A única coisa que me impulsionava continuar era o fato de já estar a caminho do hotel, contudo não possuía vontade de prosseguir. Eles já deveriam estar enrolados em meio aos lenções, os ver nessa situação quebrara o meu coração, de uma mulher que almeja a felicidade em seu casamento. Mas se ele me pedisse perdão, se quando eu chegasse naqueles corredores, que devem possuir cheiro da traição que se perdurou por anos distanciando Carlos de mim. Se meu marido quando eu chegasse naquele local, antes de ver aquela mulher com ele, me pedisse perdão naqueles corredores, eu iria esquecer tudo, esqueceria o odor horroroso que deveria esta em minhas narinas, olvidaria da mulher que deveria esta no quarto 124, que eles sempre se hospedam , esqueceria de todas as noites sem dormir e também esqueceria que alguma hora estive a caminho daquele hotel, como me encontro agora atordoada .
Eu engoliria meu orgulho e aceitaria suas desculpas, poderia dizer as minhas filhas que o amor pode sim ultrapassar barreiras, que eu fui diferente da minha mãe, da minha tia, da minha vizinha e que eu consegui ter um casamento solido apesar das peças da vida, que pude me reerguer ainda estando com o pai dos meus bebês, pois ainda o amo e dizer a elas que os homens fazer às vezes besteiras, mas que se eles tiverem verdadeiramente arrependidos poderemos prosseguir em meio aos destroços que causaram nos relacionamentos por causa de uma paixão qualquer.
E agora estou em frente ao hotel Flor do Caribe, um nome tão clichê para uma cidade a beira mar quanto uma mulher traída com medo do que ira acontecer quando entrar, porém, estou decidida, vou entrar e descobrir se o terei de volta ou se vai preferir ficar com aquela imunda, traidora, amiga falsa... Vou à bancada e descubro que um amigo do tempo da escola trabalha como gerente, o convenço a me deixar ir ao quarto sem ser avisada, digo que meu marido queria me fazer uma surpresa e me mandou encontrar com ele no hotel, contudo, queria fazer uma surpresa ainda maior que a dele e chegar antes do horário sem avisar, não sei se foi o meu sorriso de mulher apaixonada que o fez acreditar naquela historia que eu mesmo gostaria que fosse verdade, mas estava disposta a muita coisa para retornar com ele , o problema era saber se ele estava.
Carlos estava hospedado nono andar, as paredes do corredor eram claras, o cheiro do ar era de flor laranjeira e nada daquele ambiente estava hostil e se parecia com que imaginara em meio às ruas que interligavam o centro com esse lugar afastado da cidade. Porém, eu sei que quando chegar à frente daquela porta do canto que a lua ilumina tudo iria mudar, e meu marido não aparece no corredor pra me pedir perdão, não se vê ninguém nesse corredor além de mim, uma mulher triste como qualquer mulher em meu lugar estaria, então me dirijo à porta toda detalhada em branco perola e estremeço em pensar que tenho que ser forte, então abro a porta com a chave que o gerente me deu.
Depois de alguns segundos meu coração dispara, não como na minha primeira vez ou quando segurei minhas filhas logo após seus nascimentos, ele dispara de nojo, raiva e angustia. Descobri o que minha mãe, minha tia e minha vizinha já sabiam, se eles fizeram uma vez nunca vão estar verdadeiramente arrependidos pra reconstruir o que tanto sonhamos, e assim meus olhos ficam cegos de tanta náusea, lá estavam eles deitados em meio a um lençol vermelho, trocando caricias depois do que parece ter sido uma noite agitada e ela pedia que ele falasse o quanto gostava dela, mas uma pergunta fez tudo desabar, Lara, minha ex-amiga perguntou o que ele faria se eu descobrisse e ele respondeu que pediria perdão incondicional, que afirmaria que nunca mais faria isso e que seriamos felizes, mas no final sempre voltaria para aquela mulher, pois é ela que o faz feliz. E assim sai de lá andei pelas ruas cambaleando, pois não tinha condições de dirigir, ainda tinha uma família para criar e não podia desperdiçar o amor delas por causa de algum acidente do transito, eu sentia raiva, muita raiva e eles não me viram estavam embriagados naquela bolha de adulterio, meu marido não me pediu perdão e depois do que escutei não vou aceitar mais, pois descobri o que minha mãe, minha tia e minha vizinha já sabem, podíamos aceitar caladas, poderíamos continuar sabendo que eles estão quase toda noite no braço de outras, mas nunca vamos querer que nossas filhas sofram isso e pra isso devemos mostrar que apesar de amarmos aqueles homens temos que nos amar, temos que passar o exemplo para elas que podemos nos virar sozinhas e assim vou andando pelas ruas embebida de pensamentos .
De tanto andar acabei chegando à pracinha da minha infância, ela tem diversas flores, de todas as cores e tamanhos, se dispunha ao meio da praça brinquedos como via em minhas memórias. E assim lembrei-me de quando machuquei o joelho em um daqueles balanços e meu pai foi correndo cuidar de mim e disse "Linda, minha filha, vou estar sempre cuidando de você, te desejo o melhor desse mundo e que nada acontecera de ruim contigo", porém, ele mentia da mesma forma que meu marido mentia pras minhas filhas, da mesma forma que minhas primas foram enganadas pelo pai delas. Eles não podem prometer que cuidariam de nos quando faziam esse mal as mulheres que prometeram amar e respeitar ate o final das vidas. E agora estou aqui sentada em um balanço sentindo as lagrimas se arrastarem pela minha face, sentindo o sol começar a aparecer e banhar minha pele com um pouco de alivio por saber que posso recomeçar deixando Carlos pra trás e focar nas minhas filhas, não acredito que ira ser fácil, mas será mais fácil que a cena que presenciei.
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Diário da minha mãe
ChickLit"...Isso mesmo que estão pensando eu encontrei o diário da minha mãe, não sei se é certo eu ler ele ou não, mas ela esta morta e quando eu li uma frase daquele caderno senti como se nunca tivesse conhecido todas as faces dela..."