Prólogo

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Planícies secas em Manannan; ano 15.
Os quatro irmãos correm desesperadamente, o sangue seco presente nos ombros desnudos de Aristela a faz parar de súbito e olhar para a irmã e os irmãos, nenhum deles sabiam que a mesma estava ferida e por ser a mais jovem ela tendia a ser a mais protegida pelos irmãos, então rapidamente arrancou um pedaço de sua saia que havia sido a mais bonita do baile e enrolou ao redor do ombro sem ajuda alguma. Correu e avistou os cabelos cor de fogo de sua irmã Belarmina pararem e olhou para os seus olhos que agora possuíam um tom de roxo puro, indicando que a mesma estava bem longe daqui, provavelmente utilizando algum animal de suporte para ver se estavam a salvo.
- Aristela – Orlando seu irmão mais velho falou vindo ao encontro da garota – o que é isto em teu ombro?
Aristela olhou para o irmão nervosa, ela sabia que não poderia e nem deveria mentir para o mesmo.
- Me feri durante a perseguição – falou abaixando a cabeça – e como já havia secado...
- Deixe-me ver – ele falou a interrompendo e rapidamente desfez o nó que ela havia feito, quando o fez, a garota deu uma arfada de dor – está vendo? Quando falo que você é teimosa.
- Eu sei – olhou em seus olhos de modo duro. Orlando poderia ser o mais velho, mas ela não era nenhuma criança, pensava enquanto formulava a sentença para falar para o irmão, que aceitaria de bom grado seus estresses, já tinha 16 anos – mas Orlando estamos fugindo...
Antes de terminar de falar, seu irmão colocou a mão sobre sua boca, a calando e Dionísio e Belarmina se juntaram a eles preparados para a fuga. Os irmãos respiraram fundo se preparando para correr quando aconteceu algo completamente extraordinário que mudou suas vidas para sempre.
Um clarão de luz lilás, rosa e laranja por alguns segundos e depois apareceram 4 pessoas, bem pessoas não era o termo perfeito para descrever, eram 4 divindades que olhavam para os irmãos desesperados com cuidado e afeição.
- Quem.... Quem.... Quem são vocês? – A mais nova finalmente tomou coragem e falou depois dos irmãos passarem um longo tempo em silêncio.
- A pergunta certa seria: quem vocês querem que somos?- a primeira falou e quando a mesma falava parecia que a terra ficava mais cheirosa e milagrosamente mais fértil – Ah doce Aristela, não estás me reconhecendo de tuas preces?
- Minha deusa Aine? – A princesa olhou com espanto e seus irmãos se aproximaram – mas... Mas como? Isso.... Isso.... Isso é impossível.
- Nada é impossível, criança - outra mulher falou e quando ela falou os irmãos juraram ter ouvido o bater das águas em rochas - você mesmo acredita nisso, na verdade vocês todos acreditam nisso - com isso olhou para os quatro irmãos nervosos.
- O que... O que acreditamos? – Belarmina falou pela primeira vez depois de um tempo, ela parecia pálida e seus irmãos não sabiam se era por ter usado demais seu poder ou o medo perante as divindades.
- Todos acreditam em um mundo melhor - a terceira mulher falou olhando para os irmãos - por isso estão fugindo daqueles que procuram seu fim, por isso estão nisso juntos. Como sempre juntos- Os irmãos se olharam, havia lágrimas nos olhos das mulheres. Dionísio o mais impetuoso dos irmãos – se colocou um pouco mais a frente, pronto para proteger os irmãos.
- Nós sempre estamos juntos, isso nunca vai mudar – ele falou de modo protetor.
- Nós sabemos, Dionísio o Impetuoso – a última mulher falou vindo para a frente - – e sabemos que vocês, irmãos Nemain, por isso vocês são agraciados com uma península não muito longe daqui, onde os que lhe perseguem, dividida em quatro reinos - enquanto a mulher falava, as outras três a ouviam – cada um de vocês deve governar os reinos como soberano, na verdade, os moradores da península já os aguardam como a boa nova. Todavia seu caminho até lá será sua provação.
Os irmãos ouviam tudo aquilo sem acreditar, uma alternativa, um local onde serão reis e rainhas, onde todos ficariam vivos e felizes? Aquilo tudo parecia bom demais, os irmãos sabiam que nada vinha de graça, nem mesmo de suas deusas.
- Mas... Mas – Orlando falou visivelmente nervoso – como saberão quem somos? Como chegaremos até lá? E – ele ficou envergonhado a fazer uma pergunta tão direta a alguém tão importante – perdoe-me, mas aprendemos que nada vem de graça, mesmo que seja vossas deusas.
Elas olharam para os irmãos e sorriram, então a primeira que havia começado a falar – a Deusa Aine – falou.
- Vocês são inteligentes, sabem que nada vem puramente com a graça das deusas, temos uma profecia, mas antes saibam que seus filhos serão a primeira geração da península, saibam também que cada uma de nós deverá ser cultuada em cada reino e que nos dias de Yule e Sanhaiam deverá haver a comemoração conjunta de todos os reinos – ela falava calmamente, após falar isso as quatro deusas se uniram, deram as suas mãos e começaram a falar a profecia que os seguiria para sempre.
- Guerra, terror, medo, aflição
Uma nação nascida da insolação
A centésima cria nascerá, filha do calvário e do sol
Em um dia como neve e pó
Chorará seu primeiro pranto
Enquanto isso, em outro recanto
Na nação provida de gelo e frio, nascerá outra cria
Em um dia de Sol e alegria
A centésima nascerá, filho do gelo e da tormenta
E assim sua união dissolverá os momentos de terror e na vida haverá paciência
Dito isso, as deusas olharam para cada um dos irmãos.
- Em cada reino vocês terão uma estação por 10 meses, a contrária será apenas para estabilizar os reinos – a deusa Cliodna falava de modo calmo – por representar fartura, eu serei a Deusa patrona do reino de primavera, que terá a capital em Centúria – os irmãos olharam chocados e maravilhados – Belarmina, pelos seus cabelos vermelhos, temperamento e personalidade, tu serás a minha rainha.
- Sim, minha deusa – a ruiva falou com os olhos marejados e algumas lágrimas caindo de seus olhos.
Outra deusa deu um passo à frente, era Aine, a deusa que Aristela rezava com amor todas as noites.
- Eu, Aine, patrona do solstício de verão escolho tu Aristela – a loira olhou feliz – como minha rainha, teu reino terá capital em Solaris.
A Deusa Morrigan deu um passo a frente.
- Existe aqui dois irmãos igualmente prontos, mas tu Orlando, serás o rei de Inverno, com a capital em Invernia.
O mais velho dos irmãos fez uma reverência profunda em agradecimento – Obrigada por acreditar em mim, minha deusa.
Druantia deu um passo à frente e olhou para um Dionísio perdido.
– Ó meu impetuoso Dionísio, protetor dos teus irmãos, a ti confiarei meu amado reino de outono, minha amada cidade de Seresma.
Dionísio, assim como o irmão mais velho, fez uma profunda referência.
Depois disso, as deusas se foram e os irmãos passaram 16 dias andando em direção a península. Após sua partida, as deusas deixaram um mapa, uma bússola, uma luneta e uma espada mágica para os quatro irmãos. Dionísio segurava a espada, pois era o mais treinado dos irmãos, Aristela segurava a bússula, Orlando o mapa e Belarmina a luneta.
No dia em que os quatro irmãos chegaram, os mesmos foram recebidos com festejos e alegrias, os reinos que a muito tempo não floresciam uma só erva daninha, voltou a sua fertilidade, não só dos campos, mas a magia antes presente nas pessoas voltou a aparecer e assim os quatro reis construíram seus reinos em bases sólidas de honra, felicidade e amor, sempre alertando seus camponeses sobre a profecia.

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