As Crônicas dos Três Reis

Capítulo Dois

-Olá Nulla, como estás hoje? Hoje achei uma flor bem bonita para colocar em seu vaso, achei lá perto da ferraria do senhor Willies, acho que ele não liga de eu ter pego ela, e também acho que você não liga para nada que eu ponha em seu vaso, não é mesmo? A vida é cheia dessas. – Disse o alegre Stay no Templo de Nulla em Carvahall. – O engraçado é que vindo para cá, eu não vi ninguém na cidade, estranho não?

-Stay! – Disse uma voz feminina atrás dele.

-Sim. – Respondeu ele a Gabriella, sem ter notado que ela havia chegado.

-Preciso que você venha ver uma coisa, rápido. – Disse ela assustada.

     E assim foram os dois á pequena praia da ilha. Chegando lá, viram um grande navio ao distante no mar, e um pequeno bote vindo em direção à praia. Todos da cidade estavam lá, todos os trinta e dois moradores.

     Ao chegar a praia, três dos cincos homens no bote desceram, um deles era completamente diferente dos outros quatro, ele era o único que não parecia ter saído do fundo do mar, os outros estavam totalmente desleixados, usando trapos como roupas e bem magros, esse estava com roupas melhores de couro e estava mais saudável que os demais, tinha uns trinta anos pela aparência, cabelos negros por aparar, barba cheia e algumas cicatrizes nos braços, tinha um jeito ríspido de lidar com as coisas, era perceptível até pela forma que saiu do bote e andava.

     Enquanto tudo acontecia, a multidão olhava espantada para tudo aquilo, para aquele navio enorme que eles nunca tinham visto na vida, e para aqueles homens completamente estranhos. Então o mais diferente deles disse:

-Atenção a todos, não queremos problemas. Estou atrás de um garoto, ou homem, que seja. Ele tem um olho de cor diferente do outro, preciso dele!

     Instantaneamente todos assustados olharam para Stay, que estava atrás na multidão.

-Eu mesmo. – Disse o garoto sem espanto algum, parecia até que conhecia todos aqueles estranhos.

-Bom garoto, pegue suas coisas, estamos indo, rápido. – Disse o homem.

-Por que?

-Tenho ordens para leva-lo. Sem mais conversas, vamos.

-Ordens? Ordens de quem? – Questionou o garoto em meio da multidão perplexa.

-Ordens de quem? Ordens do seu rei. – Disse o homem irritado.

-E quem é o meu rei?

     O homem olhou fixamente para Stay, o desejo de mata-lo estava nítido em seus olhos negros, então ele respirou fundo, olhou para o céu e respondeu:

-Vander Northern, senhor de Áden, e rei do Continente da Água. – Respondeu o homem tentando parecer calmo, ele sabia que as pessoas ali não conheciam nada sobre o mundo.

-É, não conheço esse rei aí, nem Áden e nem o Continente da Água, então............até mais ver senhor.

-Olha aqui garoto, não é à toa que vim com esses capangas. Eu não estou pedindo para vir comigo, eu estou mandando, tenho ordens e autoridade dada pelo rei para leva-lo. Então chegue de brincadeiras, eu já estou farto dessa busca.

-Qual o seu nome senhor?

     Respirou fundo o homem, mais uma vez.

-Balthier. – Respondeu o homem serrando os dentes.

-Certo, eu sou Stay, devoto de Nulla, deusa dessa cidade. Eu preciso de um único motivo para abandonar minha vida e ir com vocês.

-Se você não vier comigo, vou matar você e todos nessa cidade.

-Adeus Stay. – Disse o ferreiro Willies. A multidão o encarou e depois se voltaram a Stay.

-Ah, é um bom motivo, vou buscar minhas coisas.

-Como assim? – Perguntou Gabriella. – Você não pode aceitar em ir com esses estranhos.

-Bom, me parece que ele tem um bom motivo. – Respondeu Stay.

-Você não pode abandonar as coisas assim.

-É, pois é, mas me parece que eu não tenho escolha. Esse homem parece bem decidido.

-Qual é seu problema afinal? Você não está nem mesmo preocupado. Nunca consegui entender esse seu lado. E eu preciso de você no orfanato.

-Na verdade não precisa, as crianças estão crescendo, logo estarão te ajudando. Aquele homem ali não me deixou opções, sinto muito. – Respondeu o garoto, com uma calma de assustar.

     Gabriella ficou em choque com toda aquela situação.

     Um homem simplesmente chega na ilha, pede para que Stay vá com ele e o garoto simplesmente aceita? Gabriella achava isso um absurdo, mas Stay não, ele tinha seus motivos, do qual a Gabriella também saiba, mas ainda não tinha notado.

     Os dois foram ao orfanato para que Stay arrumasse suas coisas e se despedisse das crianças. Ele não tinha muitos pertences, na verdade ele só tinha ido lá buscar uma faca e nada mais. Quando Gabriella notou isso, lembrou-se o porquê Stay aceitou tão facilmente, como pode deixar passar? Todos sabiam que quem nascia na ilha, morria na ilha, mas ninguém sabia de onde Stay viria, quando era bebê, ele simplesmente apareceu na porta do orfanato.

     Gabriella finalmente entendeu que Stay aceitou ir com os homens estranho porque ele queria saber de onde veio, e é claro, para evitar que todos da ilha fossem assassinados. Esse assunto sempre deixou Stay encabulado, pessoas perguntavam coisas a ele e ele não sabia responder, e ele não gosta de não saber das coisas.

     Voltaram a praia. A moça não sabia muito o que dizer a Stay, ela queria muito que ele ficasse, podia ser perigoso, mas também entendia a decisão dele. As pessoas da ilha ainda estavam lá, admirados com os estranhos, alguns sentiam apreço por Stay, outros eram indiferentes. Stay estava animado para aquilo.

-Bom, então é assim? Nunca mais nos veremos, não é? Então.............. Adeus meu bom amigo. – Disse Gabriella com lágrimas nos olhos enquanto Stay ia em direção ao bote.

     Então ele parou. Todos ficaram em silencio. Ele se virou para ela.

-Adeus minha amiga, obrigado por tudo. Prometo que não irei morrer, pelo menos não no primeiro ano, prometo que irei retornar um dia, prometo que irei fazer de ilha conhecida para que todos aqui vejam o impossível, e prometo que não aceitarei. – E assim ele sorriu e entrou no bote.

Não aceitaria? Gabriella não entendeu a última promessa, ninguém entendeu. Mas essa não era para que eles entendessem agora, era para entenderem quando estiverem mortos no submundo, o que não iria demorar, já que todos eles morreriam antes mesmo do bote de Stay chegar ao navio.