CAPÍTULO 3

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CAPÍTULO 3

          Três degraus separam essa calmaria que vem dos meus fones de ouvindo do inferno que está atrás dessa porta. Antes de abrir o gigante "selo" de madeira branca que está na minha frente, eu preciso aumentar o volume do celular só por garantia, com isso, as preparações estão completas.

          A maçaneta parece estranhamente fria hoje, talvez por ser uma das temíveis manhãs de sábado. Mas isso não faz diferença, vou ter que entrar por essa porta de qualquer jeito.

          Um último suspiro de preparação escapa inconsciente e eu empurro a porta. A luz do interior me cega por alguns segundos e, em seguida, as imagens da sala de estar começam a se formar.

          Uma garota deitada no sofá de um jeito tão desconfortável que é surpreende ela estar dormindo. Não... O mais surpreendente é ela estar dormindo com esse som. Mesmo com os fones de ouvidos, eu ainda consigo ouvir em parte o que está em volta.

          Colocando as sacolas com remédios na mesa, eu olho em direção a uma garota usando um coque preso por um lápis rosa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o violão que ela segurava emite um som estranho e uma das cordas arrebenta, reflexivamente, ela solta um pequeno gemido enquanto olha desolada para a corda solta.

          A garota se levanta da cadeira e me olha como se tivesse acabado de ver seu cachorrinho morrer. Os seus olhos estão quase lagrimejando e ela parece um pouco perdida em relação ao que dizer.

          — Já sei... Vamos comprar mais cordas. — Foi a minha resposta instintiva. Com essa seria a sétima corda em menos de dois dias.

          Porém, em partes, isso foi bom. Agora só restavam cinquenta por cento dos sons que infestavam este pequeno apartamento.

          Desviando o olhar da garota, que parecia um pouco feliz após ter ouvido aquelas palavras, eu me viro no canto oposto da sala.

          Parada em frente a um espelho posicionado em cima de uma cadeira, estava a terceira garota nesta sala. Ela usava um vestido todo delicado, como se fosse parte do figurino de algum filme dos anos 80.

          Assim que percebeu minha presença, ela apenas sorriu e continuou recitando as vogais enquanto, vez ou outra, forçava um agudo. Infelizmente, os fones não eram o suficiente para me impedir de ouvir isso.

          Um pequeno movimento veio da lateral do moletom de corrida que eu usava.

          Meu olhar se voltou para o sofá, e a garota, que antes estava dormindo, agora parecia estar tentando chamar meu nome, mas sua voz estava tão fraca que os fones estavam me impedindo de ouvir.

          Hesitante, eu retirei os fones, o som ensurdecedor da voz desafinada da Luna me fez fechar os olhos por um momento, enquanto tentava controlar a vontade de tampar os ouvidos.

          — Ash... — Hikari, ainda segurando meu moletom, disse isso em uma voz fraca.

          Eu me ajoelhei de frente para ela no sofá.

          — Você parece um pouco melhor — disse, sorrindo.

          Inclinado meu corpo em direção ao sofá, eu encostei minha testa contra a dela. A febre parecia ter diminuído um pouco e a respiração tinha voltado ao normal.

          — Ash... Muito perto... — Eu me afastei, o rosto dela estava um pouco vermelho, mas era provável que fosse de vergonha.

          — Daquela vez, fui eu que falou isso.

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