Estava na casa de JP, prestes a sairmos para festa, eu estava sentado em sua cadeira esperando e observando ele sair de seu transe.
- A festa é na casa do Luca né? - perguntei tentando o fazer não pensar em Helena.
- Aham. - respondeu ainda não descolando os olhos do espelho.
- JP, se acalma cara, olha você vivia dizendo para ser você mesmo. - falei. - Então.
- E se eu disser algo que ela não goste? - perguntou.
- Oras, mude de assunto, tudo tem uma estratégia. - falei.
- Ok, acho que estou bem. - falou dando um sorriso meio torto para o espelho.
Então peguei meu celular e saímos da casa dele. Fomos de carro com a mãe de JP, pra alguns vai soar meio ridículo, afinal já tínhamos dezenove anos. Mas, eu não sabia dirigir e JP tinha acabado de ser reprovado no teste. A casa de Luca era no Cosme Velho, eu já havia estado lá apenas uma vez. Luca era um cara legal e tal, mas era preocupante a quantidade de bebida alcoólica que ele consumia.
Eu não era muito próximo das pessoas da universidade, tinha Fernando, um dos meus melhores amigos que cursava História Da Arte, Clara, a namorada do Fernando que também cursava e também era amigo do Daniel, um cara baixinho e gordinho com óculos fundo de garrafa. Fora eles, mais ninguém.
Eu, JP, Fernando e Daniel éramos um grupo, típico grupo dos "fracassados" de lá. Quer dizer, eu era o típico "fracassado genial" que não tinha vida social, mas eles não tinham um plano. Eu tinha. Então fazia a vida deles muito mais vívida e emocionante que a minha. Bem, eles não eram os caras mais populares de lá, mas eles não tinham nada para mantê-los na linha.
Eu estava distraído demais para notar que já tínhamos chegado, então senti um cutuco de JP.
- Cara, estamos aqui! - disse um tanto entusiasmado.
- Hum. É. Ok. - falei saindo do carro. - Obrigado Lucia!
- É, obrigado mãe. - falou JP.
- Não bebam muito! Eu não quero cuidar de nenhum zumbis as quatro da manhã! - falou. - Chamem um táxi na volta!
- Ok!- dissemos em uníssono.
E assim, estávamos parados na frente do portão, que estava fechado. Tocamos na campainha pelo menos umas cinco vezes até uma menina loira de cabelos ondulados e olhos castanhos nos atender.
- Oi, desculpa pela demora! - berrou alto. - É que tem muita gente aqui!
- Estamos vendo! - berrei imitando-a.
Ela parecia não ter percebido a brincadeira, então nos convidou para entrar, a casa de Luca tinha uma piscina, que talvez, sem tanta gente dentro fosse maior; não estranhei nada, já tinha visto coisas assim, ainda que fosse algo fresco na minha vida. Senti JP se desacompanhando de mim.
Entrei dentro da casa e fiquei na sala de estar, onde tinha bastante gente, mas ao menos tinha comida e bebida. Estava pegando uma bebida mas senti uma mão me cutucar de leve. Uma pele morena, olhos verdes e cabelo ondulado e cheio tomou conta da minha visão, Helena.
- Caio! - disse. - Oi.
- Oi Helena, sabe onde está o JP? - perguntei, sabendo a resposta.
- Não, desculpe. - disse. - Quer que eu diga algo para ele, ou procure?
- Não, só pra caso você encontrar ele. - falei dando um sorriso torto. - Acho que ele queria falar com você.
Ela olhou para a janela da sala, onde dava para ver JP no jardim. Ele estava conversando com uma garota que enrolava os cabelos loucamente com as pontas do dedo.
- Parece que ele está ocupado, tem certeza de que ele quer conversar comigo?
- Hum. - falei sem resposta. - Acho que você só vai descobrir se tentar.
Ela deu um pequeno sorriso desafiador. Mas de repente ela arregalou os olhos como se estivesse esquecido de algo.
- Na! Foi mal, te esqueci aí atras! - e puxou uma mão, revelando Naomi, a garota o qual eu tinha esbarrado mais cedo. - Este é o Caio, meu amigo.
Ficamos nos olhando por um certo tempo, seus cabelos estavam presos à um coque baixo, estava usando uma jaqueta da NASA, uma blusa com naves espaciais e um sapato com solas grossas e meias com desenhos de constelações. Seu rosto era pálido, lábios grossos e tinha um nariz avermelhado.
Apertei a mão dela, sem graça.
- Bom, eu vou falar com esse JP e depois volto aqui. - disse se virando. - Vocês ficam numa boa né?
Assentimos sem dizer nada.
- Economia. - falei rapidamente, parecendo cuspir as palavras.
- Quê? - perguntou. - Desculpa, não entendi.
- Eu faço economia. - falei enchendo meu copo de bebida nervosamente. - Hum... E você?
Ela deu uma risada.
- Astronomia. - disse apontando para as próprias roupas.
- Ah é claro, como não percebi? - perguntei, mas pra mim mesmo do que para ela.
- Você poderia encher meu copo? - ela perguntou mudando de assunto.
Não falei nada, só enchi e o dei na mão dela.
Ela sorriu.
- Hum... O que te levou a fazer astronomia? - perguntei sem jeito.
- Meu avô era astronômico e eu sempre senti uma conexão com ele. - disse. - E sinto que eu preciso saber mais do que nós sabemos sobre o que há lá fora. É meio ambicioso, eu sei. - pausou.- Desculpa, eu estou tornando isso um pouco pessoal demais. E você? Por que está cursando economia?
- Eu não sei. Eu gosto muito do assunto e adoro matemática. - falei. - Não tem muito um motivo especial.
- Então você só cursou por cursar? Sério? Não tem nada de especial?
- Não muito.
- Pra mim tudo tem um significado. As coisas precisam ter sabe? Eu detesto ter que me perguntar qual é o sentido da vida. Ela precisa ter um né? Se não, o que adianta nós?
- Acho que esse é o sentido dela. Não ter sentido nenhum. - falei.
- Mas você não fica agoniado? O que estamos fazendo? Do que adianta vivermos sem ter algo para significar. - disse. - Eu preciso de um significado para viver.
Ela olhou nos meus olhos e eu nos dela. Ficamos assim por um bom tempo até eu conseguir produzir um som.
- Talvez ele ainda não tenha aparecido.
Tomei um susto ao ver que Helena estava atras de nós, parada, só observando. Ela reproduzia um sorriso com a boca que estava grudada a um canudo.
- Por quê demorou tanto? - perguntou Naomi como se ela estivesse acabado de chegar.
- Ah.... Um amigo do JP disse que ele queria ficar comigo. - falou olhando para baixo. ( Senti que ela estava constrangida para falar isso comigo.) - Achei ele bonitinho. Então, sobre o que estão falando?
- Estávamos debatendo sobre o significado das coisas. - falei dando um gole na bebida.
- Ah, sim. - disse como se já tivesse ouvido o assunto diversas vezes. - Na minha opinião, acho que nós temos traçar nossa vida e acharmos o significado em nós mesmos.
- Mas, e se nunca o acharmos? Ficarmos eternamente o procurando sem ter um motivo. - disse Naomi levantando a mão.
- Talvez você devesse parar de procurar e deixar ele te achar. - completei.
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Contos Terráqueos
Short StoryQuatro contos diferentes e de algum jeito, relacionados um com o outro. Viajaremos sobre as vidas que quatro pessoas diferentes, com histórias diferentes e de alguma forma ligam entre si. Amores, mistérios, felicidade, tristeza; e tudo isso em um "l...