, ela foi primeiro pegar amoras, sua predileta, quando ela foi se esticar para pegar umas bem roxas que viu no topo do pé, como um reflexo quase na velocidade da luz ela se jogou para o lado esquerdo e uma faca passou ao seu lado sendo encravada na árvore.

Causou apenas um pequeno corte no rosto de chapeuzinho, ela caiu de bumbum no chão, assustada e ofegante, o homem que lhe atacou era o mesmo que havia pego sua avó, olhando agora mais de perto reconheceu ele, já tinha visto ele  em uma foto do jornal, o ex presidiário James Barney, 67 anos, conhecido pelos tablóides como Lobo, ele estava com uma expressão no rosto que esbanjava raiva, com dois facões cada um em uma mão, olhando para ela, ela como primeira reação, correu. E ele correu atrás dela.

E ela ia no trajeto gritando "socorro" para todos os lados mas nada e ele continuava atrás dela, ele atirou o primeiro facão que passou longe da garota, depois atirou o segundo que fez com que ela caísse, ele rapidamente subiu em cima dela e estava a enforca-la e no desespero ela caçava algo no chão, sentiu uma pedra que bateu com força na cabeça do homem, derrubando-o inconsciente no chão e ela correu até um vilarejo.

VERMELHO SANGUE (conto) Revisão Where stories live. Discover now