Capítulo I - Cairina moschata

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Não sei porque resolvi começar contando essa história. Me dei algumas noite para refletir sobre o assunto e cheguei a algumas possibilidades. Primeiramente, é de longe a mais provável, comecei por essa história pois ela, de certo modo, mostra uma parte de mim que pode ser digna de certa piedade, quem sabe admiração (!?), e que ainda me faz sorrir as vezes em meio a pensamentos de absolvição.

Se me acho uma pecadora? No sentido bíblico da coisa , sem trocadilhos, sim. Sou uma pecadora. Ainda digo mais, segundo Dante estaria condenada ao segundo círculo do inferno, sofrendo e sendo arrastada de um lado para o outro por ventos durante a eternidade. Imagine eu que odeio qualquer coisa que me faça ficar a mais de poucos metros do chão sendo arrebatada as alturas por furacões, dia após dia, década após década, milênio após milênio durante toda a eternidade. Só de pensar já começo a suar frio.Por sorte, ou por azar, não acredito nisso.

Me vejo apenas como uma mulher que ama demais, que ama sem limites, que sente escorrer de cada poro, junto com o suor que empapa meu corpo, amor.

Voltando as possibilidades que me levaram a escolher essa história como a primeira não seria totalmente sincera sem dizer que outra variável me levou a começar por essa história. O sentimento nostálgico que ela me traz.Todos que carregam um punhado de invernos nas costas sabem do que estou falando, Tinha apenas 19 anos e o mundo era minha ostra. Nada me impedia e nada me era negado por mim mesma.

Foi uma época boa de muitas descobertas, grande parte delas internas e reveladoras.

Desejo do fundo do coração que saiba quão gostoso é o sentimento de olhar-se por dentro e ver aquele caos de formas, movimentos e luzes começando a fazer algum sentido, mesmo que na maioria das vezes só consigamos entender essa dança depois da festa já ter acabado. Por sorte ou mero capricho da natureza, algumas poucas vezes tudo fica claro e uma escolha real é feita. Real, pois em verdade só é possível escolher entendendo o âmbito geral das opções, diferente disso prevalece o mero acaso.

Foi a época que primeiramente me vi verdadeiramente como mulher e não mais uma menina. Foi a época que me tornei financeiramente independente e emocionalmente apenas dependente de mim mesma ou pelo menos assim acreditava.Como é deliciosa a arrogância e o vigor da juventude.

Por mais que esteja se perguntando não contarei minha idade, pelo menos não agora e por favor sem machismo, idade para mim é algo delicado, não porque não me dê o direito de envelhecer como mulher, mas porque vejo os anos que se passam como gotas escorrendo de um balde furado, cada dia estou mais perto do fim e percebo que preciso aprender e viver mais coisas, mas o que posso eu uma mera mortal fazer sobre o tempo?.

Gostaria de acreditar em outras vidas, talvez reencarnação. Adoraria, nos meus momentos finais, poder olhar para todas as burradas que fiz na vida e pensar - Tudo bem, na próxima eu tento novamente.

A última possibilidade, que é a que mais me assusta e coincidentemente - será mesmo - é a que mais me faz refletir, escolhi essa lembrança porque o Pato, sim o apelido do sujeito era Pato, não me pergunte de onde surgiu esse apelido ou porque não faço a mínima idéia porém esse era o apelido, ele foi dentro das limitações de tempo que ficamos juntos, alguém que me marcou.

Vi ele evoluir diante dos meus olhos. Transformar-se em outra pessoa. Não sei dizer se a transformação foi duradoura ou benéfica, mas o fato é que o vi mudar. Aquela chama em seus olhos, só de pensar já fico toda arrepiada..

Bom, sem mais delongas a coisa toda começa em uma sexta-feira kármica, chuvas torrenciais, ônibus lotados e toda sorte de coisa que se esconde em um circo dos horrores. Um daqueles dias que sair da cama já faz de você um vencedor. O dia transcorreu como uma verdadeira comédia pastelão daquelas onde a estagiaria novata se ferra de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2017 ⏰

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