Prometida: Até Sua Última Gota [Reescrevendo]

"Capítulo 2."

— Eu te amo.

  É a única coisa que sai entre os lábios do meu pai antes do mesmo fechar a porta de passageiro da picape e acelerar. Tudo aconteceu tão rápido que mal consegui tempo para mover um único músculo, foi rápido o suficiente para que eu não conseguisse responder o mesmo sobre seu gesto carinhoso, porém, também conseguiu ser lento o suficiente para que eu pudesse presenciar seu lábio inferior tremendo, sua voz rouca falhando, seus olhos se desviarem dos meus e começarem a ficar cercados por um oceano de lágrimas.

   Durante todo o trajeto não trocamos uma única palavra, seus olhos se permaneceram focados a todo momento apenas na estrada, ele nem sequer intencionou em dirigir sua visão para outra coisa que não fosse ela. Mesmo o pôr do sol  ou minhas tentativas banais de tentar entrar em algum assunto pareciam insignificante para ele. Eu cheguei a achar que era por causa daquela briga estúpida com o imbecil do Jordan, agora eu me pergunto como pude ser tão cega. Tenho vontade de gritar quando vejo o carro se distanciando cada vez mais, mas apenas não consigo fazer isso.

   Tudo que consigo fazer é sugar o máximo de ar possível para os meus pulmões antes de finalmente me virar, parece estúpido, mas eu sinto minhas pernas falharem por um instante quando analiso freneticamente a casa de estilo tradicional a minha frente. Detalhe por Detalhe, é quase uma necessidade de encontrar algo estranho, fora do comum...absolutamente qualquer coisa.

  Pela primeira vez em nove anos eu estou e volta, e é como se nada tivesse mudado. A cada passo é como se as memórias do meu último dia aqui ficassem mais e mais vividas, agora mais do que nunca. Me lembro perfeitamente de erguer a mão acenando para minha mãe que apenas estava na janela, observando meu pai me colocar no carro antigo dele, enquanto ela não esboçava uma única reação diante toda aquela cena. Em compensação, meu pai estava quase que desesperado, apesar disso, ainda fazia questão de travar um sorriso no rosto banhando de lágrimas e repetir centenas de vezes que tudo iria ficar bem.

— Fala sério! — minha voz soa alta, e é impossível conter o sorriso bobo se espalhando pelo meu rosto. Meus dedos correm pelos riscos gravados na madeira clara das tábuas do segundo degrau da pequena escadinha.

Minha visão não se desgruda das inicias gravadas ali, o sentimento de nostalgia acaba com qualquer outro ruim por alguns segundos.

   E + B. Eliza e Bianca. O rosto gorducho da garota loira e de olhos azuis como o céu preenche minha cabeça por um segundo. Ela era minha melhor amiga quando mais nova, lembro que tínhamos o tipo de amizade que fazia as pessoas questionarem como diabos havia dado tão certo...me pergunto o que ela está fazendo agora, eu nem sei se conseguiria reconhece-la se esbarrasse com a mesma em algum momento.