Capítulo 2

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Passei as mãos no rosto e suspirei, o teto parecia interessante naquela manhã então meus olhos se encontram fixos no mesmo mas logo desistem da branquidão que chamam sua atenção e se voltam para o relógio na mesinha de cabeceira, indicava que eram 7:30 am. Me sento na cama e tento sair da mesma sem acordar as meninas que naquele ponto estavam esparramadas pela mesma. Quando chego ao chão caminho na ponta dos pés até as portas de vidro que davam para a sacada. Minha mão direita se posiciona na maçaneta e giro a mesma com cautela, xingo baixo quando a porta range alto, olho para trás mas elas nem se moveram. Fecho a porta atrás de mim e caminho até o cercado, apoio o antebraço no mesmo e encaro o céu, respiro fundo e um sorriso cresce em mês lábios. Que bela manhã de domingo em Beaufort. Pensei.

Beaufort, um cidade extremamente pequena na Carolina do Norte, cerca de 4.184 habitantes – segundo uma pesquisa feita em 2013 – é uma cidade pequena, mas muito bonita.

Observei as ondas quebrarem na areia e senti a brisa do mar chicotear meu rosto, o cheiro de praia era reconfortante. Ouvi barulhos no quarto e voltei para o mesmo, Amanda e Bianca já haviam acordado.
"Bom dia." Acenei, elas me olharam e acenaram de volta.
"Bom dia Becca." Bianca disse manhosa e se aproximou, me abraçando. Sorri de lado e abracei-a de volta, ela se afastou depois de alguns minutos e eu fitei seu rosto fino, a pele clara como neve, os olhos tão verdes quanto os de Amanda, os cabelos louros naturais caiam lisos até abaixo do queixo.

Bianca acabou se tornando minha amiga no primeiro ano, quando passou resposta de testes para Amanda e eu, foi engraçado, pareceu interesseiro, mas isso nos uniu a princípio. Enquanto observava seu rosto pude perceber algo, percebi que eu fugia do 'padrão' de nosso grupo. Eu não tinha a pele clara, ao invés disso, minha pele era bronzeada na maior parte do tempo, meu rosto não era fino como o de ambas, minhas maçãs do rosto eram acentuadas e meu queixo era mais arredondado, meus cabelos castanhos caiam em ondas até meus seios e meus olhos eram quase tão castanhos como os fios no topo de minha cabeça. Com certeza eu estava fora do padrão de nosso pequeno grupo. "Vamos tomar café?" Amanda disse manhosa. "Vamos." Fiz bico e a puxei para um abraço. Ela riu e me abraçou de volta. Descemos até o primeiro andar e entramos na cozinha, os pais dela estavam viajando então éramos só nós três. Preparamos panquecas, suco de laranja e waffles. 

...

Acenei para o carro de Amanda enquanto observava-o sumir na esquina, giro em meus calcanhares e encaro minha casa. As paredes brancas em contraste com a enorme porta preta de entrada, me aproximo dos três degraus e subo os mesmos, pego as chaves em meu bolso e levo a certa até a fechadura, giro a maçaneta e entro, a porta se fecha suavemente atrás de mim, olho ao redor e coloco as chaves no aquário de vidro – que servia como um porta trecos, tinha de tudo, menos um peixe – ao lado da porta. Sigo até a cozinha para encontrar meus pais comendo bolo.

Meus pais. As pessoas, em sua maioria, pensam que minha opinião sobre o amor é devido á alguma rebeldia contra meus pais que se separaram ou por meu pai ter abandonado minha mãe. Mas a verdade é que meus pais não tinham absolutamente nada com minha opinião. Meus pais eram muito bem casados á trinta anos e eu acreditava que eles eram privilegiados, eles sim puderam sentir o amor quando ele ainda existia.
Minha mãe sorriu e acenou.
"Bom dia meu amor." Disse carinhosa.
"Bom dia mãe. Bom dia pai." Disse sorridente.
"Bom dia meu bem." Meu pai respondeu enquanto lia o jornal.
"Como foi lá?" Minha mãe perguntou.
"Foi legal, o mesmo de sempre, muita fofoca." Nós duas rimos.
"Imagino." Ela suspirou. "Já tomou café da manhã?" Aponta para a mesa com bolo, pães e suco.
"Sim." Respondi de pronto.
"Certo. Bom, seu irmão te ligou mas estava dando que seu celular está desligado." Ela franziu o cenho. Levei a mão até a testa e me lembrei de que eu havia desligado com medo de que Dylan pudesse me ligar. As pessoas hoje em dia são bem psicopatas com isso. Eu já li muito, o cara diz que está apaixonado, começa a cercar a garota, depois ele mata ela, fim.
Certo, eu estava delirando um pouco.
"Acabou a bateria." Menti. "Vou ligar pra ele." Disse enquanto deixava a cozinha. Encaro as escadas e fiz careta antes de subir, me arrasto pelo corredor e entro em meu quarto, deixo que a mochila escorregue por meu ombro e caía no chão, caminho até a cama de casal com as colchas brancas com pequenas flores pretas e me deito, respiro fundo e encaro o teto branco, meus olhos varrem todo o quarto, as paredes brancas precisavam mesmo de outra pintura, o chão de carpete precisava de uma limpeza, gemi baixo e vi a bagunça que estava meu quarto. Basicamente todas as roupas de meu closet estavam jogadas no chão, na escrivaninha uma blusa estava presa na tela de meu computador, minha poltrona já não existia devido à quantidade de roupa em cima. A porta do banheiro estava fechada, mas tinha certeza que lá dentro também estava bagunçado, provavelmente todas as minhas maquiagens ainda estava em cima da pia. Giro meu corpo na cama e fico de bruços, puxo o celular do bolso e ligo o aparelho, espero a longa demora e quando o visor acende vejo cinco ligações perdidas de meu irmão.
Meu irmão. Nathaniel, tem vinte e três anos – sete anos mais velho que eu – e estava no terceiro ano do curso de medicina, ele estudava na UNCC – Universidade da Carolina do Norte em Charlotte – e nos visitava aos finais de semana e sempre que podia. Nathaniel era como um confidente, ele sabia de absolutamente tudo sobre minha vida, eu contava tudo e confiava demais nele. Ele era o tipo de irmão bem coruja, protetor e eu amava isso nele.
Meu celular vibrou em minha mão e vi seu nome no visor.
"Por pensar no diabo." Disse rindo e deslizei o dedo na tela, coloquei no viva voz. "Olá." Disse animada.
"Hei pequena." Ele disse, a voz grossa. "Porque seu celular estava desligado?" Perguntou.
"Acabou a bateria." Menti.
"Nossa, ninguém tinha carregador?" Ele insistiu.
"Nate, o que você quer?" Pergunto.
"Hmmm, defensiva. O que você vai fazer hoje?"
"Hoje é domingo, não vou fazer nada além de ficar na minha cama...talvez eu arrume meu quarto." Faço careta e me sento.
"Certo, então bom domingo, nos vemos semana que vem." Disse.
"Tudo bem, boa aula, te amo." Falei.
"Te amo." Ele respondeu e desligou logo em seguida.

Observo meu quarto mais uma vez e reviro os olhos antes de me jogar para trás, os braços esticados. Sinto meu colchão afundar e quando olho para cima vejo Timão e Pumba pulando na mesma em minha direção. Um sorriso se abre em meus lábios.
"Meus amores." Me sento e os dois se aproximam, acaricio os dois e beijo suas cabeças. Timão era meu cachorro, um pug, e Pumba era meu gato cinza, os dois eram amigos de verdade e coloquei esses nomes quando tinha seis anos. Eles eram inseparáveis, assim como o Timão e o Pumba. Olhei ao redor mais uma vez. "Acho que vou ter mesmo que arrumar isso aqui." Falei com eles, que me encararam, os olhos arregalados. Respirei fundo e me dei por vencida, me levanto decidida e coloco as mãos na cintura enquanto penso por onde começar, chego a conclusão que é melhor colocar todas as roupas no closet primeiro, começo por aí.
...
Depois de quatro longas horas, meu quarto estava maravilhosamente arrumado e limpo, esfrego as costas da mão na testa suada e olho o relógio, eram sete horas, pego meu pijama e vou para o banheiro, tomo um banho quente e demorado, lavo os cabelos e quando termino volto para o quarto, ligo para a pizzaria e peço uma pizza grande de frango, pego meu celular e o dinheiro e vou para o primeiro andar, na sala me sento no sofá de dois lugares roxo berinjela, meus pais estavam sentados no sofá de três lugares de mesma cor. A televisão estava ligada e passava algum filme de comédia, meu pai tinha um sorriso brincalhão enquanto encarava a televisão. Foquei minha atenção na mesa de centro onde um vaso com margaridas se encontrava, as flores eram lindas e eu amava margaridas, elas só perdiam seu lugar para os girassóis que eram meu verdadeiro amor. Timão e Pumba entraram na sala e deitaram no tapete felpudo preto, um sorriso bobo brincou em meus lábios quando Pumba deitou com a cabeça na barriga de Timão.
"O que fez tanto no quarto?" Minha mãe tirou minha atenção dos dois.
"Arrumei." Dei de ombros.
"Falou com seu irmão?" Perguntou.
"Sim. Ele não queria nada." Fiz careta.
A campainha tocou cerca de vinte minutos depois, fui até a porta e peguei a pizza, entrego o dinheiro ao motoboy e levo a mesma até a sala, coloco na mesa de centro e abro a caixa, respiro fundo e o cheiro inunda minhas narinas fazendo com que meu estômago ronque. Pego um pedaço e mordo. Estava deliciosa. Três pedaços me deixaram satisfeita, levei o que sobrou para a cozinha e coloquei na geladeira.
"Boa noite mãe, boa noite pai." Anunciei que estava indo dormir.
"Boa noite meu anjo." Minha mãe disse.
"Boa noite Becca." Meu pai acenou.
Volto para meu quarto e pego minha mochila, preparo a mesma e separo minha roupa, coloco tudo em cima da cômoda e caminho até a cama, deixo que meu corpo se aconchegue no colchão macio e desligo o abajur, relaxo o corpo e suspiro pesado antes do sono começar a surgir.
Amanhã era segunda e uma longa semana estava por vir.

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