Memórias

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"A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
"

- Cecília Meireles

O tintilar da voz de Callie no ouvido de Arizona fez com que sua pele pálida ficasse arrepiada, ela podia sentir cada pelo de seu corpo eriçando, seu coração que batia em uma frequência muito alta, pelo entusiasmo e enjoo da viajem, diminuiu brutalmente que a fez pensa que talvez estivesse tendo uma parada cardíaca, sua respiração ficou tão pesada que o ar que entrava pelas suas narinas era como fogo. Foi como uma explosão, uma bomba programada para explodir naquele exato momento, como se "alguém" soubesse o que iria acontecer, tudo que havia sido adormecido, toda dor, toda felicidade, toda angustia, tudo veio à tona como uma grande e enorme bomba toxica, que a foi consumindo tão fatalmente e lentamente que ela só queria morrer naquele momento, no exato momento que seus olhos se encontraram com os de Callie, olhos tão perturbadores quanto a sua voz. Ficaram se encarando por alguns segundos, segundos esses que pareçam anos. Callie lançava um olhar sereno e surpreso sobre Arizona que a mesma quis mergulhar neles e lá mesmo morrer.

O mesmo acontecia com Callie, toda aquela sensação de que algo toxico a estava consumindo era tão forte quanto em Arizona. Saudades seria o sentimento certo para descrever o que ambas sentiram naquele exato momento, porém, se fossem titular aquele pequeno cenário o sentimento certo seria tristeza.

"Callie faz anos" disse Arizona com a voz rouca e recuperando o pouco do fôlego que lhe restara "Você parece ótima, você está ótima, como vai?". Callie acomoda-se na cadeira ao lado de Arizona retira o que parecia ser um pequeno amontoado de papeis de dentro da bolsa que segurava, vira para a moça que estava sentada ao seu lado e responde rispidamente "Estou ótima, como nunca estive. Obrigada por perguntar" Arizona se sentiu tão inútil, não que ela fosse uma pessoa inútil, não, mas pelos sentimentos que sentiu ao ver Callie, teve esperança de que ela tivera sentido o mesmo, nada mais inútil do que esperança, pensou. Arizona virou-se para a janela e viu aos poucos a paisagem que lhe cercava sumir, casas, estradas, árvores. Agora não havia mais nada, apenas ela o céu e Callie.

Enquanto admirava o céu pela janela do avião, uma lembrança lhe veio à memória, Arizona desejou não lembrar.

* Três anos atrás *

Dedos tão entrelaçados que pareciam ter dado nó, o segurar de mãos mais apertado. Corriam para o que seria uma pequena guarita no topo de um pequeno morro, naquele dia chovia tanto que a terra fora lavada por completo. A alguns metros da guarita Callie para de correr, solta suas mãos das mãos de Arizona e grita com toda sua força um lindo e alto SIM. Com os braços abertos abraçando carinhosamente a chuva, olhando para o alto com olhos fechados e sentindo cada gota tocar seu rosto como um beijo vindo dos céus, volta para Arizona e cuidadosamente toca seu rosto segurando-o como se fosse feito da porcelana mais delicada da face de terra "Sim meu amor, sim com toda minha alma, sim com todo meu ser, sim com todo meu espirito, sim de todo meu coração, eu aceito me casar com você, eu aceito." Naquele instante, naquele particular e especial instante Arizona foi à pessoa mais realizada e feliz do universo, disso ela tinha certeza absoluta. E com um beijo cheio de amor e felicidade sendo regado pelos céus Callie e Arizona compartilharam da mesma alegria.

***

Vê-la ali parada em sua frente e não poder lhe abraçar, não poder lhe tocar era tão torturante, quanto ter seus dedos arrancados todos de uma só vez. Emma não sabia ao certo o que fazer, Regina tinha certa influência sobre ela que era impossível de ser explicada. Sentiu saudades, sentiu com tanta intensidade que seu peito apertou, seu coração batia agora rápido, como de um beija-flor. Paradas em meio ao parque, poucas pessoas estavam por lá o tempo estava frio e ventava em uma frequência baixa, mas, o vento que soprava era o suficiente para fazer com que a pessoas fossem obrigadas a ficar em casa e se aquecer, mas para Emma e Regina aquele clima era perfeito, tudo ficava mais intenso no frio, as sensações, as emoções, o cheiro agradável das rosas do parque, tudo era mais intenso. Enquanto as pessoas passavam e as observavam paradas uma de frente a outra se encarando, poderiam até pensar que uma batalha estaria prestes a acontecer, e de fato estava sim acontecendo uma batalha, visível apenas para as duas mulheres paradas em meio ao parque, onde razão e ação eram questionadas. Quando enfim alguém fez o primeiro movimento, Emma estendeu a mão em direção a Regina, o que parecia ser um sinal de trégua, estendendo a mão de volta, Regina e Emma agora compartilham de um aperto de mão tão intenso quanto o frio naquela tarde de domingo.

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⏰ Última atualização: Feb 18, 2017 ⏰

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