Capítulo 3

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"A vida nem sempre é do jeito que eu esperava. Eu já nem sei se vale a pena." ― Fresno


Já havia se passado três dias no meu novo emprego, três dias que eu simplesmente dava bom dia para Oliver e evitava a minha sala como qualquer pessoa que pudesse fazer isso faria. Eu andava ao redor e conhecia as pessoas, na hora do almoço eu encontrava com Gwen e nos enfiávamos em pequenos lugares que eram chapinhados de gente ― além do cheiro de gordura saturada e pequenas xícaras de café aguado ― e tentava ficar fora de foco já que eu tinha azar como sobrenome e era bem capaz de Oliver me encontrar. De qualquer forma foram três dias que eu apenas trocava olhares rápidos e fui percebendo a mudança nele. No primeiro dia ele era todo sorriso e achou divertido quando percebeu o que eu estava fazendo como se soubesse que eu não poderia fazer isso para sempre e no final do expediente divertidamente me desejou uma boa noite e foi embora. Isso me rendeu alguns minutos sozinha e eu afundei contra minha cadeira pela primeira vez pelo dia inteiro aliviada que chegara ao fim e não sucumbira a nenhum tipo de vexame ou escândalos que estragaria minha carreira ali.

No segundo dia a mesma coisa se passou, mas ele já não tinha aquele sorriso estonteante quando consegui passar toda a manhã com Anna debatendo sobre meus antigos trabalhos e o que poderia ser melhorado quando houvesse grandes empresas para trabalhar em propagandas. Isso me rendeu um almoço consigo e Oliver acabou ficando com Fin. Quando parei na área do café para encher minha caneca ele parecia ter feito a mesma decisão e quase sorriu quando me viu, porém fui muito eficiente em deixar minha caneca pela metade e sair andando ao conversar com uma das mulheres que estava saindo dali. Seu olhar então mudou e ele parecia carrancudo quando me olhava passear ao redor e evitar a nossa sala. O terceiro dia ele não se dignou a me cumprimentar e logo fechou-se contra nossa sala murmurando algo sobre ligações importantes e eu nem mesmo tive o trabalho de arranjar desculpas para evitá-lo quando Anna chamou-me para mostrar o andar debaixo que era usado para os retoques finais e as alas de computação para os sites que nós mantínhamos com as propagandas descobrindo como muitas das coisas que eu via por ai eram feitas.

Hoje era o quarto dia e eu sabia que não tinha desculpas para mais nada, todo o setor me conhecia e depois do e-mail que eu abri em meu apartamento pela noite eu sabia que um novo contrato havia sido fechado e isso me obrigava a ter uma conversa com Oliver para podermos por as ideias em ordem e decidir como abordaríamos o comercial de fraldas da grande companhia que Fin acabara de assinar o contrato. Já virando um costume cheguei cedo e carreguei a minha pequena caixa de donuts com meu café na mão passando rapidamente pelo elevador que estava no subsolo e chegando ao décimo nono andar cumprimentando a recepcionista dali e passando por algumas cabines com pessoas já trabalhando ao redor e cumprimentei antes de abrigar-me pela primeira vez em minha sala.

Estava vazia para o meu alívio também estava acostumada a chegar primeiro, eu tinha uma mania de despertar um pouco antes do sol nascer que era difícil de quebrar isso acabava me fazendo não atrasar-se para o trabalho. Coloquei delicadamente minhas coisas em minha mesa olhando pela primeira vez o nosso espaço e como Oliver já parecia instalado em seu lado do escritório. Como eu estava muito próxima da janela e da vista ele ficava mais dobrado ao lado e sentando descobri como poderia ter a visão completa da sua pessoa trabalhando assim como ele poderia ter da minha.

Merda.

Minha mente começou a planejar ideias de mover minha mesa para um ângulo que nos impedisse de constantemente trocar olhares, sentando em minha cadeira de couro macio e abocanhando um donut com cobertura de morango e meu café cheirando apreciativamente em meu favor enquanto o computador ligava e emitia pequenos bipes que eu não sabia o motivo. Ainda era cedo demais e eu podia notar a leve garoa atingindo a grande parede com sua metade de vidro deixando-me ter uma visão das pessoas caminhando com guarda-chuvas e até mesmo capas de chuvas. Galochas não eram incomuns nesse lado do país quando se é uma das cidades mais chuvosas você aprende que dificilmente terá roupas para usar que sejam propícias para serem apreciadas e não molhadas. Quando o computador ligou respirei fundo empurrando outro pedaço do bolinho cremoso em meus lábios sentindo meu estômago aliviar quando tinha um pouco de comida e não apenas café e trabalhei através dos meus e-mails percebendo pela primeira vez ao reabrir o e-mail de Fin que copiara Anna e Oliver no mesmo. E assim acabei por ter mais contato com Oliver Holland do que desejava ter em toda minha estadia por aqui.

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