1. Não é o fim

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A primeira coisa que fiz quando acordei foi olhar para o calendário na parede do quarto.
Quarta feira, minha última ida ao psicólogo definitiva.
Aquelas duas palavras rodaram por minha cabeça pelo resto da manhã.
Aquele dia de semana parecia diferente - e era, pelo menos eu achava - e insuportavelmente lento. Não sei se foi a ansiedade para que a consulta chegasse logo ou o meu cérebro que se desligou quando Libby começou a gritar para que eu comesse logo meu cereal.
Tudo se seguiu conforme sempre seguia, a única exceção é que eu não ouvi Libby discutindo com Emily enquanto entrávamos no carro em direção a escola. Para ser sincera acho que estava em êxtase demais para me dar conta que mais uma vez papai estava na delegacia mais cedo do que o horário dele mandava.
Apenas quando o sinal avisando o começo das aulas tocou foi que comecei a processar todas as informações.
Fiquei alguns segundos parada encarando o carro de Emily - minha madrasta - sumir em uma curva enquanto os alunos se moviam em direção as salas.
Sem perder tempo caminhei em direção ao meu destino, tentando chegar o mais depressa possível.
Nos corredores pude ver alguns rostos conhecidos, apenas colegas de classe ou simplesmente alunos que eram o principal foco das fofocas.
Era claramente um formigueiro humano a forma como todos se espalhavam pelos corredores.
Passei por alguns alunos que integravam o grupo do teatro da escola, os ouvindo comentar sobre os ensaios.
Cheguei a sala depois de atravessar o mar de calouros e veteranos eufóricos para os últimos meses antes do fim do ano. E ali sentada no meio da sala encontrei Thea French, minha mais antiga e melhor amiga. Aliás, única amiga.

— Caiu da cama muito cedo não acha?

Thea sorria enquanto puxava a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse. Era ótimo ver alguém como ela logo de manhã, principalmente aquela manhã em questão.

— Tive que me adiantar. Lembra que o baile é daqui a alguns meses? O pessoal do comitê vai arrancar minha cabeça se eu não conseguir um bom orçamento para o som, iluminação, espaço.— balancei a cabeça enquanto tirava meu material da mochila. O segundo sinal tocou — E você, parece meio aérea.

Parei com a mão no zíper enquanto girava a cabeça para olha-la.
Suspirei enquanto ajeitava o corpo na cadeira tentando soar o mais sincera possível.

— Quarta feira.

Foi o bastante para Thea arregalar seus olhos escuros e no momento seguinte ter suas mãos jogadas ao redor do meu ombro.
Gargalhei enquanto suas mãos apertavam meu ombro em um sinal de apoio, era nesses momentos que parava para analisar as pessoas em minha volta.
E ali estava a pequena garota com seu cabelo cheio e cheiroso, acompanhado por uma típica camisa com uma frase de auto estima ou algo parecido.
Encarei a peça do dia, era azul e nela carregava a seguinte frase " assim como as flores florescem, as pessoas mudam."
Soltei uma risada enquanto a abraçava, tendo a certeza que o restante dos alunos nos encaravam.

— Não se preocupe Thea eu estou bem. É a última sessão — Garanti a soltando.

— Tem certeza? Posso ir com você se quiser, sei como essas visitas ao psicólogo deixam você frustada.

Balancei a cabeça enquanto olhava o professor de ciências adentrar a sala.

— Eu vou superar — A olhei encontrando a habitual expressão que ela usava quando se tratava de assuntos sérios — florescer, mudar lembra?

Ela riu dando um tapa em meu dedo que apontava para sua camisa.

— Você realmente vai ficar bem. — Sentenciou voltando sua atenção para a frente.

Sorri sabendo que já havia ganhado aquela discussão, pelo menos por agora.
Me esforcei para prestar atenção no professor que se encaminhava para a frente da sala. Olhei para o relógio pendurado em cima da porta e suspirei sabendo que o dia estava apenas começando.

( Não ) Se apegaOnde histórias criam vida. Descubra agora