Hécate é uma figura primordial nas camadas mais antigas do inconsciente humano. Sua genealogia nos leva aos princípios dos tempos, como filha de Nyx, a Noite Antiga. (Isso aê, ela não precisou de um "Pai"). Em um nível interior Hécate é a guardiã dos mistérios profundos do inconsciente que acessa a memória do inconsciente coletivo e das forças primitivas que levaram à criação.
Hécate ocupava um lugar muito especial. Embora seja muito pouco citada nos livros de mitologia mais conhecidos, seu culto era amplo e generalizado entre o povo. Para vocês perceberem a importância de Hécate, ela era honrada até mesmo por Zeus, como uma Titânia dos Titãs, ou seja, uma Deusa pré-olímpica... Hécate recebia diversos títulos, como Kratay, e Eurybia, a Deusa Forte, em uma referência aos deuses que originaram o panteão grego.
Tudo isso leva a crer que Hécate é uma Deusa cujo culto já se havia estabelecido antes da própria civilização grega. Uma coisa que bem revela a importância de Hécate foi o decreto de Zeus: cada vez que alguém deitasse uma oferenda na terra sem ofertá-la a nenhum Deus específico, a oferenda era de Hécate, o que significava que Zeus reconhecia que o que estava sobre a Terra era dela, em princípio... Hécate é a Senhora dos Mortos, líder do que se chama em muitas mitologias "A caça selvagem". Esta se constitui de um grupo de fantasmas e animais astrais, corvos, corujas, cachorros que uivam lugubremente, que passa na Terra ao fim de cada dia para recolher as almas dos mortos naquele dia. Ouvir cães uivando a noite é sinal certo da presença de Hécate. Assim como lidera a Caça Selvagem, Hécate conduz as almas dos mortos e também os vivos, nas estradas, aos melhores caminhos, por isso é representada com uma tocha na mão. Ela é a Senhora que Guia, e assim podemos contatá-la. Hécate também preside os nascimentos, por isso é chamada Protiraya, a Senhora dos Portais.
Diferentemente de outras deidades desses panteões, Hécate foi absorvida no panteão clássico grego. Usa uma tocha e um vestido feito das estrelas da noite, cuja luz mostrava o caminho dentro da vasta escuridão das nossas origens e da profundeza de nosso ser interior.
Essa é a Hécate da Wicca, a senhora, a deidade antiga, porém há uma versão "nova" dela por assim dizer, assim que foi absorvida pelo panteão grego surgiu uma nova Hécate, com algumas características da antiga (assim com a Fênix, ela renasceu de si mesma no conceito dos gregos).
Tradições mais recentes fizeram de Hécate filha de Zeus e Hera, reduzindo seu poder aos domínios do mundo subterrâneo (terra dos mortos) e à lua negra. A seguinte lenda era contada para explicar sua descida ao submundo:
*Hécate teria incorrido na ira de sua mãe Hera por ter roubado dela um pote de cosmético para dar a Europa, amante de Zeus. Ela desceu à terra após isso e se escondeu na casa de uma mulher que acabara de dar à luz, o que, de acordo com os costumes da época, a teria tornado impura. Para lavar essa sua marca, as Cabírias a levaram ao rio Aqueronte, do submundo, onde ela permaneceu.
Essa versão é da mitologia mais recente, já bastante deturpada:
*Como Prytania, Invencível Rainha da Morte, Hécate tornou-se guardiã e conquistadora das almas no submundo. Como Deusa da Magia e dos Feitiços, ela manda sonhos proféticos ou pesadelos à humanidade. Sua presença é sentida nos túmulos ou nas cenas de assassinato, onde preside as purificações e expiações. Como sua semelhante Kali, na Índia, Hécate é Sacerdotisa dos funerais, conduzindo seus ritos nos locais de enterros e cremações, assistindo e auxiliando na liberação das almas dos recém mortos.
Por sua natureza ser originariamente misteriosa, mais proeminência foi dada a seus aspectos escuros, embora não fossem os únicos. Os gregos helênicos enfatizaram seus poderes destrutivos às custas de seus poderes criativos, até que Hécate fosse apenas invocada como uma Deusa do submundo, em clandestinos ritos de magia negra, especialmente nas encruzilhadas de 3 estradas.
A natureza profética de Hécate sobreviveu na Noruega e na Suíça, como a Velha, sabia mulher falante, que viajava pelas fazendas e dizia aos moradores dos campos seu futuro. Mas com o advento do domínio patriarcal a Deusa diminui sua influência e grandeza. Os poderes da sábia anciã foram reprimidos e mais tarde emergiram como projeções torturadas e distorcidas do patriarcado, classificadas como bruxaria perigosa e magia negra.
Ela é representada ora com três corpos ora com um corpo e três cabeças, levando sobre a testa uma tiara com a crescente lunar, uma ou duas tochas nas mãos e serpentes enroladas em seu pescoço. Suas três faces simbolizam a virgem, a mãe e a velha senhora. Tendo o poder de olhar para três direções ao mesmo tempo, ela podia ver o destino, o passado que interferia no presente e que poderia prejudicar o futuro. As três faces passaram a simbolizar seu poder sobre o mundo subterrâneo, ajudando à deusa Perséfone a julgar os mortos.
O tríplice poder de Hécate se estendia do inferno, à terra e ao mar. Ela rondava a terra nas noites da lua nova e no mar tinha seus casos de amor. Considerada uma divindade tripla: lunar, infernal e marinha, os marinheiros consideravam-na sua deusa titular e pediam-lhe que lhes assegurasse boas travessias. O próprio Zeus lhe deu o poder de conceder ou negar qualquer desejo aos mortais e aos imortais.
Acreditava-se que ela aparecia nas noites de Lua Nova com sua horrível matilha diante dos viajantes que cruzavam as estradas. Ela era considerada a deusa da magia e da noite em suas vertentes mais terríveis e obscuras. Com seu poder de encantamento, também enviava os terrores noturnos e espectros para atormentar os mortais. Frequentava as encruzilhadas, os cemitérios e locais de crimes e orgias, tornando-se assim a senhora dos ritos e da magia negra. Senhora dos portões entre o mundo dos vivos e o mundo subterrâneo das sombras, Hécate é a condutora de almas e as Lâmpades, ninfas do Subterrâneo, são suas companheiras.
Com Eetes, Hécate gerou a feiticeira Circe - a deusa da noite que se tornou uma famosa feiticeira com imenso poder da alquimia. Segundo a lenda, a filha de Hécate elaborava venenos, poções mágicas e podia transformar os homens em animais. Vivendo em um palácio cheio de artifícios na Ilha Ea ou Eana, no litoral da Itália, Circe se tornou a deusa da Lua Nova ou Lua Negra, sendo relacionada à morte horrenda, à feitiçaria, maldições, vinganças, sonhos precognitivos, magia negra e aos encantamentos que ela preparava em seus grandes caldeirões.