Com amor, R.

Arrependimento

Horas e mais horas de espera. Nenhuma notícia. O frio da madrugada já estava pendendo, e em instantes o sol viria a raiar. Não consegui pregar o olho por nem um milésimo de segundo. As coisas não se encaixavam. As palavras não ditas sufocavam, me matavam. Existia algo que insistia em não me abandonar, era o culpa, o arrependimento. Já não conseguia mais, não dava para segurar. As lágrimas que escorriam de meus olhos até o queixo, e logo em seguida gotejavam em meu jeans, era ácidas e pesadas. Os devaneios haviam se tornado parte de mim. Idealizava um futuro do qual poderia não realizar. Não queria pensar nisso, tentava não pensar nisso. Foram tentativas em vão. A medicina não podia me curar. A ciência ainda não tinha descoberto um remédio que acabasse com o querer de um outro alguém. Eu queria o Rodrigo, eu precisava do Rodrigo, mas eu podia tê-lo. Não estava ao meu alcance. O querer não passava de um querer, apenas.

_Srta Young? - Chamou-me uma moça alta, loura, que não apresentava mais de vinte e cinco anos. Não a conhecia, mas acredito que seja uma enfermeira da equipe. Passo a mão no rosto para dar uma amenizada no vestígios de choro, e logo em seguida e encaro. 

_Sim?

_Sua mãe pediu que lhe chamasse. Acompanhe-me, por favor.

Quase que automaticamente saio atrás daquela bela moça, que me encaminha a uma sala próximo ao centro cirúrgico, e que continha um corredor a minha direita que levava até aos apartamentos cirúrgico. Sento-me em uma das cadeiras acolchoadas que tinha ali, e após intermináveis minutos vejo minha mãe se aproximando. Por mais que tentasse, era impossível saber o que acontecera. Minha mãe tinha a expressão muito vaga, e isso apenas aumentava meu nervosismo. 

Novamente senta-se ao meu lado e fica me olhando de uma maneira que nunca fizera antes. Era estranho, e me deixava um tanto desconfortável. Éramos   repletas estranhas. seu olhar percorria todo o meu ser, como se fosse o nosso primeiro contato. Mãe e filha. Muitas emoções para serem assimiladas em um espaço tão curto de tempo. Apesar de estar curtindo toda aquela sintonia, precisava saber do Rodrigo.  

_Como está ele? 

Ela continuava a me olhar, sem expressão alguma. Deixamos o silêncio reinar por alguns, e quando ela vai abrir a boca para dizer a situação atual, decide se calar. Sabia que precisaria ser forte. Meus olhos se enchem de lágrimas, e acada momento se tornava mais difícil transmitir a calma. Primeiro uma, depois outra, e já não conseguia controlar mais a lágrimas. 

_As 48 horas seguintes são cruciais e ele deverá passar no hospital. Ainda está respirando com a ajuda de aparelhos, mas acredito que sim que ele acordar os tubos serão retirados. Como houve a fraturada de duas costelas, mesmo a base de analgésicos ele poderá sentir dores... A nossa melhor equipe está com ele, faremos o nosso melhor. Não se preocupe, filha. 

Apesar dos todas as notícias ruins, me sentia aliviada por ele estar vivo. O fato de que ele não levaria sequelas permanentes me deixou ainda mais feliz. Agora só queria poder vê-lo, abraço-lo, beija-lo, senti-lo. Eu precisava tê-los em meus braços. Não podia esperar mais um instante para falar sobre o que sinto. Precisava o mais rápido possível de olhar aquele sorriso torto, meio de lado e tímido que somente ele tem. 

_Quando poderei vê-lo?

_Assim que o efeito da anestesia passar e os equipamentos forem retirados eu te chamo. Agora vá comer algo. - Fala e sai - 

_Mãe!

Ela se vira e me olha. _Oi?

_Obrigada! - Então ela sorri e sai. Dirijo-me até o refeitório, peço um café expresso e ponho-me a ler um livro em quanto esperava para ver o Rodrigo. As palavras se embaralhavam, e não conseguia prestar atenção na história, então, termino meu café e vou para a sala de espera próximo ao quarto dele.

Não demora muito para que os pais do Rodrigo venham até mim, eu já conhecia a mãe dele, a dona Roberta era um amor, e todas as poucas que frequentei a sua casa, me recebera muito bem. Ela segura minha mão e me olha com olhar cheio de ternura.