Capítulo 3 - Fogo e gelo

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Música do capítulo: Portions for foxes (Rilo Kiley)

Liah

A campainha tocou e me tirou dos devaneios. Aposto que era alguma encomenda. O Sr. Ernesto sempre toca a campainha quando chega alguma coisa pra mim. Andei até a porta e deixei a xícara com café em cima da mesa no corredor.

Olhei no espelho mágico e era mesmo o Sr. Ernesto. A única surpresa era que o coitado estava carregando um buquê do tamanho de um elefante e uma caixa. Abri imediatamente a porta. Ninguém merece carregar um trambolho daqueles.

-Bom dia, Sr. Ernesto!

-Bom dia, senhorita Liah! Chegaram essas flores pra senhora e ontem à tarde chegou esta encomenda. Só havia me esquecido de te entregar a caixa ontem. Me desculpe!

-Não precisa se desculpar! Está tudo bem! -falei, pegando logo o buquê para aliviar o coitado. -O senhor poderia esperar só um pouquinho?

-Sim senhora!

-Não precisa me chamar de senhora!-ri pra descontrai-lo enquanto eu abria o cartão pra saber quem havia mandado. Dependendo de quem fosse, as flores ficariam comigo ou não.

"Essas lindas flores nem se comparam à sua beleza e personalidade. Desculpe por ser um idiota e não saber te valorizar como você merece. Eu te amo, Liah! Feliz aniversário, meu amor!"

Do seu Eric!

Quase vomitei o café, mas fingi que não estava morrendo de ódio. Eu era capaz de jogar aquele buquê no chão e  pisotear todo até não sobrar uma pétala pra contar história. Mas isso assustaria o Sr.Ernesto e as pobres rosas não mereciam aquele fim.

-Sr Ernesto, acho que estas rosas vermelhas deixariam a sua mulher muito feliz. Leve para ela, tenho certeza de que ela irá adorar!- dei um sorriso amarelo e ele percebeu que eu não queria aquele buquê porque fora dado por alguém que eu não gostava.

-Tem certeza que não vai ficar com elas, dona Liah? -perguntou enquanto eu já lhe dava o buquê de volta.

-Tenho sim! Agora deixa eu pegar a caixa. -pedi e ele me entregou prontamente, me avaliando pra ver se captava alguma emoção no meu rosto. Espero não ter transparecido a raiva que estava sentindo.

Olhei para a caixa e me contive só a dizer que ficaria com ela e lhe desejei um bom dia.

-Obrigado pelas rosas dona Liah! A Glória vai adorar!

-Com certeza! Até mais, Sr Ernesto! -dei-lhe tchau  com a mão e só depois que percebi que o Jonas estava chegando e que com certeza assistiu a tudo que aconteceu no último minuto.

Estava usando uma bermuda jeans e tênis com uma regata branca. Os seus braços eram musculosos na medida certa e o seu corpo parecia ser bem definido mesmo por baixo daquela roupa.

Devo ter demorado o meu olhar sobre ele, pois quando voltei a o olhar nos olhos, os cantos da sua boca meio que curvou-se para cima, num quase sorriso.

Fiquei completamente sem jeito.

O que era que estava acontecendo comigo agora? Vou reagir como uma idiota toda vez que o encontrá-lo pelo corredor? Isso não! Não mesmo!

Ele não pode pensar que mexe comigo. Decidi ser ousada e voltei a o encarar de volta e sorri do mesmo jeito que ele estava sorrindo pra mim.

Isso lhe deu confiança e ele foi mais direto:

-Pelo visto você acordou sem nenhuma ressaca...Já até dispensou um buquê de manhã...

Ele deveria estar se referindo à ontem, quando eu estava bêbada e o chamei por um apelido.

Não, eu não posso recuar agora! Ele estava jogando comigo.

Coloquei a caixa na mesa perto da porta e me voltei a encarar aquele homem sexy dos infernos.

-Então você estava prestando atenção na conversa?

A minha pergunta fez efeito, pois ele ficou um tempo sem reação antes de poder rebater:

-Eu estava andando no corredor. Não tive como não ouvir! Não sou surdo!

-Sempre grosseiro! -rebati. -Lembro que você sempre teve esse temperamento! Nesse aspecto você continua o mesmo!

-E você sempre se achando a última bolacha do pacote! -avançou na minha direção como um animal selvagem pronto pra dar o bote.

A minha reação inicial e natural seria recuar, mas ao invés disso ergui o rosto e o encarei.

-Olha só quem fala!

Estávamos tão próximos que eu poderia sentir a vibração e atração eminente no ar.

-O que quer dizer com isso?- chegou mais perto e ficou encarando a minha boca.

-Você sabe muito bem! -eu não conseguia desviar o olhar dos seus lábios avermelhados.

Me puxou junto ao seu corpo e senti o seu abdômen definido por baixo do tecido. E com a outra mão, segurou a minha nuca e me trouxe de encontro aos seus lábios quentes e macios num beijo alucinante.

Impulsionei o meu corpo junto ao seu e o fiz andar pra trás. Tomei o controle da situação e o imprensei contra a parede.

Ao me afastar, o encarei e estávamos ofegantes.

-Não me intimido mais com você. Não queira brincar comigo, entendeu? -o fulminei com o olhar e ele parecia estar surpreso e gostando muito daquela minha atitude insana.

Ele sorriu e eu apertei aquelas lindas bochechas com a mão, fazendo com que seus lábios fizessem biquinho e lhe dei um tapa no rosto, mas não tão forte.

Me afastei e entrei em casa, fechando a porta por trás, encostando-me nela. Antes de entrar ainda tive um vislumbre da sua cara safada me encarando.

Coloquei as mãos nos meus lábios, ainda sensíveis e sorri incrédula.

Onde eu estava com a minha cabeça?

Jonas

A minha cabeça estava uma confusão, pois eu não conseguia parar de pensar em Liah. Aquela imagem dela dançando sensualmente na festa e me encarando com sede e desejo, se repetia na minha mente.

Jamais poderia imaginar que aquela gata era a doce e ingênua Liah que eu conhecia de anos atrás.

Eu cheguei de viagem anteontem e o Cláudio, meu primo, me levou para vários pontos turísticos da cidade e acabei dormindo na casa dos meus tios. Ontem, o Cláudio me convenceu a ir à uma festa de aniversário de uma ex-colega de colégio e foi aí que o que eu vinha evitando, aconteceu: reencontrar Liah Moraes.

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu acabaria me esbarrando com ela e que isso aconteceria diversas vezes, já que eu ganhei esse imóvel do meu pai, que comprou na época em que a família Moraes construiu os condomínios. Mas jamais imaginei que depois de tanto tempo aquela garota voltaria a mexer comigo. E agora ela não me atraía só no sentido do amor platônico das férias de verão, mas no sentido homem e mulher.

Não entendi porque ela só via o lado dela da história, o lado que ela resolveu acreditar e não vê que também não foi uma pessoa muito legal comigo.

Agora eu estou aqui feito um idiota, tomando uma ducha fria pra acalmar os meus ânimos. Aquela menina inocente não existia mais e agora é uma mulher quente que quase me fez perder o controle naquele corredor.

Caramba! Que tipo de pessoa eu sou? Prometi ao pai dela que a ajudaria sempre que fosse possível.  Mas como eu iria cumprir o prometido depois disso?

Sempre Foi Você 2Onde histórias criam vida. Descubra agora