Ouvimos trovões..

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Estamos correndo da chuva no fim de uma tarde divertida. Andamos de bicicleta pelo bairro todo e nem nos preocupamos com as horas... Minha mãe vai me matar. O Tony é um garoto meio medroso mas é a melhor companhia de todas. Vivo metendo a gente em encrenca. Mas a culpa é dele. É ele quem aceita vir comigo.
- Rápido, Letícia! Vamos entrar ali!
- O quê?! VOCÊ quer entrar ali?
- Não posso ficar resfriado....
- Okay... Vamos para a casa mal assombrada do velho Marinheiro.
- Fantasmas não existem. Você não me assusta.
Corremos para a casa velha de madeira. Ela fica em uma espécie de mini ilha da qual a gente precisa passar por uma pontesinha improvisada pra chegar. Atrás dela o que um dia fora um rio saudável. Era enorme... Se perdia além da vista o tal rio. Perecia o mar. E a casa se assemelhava com um barco naufragado... Aponte estreita resmunga enquanto atravessamos.  Ela parece tão velha quanto a casa. Tony chega á casa antes de mim. Parece que o medo dele de gripe é maior que o medo de fantasmas...
- Será que deviamos?- pergunta Tony com a mão na maçaneta da porta. Eu já chego com o pé na mesma.
- Não entendi o que você falou. - soltei com sarcasmo.
Entramos com as bicicletas e nos enxugamos do jeito que dá. Meus óculos embaçados dificultam a percepção. Era escuro demais lá dentro. O cheiro é estranho. De coisa podre.
- Que cheiro horrível... - resmungo - Parece que alguém morreu aqui!
Tony fecha a porta e o barulho da chuva se torna a música de fundo. Mas por causa das goteiras parece que também está chovendo dentro da casa. Dá pra ver o céu em algumas partes do teto. Tento não demonstrar o medo como sempre, mas admito que esse lugar é de dar medo em qualquer um. Sentamos no chão.
- Será que vai demorar muito pra chuva passar? -pergunta Tony num sussurro.
- Espero que sim- respondo. - talvez assim sua mãe não deixe a gente brincar mais juntos.. Hehe
- Se ela soubesse o que você já fez a gente fazer já tinha te proibido chegar de chegar a quinhentos metros de mim.
- A culpa não é minha.
- Será que tem luz?
- Dificilmente. - um tempinho de silencio... -mas e então? Já sabe o que fazer pra feira de ciências?
- Talvez bicicletas com guarda-chuva.
- Isso é bastante útil.
Nossas vozes são baixas. Não entendi por que estávamos sussurrando. Éramos só nós dois ali. Um estrondo horrível vem do lado de fora da casa. Nós dois gritamos com o susto.
- Mas o que foi isso?!- pergunta assustado. Assustado até demais.
- Eu... Acho que sei o que foi mas... Não quero que seja...
- O que acha que é?
Levanto e vou até a porta e a abro. A lufada de ar e chuva é de arrepiar.  Fecho os olhos por reflexo. Quando os abro não vejo o que eu queria ver. A pontesinha caiu...
- Nããão! - protesta Tony
- Sei que estamos ilhados mas te controla. Não é o fim do mundo.
- Ah... Somos duas crianças ilhadas em uma casa abandonada e ninguém sabe disso. Realmente. Não tenho por que ficar ASSUTADO E COM MEDO!!- retiro o que eu disse sobre a melhor companhia.
- Olha só.. Quando a chuva passar a correnteza do riacho vai ficar menos forte. Aí a gente passa por ele e vai pra casa. Simples.
- Com leptospirose.
- Calma... A gente dá um jeito.
Ele não parece acreditar. Não o culpo. Nem eu mesma acredito em mim.
- Acho... Acho que achei.
- Achou o que , Tony?
Ele respondeu com um gesto. Um clique e de repente luz. Luz por toda parte. O lugar é velho. Velho com um monte de coisas velhas. Coisas velhas de um velho suponho. Não parece ser visitado há um bom tempo.
- Esse lugar faz parecer que viajamos no tempo.- digo.
Identifico alguns móveis antigos deteriorados por cupins velhos. Um monte de embalagens de comida velha e lixo velho. Também tem um monte de maços de cigarro e garrafas de vinho e whisky  por toda parte.
-  Quem será que morava aqui?- pergunta Tony explorando o lugar como eu.
- Será que era mesmo um marinheiro? Faria sentido já que essa casa parece um barco...
Perto de algo que parecia um criado mundo ao lado de um colchão já sem uma cama pra se  sustentar havia um envelope. Eu o pego e ouço Tony passar atrás de mim indo para outro cômodo. Que parecia ser todo o resto da casa. Abro o envelope e retiro a carta que há dentro.
- Lê...- chama Tony.
- Oi.
- Vem aqui... Acho... Acho que encontrei a pessoa que morava aqui.
Me assusto com suas palavras. Uma corrente de calafrios me fazem tremer um pouco. Quando vou até ele ele me mostra uma foto de um homem vestido de Marinheiro com uma mulher linda. Parecem um casal. Solto o ar aliviada.
- Cara... Quando me falou que tinha encontrado a pessoa que tinha morado aqui achei que era a pessoa de verdade.
- O quê? Não. Haha
Assim que espio o outro cómodo que parecia ser a a cozinha percebo algo esquisito pendurado no teto. Está escuro por que a luz da sala não chega até ali. Procuro o interruptor tateando a parede e acho. Quando ligo a luz vejo que preferiria não ter feito isso jamais. O que estava pendurado no teto era uma cabeça humana presa por um lençol e no chão o corpo putrefato. Os vermes o devoravam e faziam barulhinho. O cheiro de coisa podre era o que eu achava que era. Odeio ser tão esperta. Olho pro lado e vejo Tony paralisado de medo. Na carta em minha mão leio apenas uma frase simples com uma letra tremida: DESCULPEM A BAGUNÇA.
FIM.

Maldita OlíviaOnde histórias criam vida. Descubra agora