Capítulo Um

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     Ah o Stay, o que eu posso falar do Stay? Um garoto de dezesseis anos, cabelo branco, um olho azul e o outro verde, o que faziam muita gente achar que ele era filho de uma bruxa qualquer, um pouco desastrado, um pouco inocente, e com uma falta de noção um pouco elevada as vezes, era uma mistura de força e agilidade e tinha um bom porte físico. Era o órfão mais velho do Orfanato Da Tia M. Essa que já tinha morrido há anos, e hoje em dia quem cuida do orfanato é sua neta, Gabriella, uma moça de vinte anos, cabelos longos e ruivos, olhos castanhos, de bom coração e que cuidava de cada criança como se fosse seus próprios irmãos, sua mãe havia morrido alguns anos atrás por conta de uma doença, e seu pai tinha ido até o continente em busca de ajuda, mas nunca mais voltou, mas depois eu falo mais sobre isso.

     Eles moravam na pequena cidade de Carvahall, a única cidade da ilha Ponto no Nada, que ficava ao oeste da costa do Continente da Água, na verdade esse não era o nome oficial da ilha perante os reinos, já que nenhum deles jamais ouvira falar sobre essa ilha inútil, então os moradores resolveram dar esse nome á ela. Eles viviam completamente a base de pesca e pequenas plantações. A ilha era bem rochosa, mais do que Stay gostaria, já que ele nunca tinha visto uma floresta e adoraria ver uma.

     Quase toda parte do mundo de Ne'lahr segue algum deus, existem ainda alguns cantos em que eles são ignorados pela população, na verdade o povo diz que ignora, mas quando a coisa aperta lá estão eles rezando para qualquer deus que faça a situação melhorar, os famosos hipócritas, mas depois eu falo mais sobre eles também. A ilha Ponto do Nada não era diferente, lá eles seguiam a deusa Nulla, deusa dos inúteis, mas o pessoal lá não era o dos mais seguidores não, na verdade Stay era o único seguidor da deusa, ele quem cuidava da pequena capela para ela que havia na cidade, mandava flores sempre que conseguia achar uma bonita o suficiente para agradar a deusa, não que ele saiba quais flores agradam ela, ele também colocava algumas oferendas no altar, e não era comum já que ele quase nunca tinha o que oferecer. Ninguém na ilha fazia isso que o Stay fazia, mas todos eles respeitavam a deusa e as atitudes do garoto, só não perdiam o tempo com algo inútil, o que era típico dos moradores inúteis, da ilha inútil, da deusa inútil.

     O Orfanato da Tia M não tinha lá tantas crianças, eles eram em seis, Gabriella, Stay, e mais quatro crianças filhas de pescadores. Na ilha, muitos homens pescavam com a família junto, eles tinham um pensamento de que se fossem morrer no mar, morriam todos juntos e não iriam deixar ninguém da família triste, era um bom pensamento, mas por algum tipo de "esperteza burra" eles não levavam junto crianças pequenas, já que elas atrapalhavam na pesca, então deixavam com vizinhos, dava que alguns deles viravam órfão algumas vezes, Stay sempre odiou esse pensamento dos pescadores. No orfanato eles não tinha nenhum tipo de luxo, eles só tinham coisas que eram doadas por outras pessoas da ilha, algumas panelas velhas dadas pelo ferreiro, algumas colheres de pau, mesas e cadeiras doadas pelo carpinteiro e algumas roupas doada pela alfaiate, mas nem tudo que eles tinham era dado, Stay aprendeu com o tempo a trabalhar na horta, e sendo assim, eles tinham uma pequena atrás do orfanato, não dava muita coisa, mas era o suficiente. As verduras e legumes sempre saiam com boa qualidade, Gabriella dizia que Stay cuidava da horta com muito carinho, e por isso saiam boas, mas o resto da cidade dizia que era por causa das lágrimas de órfãos, que são mais "fortes" que lágrimas de pessoas comuns, como diziam as bruxas.

     A cidade de Carvahall era bem simples, uma rua vinha de uma espécie de píer onde ficavam os barcos na praia, e seguia até a saída da cidade, no meio dela tinha outra que saia em linha reta, formando uma espécie de "T". As construções eram antigas e precárias, pequenas casas e comércios, algumas delas eram os dois. A maior construção era a taverna da família Barracuda, lá aconteciam todos os eventos da ilha, como pequenos e simples casamentos, jantares de aniversários, do qual o normal é se fazer banquete de aniversário, mas os moradores da ilha não tinham comida para tanto, e alguns outros eventos, como a comemoração de um novo nascimento, por exemplo. Mas nem tudo ficava na cidade, algumas pequenas fazendas e casas ainda podiam ser encontradas fora da cidade, mas sempre estavam à vista, já que a ilha é pequena. Em algumas dessas casas moram pessoas bem otimistas e que tentam viver da caça, na cidade eles chamam esses de imbecis, mas para os caçadores isso não faz diferença já que eles pensam o mesmo dos moradores da cidade, algumas vezes eles até brigam uns com os outros, mas daí sempre acabam chegando em um ponto em que é admitido que todos da ilha são imbecis e assim ficam de bem. Normalmente toda cidade tem um Ductor, a pessoa responsável pela administração da cidade, mas em Carvahall não tinha um Ductor, já que para ser um, você precisa passar pela Escola de Justiça, e na ilha não tinha nem mesmo uma escola para ensinar nada. Na verdade, a única pessoa que tinha algum tipo de educação era Gabriella, ela sabia ler, escrever, e algumas coisas sobre ervas medicinais e culinária, e ensinara tudo isso a Stay, e aos outros órfãos também. Esses eram um dos motivos dos moradores da cidade ajudarem eles, já que sempre precisavam dos cuidados de Gabriella, e esse também era o motivo de Carvahall ser citada como cidade e não vila. No Livro de Leis dos Reinos diz que em todo povoado em que uma pessoa conseguir ser curada ou ensinada é considerado uma cidade, da qual tinha seus direitos e seus deveres, mas essa última parte não se aplicava a Carvahall.

     Ponto no Nada não vivia uma vida muito agitada, e nem os moradores nela, todos os dias eram a mesma coisa, e assim anos após anos, décadas após décadas. Ninguém nunca tinha visto pessoas de fora, isso era uma lenda na ilha, mas eles acreditavam que em algum momento da história da existência de Ponto no Nada pessoas do continente iam até lá, porem os moradores sempre tinha em mente que nasciam esquecidos e morriam esquecidos, e eles até já aceitavam isso. Bom, eles pensavam isso, até que um certo dia chegou, o dia em que até o mais corajoso dos pescadores ficou de perna bamba, o dia em que todos foram a praia correndo após alguns gritos, o dia em que as lendas se tornam realidades, o dia em que um navio foi avistado ao longe.

As Crônicas dos Três ReisWhere stories live. Discover now