2. Explodindo o botão de autodestruição

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Ainda naquele fatídico dia, eu estava em meu quarto cercada de papéis.
Jasper não estava brincando quando disse que na pasta havia todo resultado dos anos de tratamento, que poderia ser resumido em desenhos esquisitos e rabiscos.
Em alguns existiam frases ilegíveis.

— Eu era muito esquisita — sussurrava sempre que via alguns rabiscos em formas distorcidas.

Uma coisa que eu precisava me dar o crédito, eu usava três cores para expressar meus sentimentos: azul para feliz, amarelo para triste e vermelho para irritada.
Eram apenas três cores porque para um criança - pelo menos para mim - essas eram mais bonitas, e também porque eu não sabia definir meus sentimentos.
Deitei sobre os papéis que demonstravam minha infância problemática, colocando a pasta verde sobre minha barriga.
Era incrível como aquela pasta tinha poder, e eu a odiava por isso.
O mais frustante em tudo isso era estar fazendo exatamente o que meu psicólogo queria, chegava a ser patético ficar sentada olhando desenhos antigos bizarros.
Onde estava Thea com suas frases de apoio moral? Onde estava minha meia irmã para me ajudar?
Suspirei enquanto ouvia barulhos altos demais para aquele horário da noite, com certeza deveria ser Libby.
Dois minutos depois de silêncio, escutei barulhos no corredor e em seguida a própria Libby surgir pela porta do quarto.

— Tem comida nessa casa? — Jogou seu casaco em cima da sua cama, ao lado da minha.

— Micro-ondas. É lasanha para sua informação — Respondi me sentando na cama.

Era hora de recolher aquela bagunça, não havia privacidade em um quarto compartilhado. Não com Libby.

— Isso são desenhos?

Pulei - literalmente - da cama quando minha irmã começou a pegar alguns desenhos do chão. Parabéns Eva!

— Não é da sua conta é? — Rebati irritada juntando os papéis.

Libby riu enquanto se jogava em sua cama. Não sabia dizer se Libby agia como uma vaca as vezes por ser dois anos mais nova do que eu ou por ser assim naturalmente. Era uma questão difícil para resolver.

— Você realmente sabe desenhar— desdenhou balançando uma folha em frente ao rosto — A cabeça gigante é exatamente do mesmo tamanho que a sua — Riu esticando a folha.

Soltei uma risada forçada enquanto pegava a folha de sua mão. Olhando para o chão foi que percebi a bagunça que havia feito.
Libby passou por mim que continuava juntando os desenhos. Eram muitos desenhos.
O quarto ficou em silêncio e eu podia jurar que ela havia saído para comer a lasanha que eu havia posto no micro-ondas. Foi a tarde inteira assim. A lasanha esperando para ser comida, os desenhos guardados na pasta e eu sozinha em casa.
A risada alta ecoou pelo quarto me assustando. Como estava abaixada recolhendo os papéis, acabei batendo minha cabeça contra o chão e doeu. Doeu muito, maldita Libby!

— Eu não sabia que nessa pasta tinha algo tão interessante — Riu enquanto eu continuava de costas, esfregando o local machucado — Pensei que eram só desenhos.

Libby enlouqueceu.
Foi meu primeiro pensamento antes de lembrar de um detalhe muito importante. Não podia ser, não podia ser!
Virei abruptamente para trás, vendo a desgraçada da minha meia irmã com um caderno pequeno em mãos. O meu caderno " especial".
Não sabia como tinha conseguido levantar tão rápido, apenas me dei conta que estava sufocando Libby com o meu peso quando ela começou gritar.
Rolei para o lado na cama depois de ter arrancado o caderno das mãos dela.

— Você é louca ou o que? Qual seu problema Eva?

Me desliguei do ataque histérico de Libby para focar na capa do caderno.
Excitação tomava conta do meu corpo enquanto eu analisava a capa dura totalmente cheia de glitter dourado.
Me esquivei de um travesseiro enviado por Libby ao mesmo tempo em que a olhava.

( Não ) Se apegaOnde histórias criam vida. Descubra agora