O 18 Brumário de Luis Bonaparte
KARL MARX
ÍNDICE
Apresentação
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Notas
Capítulo I
Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história
do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa. Caussidière por Danton, Luís Blanc por Robespierre, a Montanha de
1845-1851 pela Montanha de 1793-1795, o sobrinho pelo tio. E a mesma caricatura ocorre nas
O 18 Brumário de Luis Bonaparte
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circunstâncias que acompanham a segunda edição do Dezoito Brumário! Os homens fazem sua própria
história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas
com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em
revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise
revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes
emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar e nessa linguagem
emprestada. Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a Revolução de 1789-1814 vestiu-se
alternadamente como a república romana e como o império romano, e a Revolução de 1848 não soube
fazer nada melhor do que parodiar ora 1789, ora a tradição revolucionária de 1793-1795. De maneira
idêntica, o principiante que aprende um novo idioma, traduz sempre as palavras deste idioma para sua
língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no
emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela.
O exame dessas conjurações de mortos da história do mundo revela de pronto uma diferença marcante.
Camile Desmoulins, Danton, Robespierre, Saint-Just, Napoleão, os heróis, os partidos e as massas da
velha Revolução Francesa, desempenharam a tarefa de sua época, a tarefa de libertar e instaurar a
moderna sociedade burguesa, em trajes romanos e com frases romanas. Os primeiros reduziram a
pedaços a base feudal e deceparam as cabeças feudais que sobre ela haviam crescido. Napoleão, por seu
lado, criou na França as condições sem as quais não seria possível desenvolver a livre concorrência,
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