os humilhados aprenderão a nadar

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Quando eu tinha oito anos aconteceu o infortúnio de Hong Jisoo estar no mesmo colégio que eu.

Mesmo que metade das professoras babassem nele, além de minha própria mãe o amar, eu não gostava nem um pouco de toda aquela aura negativa que provinha do americano.

Em palavras mais corretas: eu o achava um chato do caralho. Mas ainda não tinha conhecimento de tais palavras para denominá-lo dessa forma.

É claro que não bastava a maldição de estar no mesmo colégio, nós tínhamos que estar no mesmo ano, estudarmos no mesmo corredor e, é claro, na mesma sala, quase dividindo a mesma mesa.

Isso, por si só, já traumatizaria qualquer criança, mas é óbvio que o infeliz tinha que me traumatizar ainda mais.

Foi num dia quente, em que estávamos em um daqueles passeios bobos para o clube; eu mal tinha coragem de entrar na piscina com os bebês de três anos direito, mas uma hora meu amigo Minghao me chamou para fazer alguma coisa que eu não lembro, e por um motivo que eu não faço ideia também resolvi ficar em pé na borda da piscina conversando com meu conterrâneo.

Foi quando o desgraçado do Hong apareceu do nada e disse, quase rente ao meu ouvido:

"Entra na água também, Junie" e me empurrou.

E esse, senhoras e senhores, é o motivo para que eu nunca mais tenha entrado numa piscina na vida.

Nem me perguntem o que aconteceu depois disso, eu não vou conseguir lembrar, já que a única coisa clara e correta que ficou daquele momento foi a palma nas minhas costas e o ódio no meu coração.

Como toda criança que não é Benjamin Button, eu cresci, tentando superar a ferida que o maldito do Hong deixou na minha vida. Eu não sabia muito bem o que tinha acontecido consigo; algumas pessoas diziam que ele tinha ido passar uma temporada num circo, outros que agora era um gangster e ainda tinham aqueles que diziam o absurdo que ele deveria apenas ter voltado para cidade natal.

Tsc, como se um demoniozinho daqueles pudesse não estar envolvido em algo errado.

Enfim, passei os anos seguintes àquele trauma de boa, vivendo tranquilamente ao lado do meu bff Minghao — pelo menos até ele arrumar um namorado e me largar para ficar entre tapas e beijos com Mingyu por aí — e também fazendo novas amizades — todas que não demoraram a se tornar comprometidas, me fazendo ficar de vela quase o tempo todo — e até que o fato Jisoo tinha apagado da minha memória quase completamente.

Mas existe um motivo para que eu, com meus quase dezoito anos de vida, esteja aqui, falando desse fato que aconteceu dez anos atrás, e o motivo é: ele voltou. Na manhã do primeiro dia de aula do último ano, eu tive o azar de cair na mesma turma que o maldito. E se não bastasse isso, ele não tinha o menor respeito pela minha dor e parecia estar cagando e andando para o trauma que tinha deixado em mim, não me reconhecendo de primeira e ainda por cima tentando puxar assunto comigo.

Eu estaria mentindo se dissesse que não concordava quando ele elogiava meu cabelo. Convenhamos, o meu cabelo é lindo. E tudo o mais que eu tenho também.

Mas tudo bem, seguia tudo normal e tranquilo. Isso até Joshua Hong ter a brilhante ideia de acabar com minhas estruturas e me chamar para tomar um sorvete depois da aula. Meu coração deu umas sambadas, bombeando mais sangue que o normal quando eu gaguejei um sim.

Eu nem entendi porque eu estava tremendo daquele jeito, não fazia o menor sentido. Concluí, no fim das contas, que era de medo, então não demorei para ir atrás do meu amigo e, após retirar ele de uma briga acalorada com Mingyu que provavelmente terminaria em amassos na frente da escola toda, contei para si sobre o inusitado pedido.

Eu não sei nadar «junshua»Onde histórias criam vida. Descubra agora