Capítulo Um

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Abrira os olhos.

Bem, não sabia bem se havia aberto os olhos. Por que tudo o que eu conseguia ver era a escuridão, nada mais. Vi-me fitando o teto, tentando me acostumar com a escuridão. Não fui muito bem sucedida, devo dizer. Era como se eu não estivesse ali - seja lá qual fosse o lugar onde estava.

Girei minha cabeça um pouco para o lado, gemendo com o simples movimento de cabeça. Senti uma dor aguda na região lombar e arquejei, amaldiçoando-me por ter me movido. Porém algo havia impedido que o movimento tivesse sido completamente efetuado. Num súbito reflexo, passei a mão e senti um tubo – pelo menos foi o que parecera – ligado ao meu nariz. Ainda assim pudera notar que também havia muitos fios que pareciam sair de mim.

O que era muito estranho.

Eu não recordava de ter vindo parar em um hospital - pelo menos, não por minha livre e espontânea vontade. Na verdade, eu não fazia ideia de nada. Não fazia ideia do real motivo pelo qual eu estaria em uma cama de hospital, com fios e tubos ligados ao meu corpo e a uma máquina que apitava, pelo menos, a cada malditos dois segundos.

Uma sensação estranha se apossou de mim. Medo. Eu sentia medo. Entrei em pânico por não haver ninguém ao meu lado. Nem mesmo a minha mãe, que sempre ficava comigo quando algo me acontecia. Como da última vez que tive uma contusão tentando fazer uma estrela.

Como assim não havia ninguém ali ao meu lado? Onde estavam todos? Sempre tem que ter alguém. Quer dizer, na maioria dos filmes que já assistira sempre havia alguém sentado ao lado super preocupado com a pessoa na cama. Ou no mínimo, cochilando do lado da mesma, repondo as energias por ter passado a noite em claro. Por minha súbita reação de pânico, a máquina ao meu lado começara a apitar de forma ensurdecedora, me deixando ainda mais nervosa. Eu quis gritar, mas ao invés disso, um gemido esganiçado escapou por entre meus lábios. Faltava-me ar, minha garganta estava seca e minha boca tinha gosto ruim. Desesperada por me sentir inútil até para mim mesma naquele momento, chorei. Chorei feito criança com medo do escuro. Como queria que meus pais estivessem ali comigo.

Não demorou muito para um homem que aparentava ter seus trinta e poucos anos, entrar no quarto correndo. Tocou-me no peito para que eu me deitasse novamente e gritou alguém, que logo em seguida apareceu no quarto. Era uma mulher, e trajava um jaleco branco. Segui os movimentos dela com o olhar, e a vi pegar uma seringa numa bandeja que havia ao meu lado, checou se funcionava e o líquido espirrou da seringa.

Tentei saber o que estava acontecendo, ou o que tinha acontecido, onde estavam os meus pais... Mas, antes que eu conseguisse dizer qualquer palavra, uma sensação de torpor tomou conta de mim, a visão embaçando lentamente, até não poder ver mais nada nem ouvir.

— Como vou contar isso a ela? — ouvi assim que meus ouvidos permitiram. Não consegui distinguir de quem pudesse ser a voz, pois sussurrava, e eu me concentrei em apenas escutar.

A única coisa que consegui descobrir era que a voz pertencia a uma garota e não me era estranha. Aliás, era-me muito familiar.

Continuei de olhos fechados. O que eu estava fazendo com os olhos ainda fechados? Forcei-me abrir os olhos, mas minhas pálpebras pareciam estar coladas. Forcei mais uma vez. E mais outra vez. Até que na terceira conseguira abrir. Minha visão estava um pouco embaçada, desfocada. Talvez fosse pelo fato de ter acabado de acordar. Pisquei algumas vezes, pegando foco. Só então consegui ver quem era a pessoa que chorava minutos antes. Sim, que chorava. Ao perceber que eu havia acordado, parou de imediato, secando as lágrimas rapidamente com as costas da mão.

Até parece que adiantou alguma coisa. Eu podia estar de olhos fechados minutos antes, mas eu percebo quando alguém está chorando. Isso não importa agora. O que importa é saber por qual motivo ela estava chorando.

[HIATUS] Conto de FarsasOnde histórias criam vida. Descubra agora