Methamorphosys

CAPÍTULO III - OS COMBATES

Às vezes fico pensando o que a vida ainda quer me falar

O que ela ainda quer que eu veja?

Qual será esse lance do desejo?

Nem sempre tudo tem uma resposta ou será que as respostas são

tão profundas que eu não sei ver?

"Onde eu estava esse tempo todo. Achei que meu torpor tinha durado alguns segundos, mas parece que ele durou mais do que eu imaginava".

Me arrumo rapidamente e me despeço de mamãe rapidamente pra ir ao curso, correndo como sempre.

Minha sala não tem muita gente, mas é um grupo de pessoas acolhedoras, heterogêneas, confesso, mas são até acolhedores.

Chego na sala, hoje eu tenho que apresentar um tema no curso, ainda bem que eu já tinha adiantado essa parte.

Entro na sala e me deparo com uma novidade. Uma novidade extremamente interessante na verdade. Temos um novo participante no curso e, sabe quando você tem a sensação de que já conhece alguém? Então, estou tendo essa sensação nesse momento. Sei que não o conheço, mas com certeza será bom conhecê-lo.
Analiso a figura com demorada atenção... Ele tem um rosto sério, braços fortes, está com uma regata cinza, justa, o que permite que todo o seu tronco possa ser observado com facilidade nas marcas da camiseta. Ele tem tatuagens nos dois braços. Elas são grandes, no direito ele possui uma cobra passando por uma caveira e no braço esquerdo são duas, um símbolo que me lembra um coração com uma mão dentro e abaixo do cotovelo uma outra com alguns dizeres. Ele não é um garoto de corpo escultural, mas tem uma beleza fascinante e hipnotizante. Na medida certa. Ele está de bermuda, o que deixa suas pernas amostra. Sentado um pouco largado na cadeira e de óculos, cabeça baixa, lendo. Cara de poucos amigos.

Me posiciono em frente a todos. Cumprimento e inicio a palestra do dia. Ele, que estava lendo, fecha o livro e olha fixamente para mim. Um olhar de um crítico que está prestes a redigir um parecer sobre algo ou como o olhar atento de um revisor, prestes a regozijar por ter encontrado um erro em uma história intitulada como "A perfeita".

Sigo até o final da minha fala sendo observado por ele. Termino o tema da noite e todos começam a ir embora. Esperando minha carona, acompanho os movimentos do garoto novo. Ele aparenta ter seus vinte e poucos anos. Nossos olhos se cruzam por um momento, só o encontro que faltava para a avaliação dele. Fico tenso, mas me mantenho firme sem deixar transparecer que, se pudesse, estaria, naquele momento, mais próximo a ele, sentindo seu cheiro e percebendo sua respiração. Há fogo em seus olhos, mas não é de desejo e nem de desafio. Uma coisa é certa. Ele vai voltar.

Parece que minha carona hoje não deu certo e o que me resta é voltar à pé. Sem problemas. O caminho é curto e conhecido.

Sigo a passos calmos, não há motivo para ter pressa, mas... aquele barulho surge novamente, aqueles passos... É o mesmo barulho de antes, mas está mais perceptível... Será que é porque é noite?!

Algo me diz que eu não posso olhar para trás, mas quero muito olhar e saber de vez o que me espera.

Prepare-se! Seu destino está chegando Henry!

Isso é tudo do que me lembro.

++++

Estava tudo escuro, como se, de repente, as coisas estivessem distantes, sem foco. Eu não sabia ao certo onde estava, só sabia que eu estava sentado em algum lugar...