A proposta

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Há uma semana

Estava amanhecendo novamente. Não é como se fosse algo normal que teria de acontecer todo dia, era só mais um dia como aquele que estava enfrentando durante os últimos dias e este estava começando como também começara toda vez. E ela sabia que não importava o quanto o dia estivesse lindo lá fora, o quanto tivesse pessoas legais para se conhecer ou o quão belo é olhar o sol nascer no leste, pois nada disso a motivara. Não é como algo que se deve deixar passar mas sim como algo que você não consegue aproveitar, porque a briga interna é pior do qualquer força de vontade que deveria ter, isso se ela tivesse.

Querer é diferente de poder. Ela queria sair e admirar o lindo dia que fazia. Ela queria sair com os amigos, que sempre tentavam animá-la, mas chegou uma hora que desistiram. Ela queria saber apreciar a beleza de um lindo nascer do sol, mas ela não conseguia. Estava ocupada demais brigando consigo mesma, tentando encaixar-se em si mesma.

E o pior de tudo: ela se culpava. Tinha o diagnóstico anotado no prontuário médico que estava na sua bolsa de exames que sempre guarda em cima do guarda roupa, mas mesmo assim, a sensação de impotência a dominava toda vez que essas crises a assolavam, muitas vezes porque algo aconteceu e a deixava assim ou outras só acordava com essa sensação de vazio que não conseguia dominar, que não conseguia vencer.

E isso a deixava em pânico. Até as mínimas coisas, que exigiam que ela saísse daquela maldita cama eram como se fosse uma grande guerra interna Ela queria vencer, mas não conseguia. Por isso sentia culpa. Qual ser humano no mundo não consegue controlar suas próprias ações, vontades e anseios? A única coisa que ela não deixava essa barreira invisível vencer era sua sede por ser médica e a faculdade era a única coisa, que mesmo com crise, ela conseguia manter.

Parece coisa de doido, e talvez seja, mas ela foi diagnosticada com TAG - Transtorno de Ansiedade Generalizada -, uma doença psicológica que simplesmente a faz não se compreender. E era como ela se nomeava: incompreendida por si mesma. Sakura olhou a fresta que a cortina dava e ficou observando a luz que saía dali, tentando buscar forças para pelo menos levantar e tomar seu café da manhã, ou talvez poderia ficar ali mesmo o dia todo. Fechou os olhos e começou a ouvir um barulho estranho que ela conhecia muito bem. Seu celular começou a vibrar na mesinha de cabeceira, esticou-se até alcançá-lo e viu nas notificações que sua amiga Ino tinha enviado uma mensagem no whatsapp. Ela poderia ignorar mas conhecia a menina. Abriu a mensagem.

"Sei que você quer ficar o dia todo nessa cama, sei que a culpa não é sua. Mas eu posso passar aí, para sei lá, a gente sair, e se você não conseguir, podemos passar o dia comendo besteira vendo netflix"

Não conseguiu segurar a risada que deu ao olhar a mensagem da amiga. Ino não era a melhor pessoa para esses momentos, por mais que ela tentasse entender, mas ela tentava. Era sua amiga desde a infância, avoada, sempre ficava no mundo da lua e não percebia as coisas à volta, mas sabia que por ela a loira faria de tudo.

"Quero ficar sozinha, porquinha, não quero falar com ninguém, sei que você está preocupada, mas uma hora vai passar, eu prometo que a gente marca outro dia"

"Ah pelo amor de Deus né Sakura, sei que você tem essa coisa de ansiedade aí, mas sei lá, não se deixe dominar, levanta e sai!"

Ela sabia que essas palavras não eram por mal, mas doíam. Não é uma doença que você simplesmente diz "ah, cansei, agora vou levantar e ser mais forte" e toda vez que ouvia frases como essa ela se sentia pior ainda, mais culpada. Talvez, não fosse tão ruim que a loira fosse visitá-la, talvez, só talvez ela pudesse se distrair.

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⏰ Last updated: Feb 19, 2017 ⏰

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